A descrição da criação na
Bíblia, especialmente no livro do Gênesis, levanta questões sobre como
interpretá-la: como ciência, fábula ou revelação divina?
Não científica na forma: A descrição da criação no
Gênesis não segue os padrões da linguagem científica contemporânea. Isso é
compreensível, pois a utilização de terminologia científica do século XX seria
incompreensível para os leitores de séculos passados e até mesmo para muitos
leitores atuais sem uma preparação científica adequada.
Científica na substância?: Embora não seja científica
na forma, a questão permanece se a descrição do Gênesis é científica em seu
conteúdo. Aqui, houve conflitos entre conclusões prematuras da ciência e
supostas deduções científicas da Escritura. No entanto, estudos posteriores
mostraram que muitas dessas conclusões científicas eram inválidas ou mal
interpretadas.
Não uma fábula: Não é fácil considerar a
narrativa do Gênesis como uma fábula no sentido popular (puramente imaginária)
ou clássico (uma exposição simbólica). A descrição dos eventos é apresentada de
forma simples, mas expressiva, permitindo uma compreensão acessível para todas
as épocas.
Revelação divina: O primeiro capítulo do
Gênesis é considerado uma revelação divina. Essa revelação é anterior a Moisés
e não deve ser vista como uma versão das tradições politeístas dos fenícios ou
babilônicos. A obra criadora de Deus só poderia ser revelada por Deus, e essa
revelação é considerada perfeita e inviolável nos cinco livros de Moisés.
Interpretação dos dias da semana como divisões do tempo: Os defensores da TGC argumentam que
os dias da criação não devem ser entendidos literalmente, mas sim como divisões
simbólicas do tempo, assim como anos e eras. O objetivo principal do texto é
afirmar a origem divina da criação, não descrever detalhadamente o processo
temporal.
Compatibilidade com a ordem científica da criação: Ao interpretar os dias como fases
prolongadas, os teóricos da TGC afirmam que o relato do Gênesis está de acordo
com a ordem em que o mundo foi criado, conforme entendido pela ciência. Esta
interpretação permite que o relato bíblico seja visto como uma afirmação de fé
sobre quem criou o mundo, em vez de um relato científico preciso.
O tempo na Bíblia como tempo lógico, não cronológico: A TGC argumenta que o tempo
mencionado no Gênesis é mais uma representação lógica do que uma contagem
cronológica literal. Os dias e noites são entendidos como formas literárias que
facilitam a compreensão do processo criativo divino.
Interpretação das fases da criação: Os defensores da TGC dividem as
ações divinas em fases que correspondem aos dias da criação. Por exemplo, a
separação da luz e das trevas no quarto dia é interpretada como a formação do
sistema solar e dos corpos celestes. Essa abordagem permite uma interpretação
mais flexível e simbólica do relato da criação.
A criação do homem como culminância da obra divina: Na sexta fase, Deus cria o homem
como a culminância de sua obra criativa. Isso não é visto como um processo de
evolução natural, mas como uma ação direta de Deus, destacando a importância e
o propósito especial da humanidade na criação.
A Teoria da Lacuna, proposta por alguns comentaristas, sugere
que entre os versículos 1 e 2 do Gênesis houve uma grande catástrofe que
destruiu a criação original de Deus. Segundo essa teoria, o verso 1 descreve a
criação inicial do universo por Deus, enquanto o verso 2 descreve o estado
arruinado desse universo após a catástrofe, e os versículos seguintes descrevem
a reconstituição desse universo por Deus. No entanto, essa teoria é contestada
por argumentos linguísticos e não tem base sólida, sendo desmentida até mesmo
pela geologia.
Por outro lado, a exposição bíblica da criação utiliza
duas palavras hebraicas principais para descrever a ação criadora de Deus:
"bara" (criar) e "asah" (fazer). A palavra "bara"
é usada especialmente nos versículos que enfatizam o início de todos os seres
em geral, dos seres animados e dos seres espirituais. Seu significado exato é
difícil de determinar, mas implica a ideia de trazer à existência algo
inteiramente novo, sem usar materiais preexistentes. Já a palavra
"asah" é mais ampla e pode ser usada para indicar a produção de algo
a partir de materiais preexistentes.
No versículo 1, a ideia de "criação" exclui
a existência de materiais preexistentes, implicando que as coisas foram
produzidas "do nada". Nos versículos 21 e 27, no entanto, não há
restrição quanto ao uso de materiais preexistentes. O importante é destacar que
a palavra "bara" sugere a produção de algo completamente novo que
antes não existia, independentemente do uso de materiais preexistentes.
A narrativa da criação no Livro do Gênesis é rica em simbolismo e profundidade
espiritual, não devendo ser interpretada de forma estritamente literal. Os
"dias" da criação podem ser entendidos de várias maneiras, desde dias
literais de 24 horas até períodos de tempo mais amplos. Alguns argumentam que
os dias da criação representam idades geológicas, enquanto outros sugerem que
são uma representação dramática dos eventos. A interpretação espiritual e
religiosa da narrativa destaca a relação entre Deus e Suas criaturas,
ressaltando a primazia do homem na criação.
O texto bíblico enfatiza a ação criadora de Deus, que é
descrita como uma atividade planejada e ordenada. Deus cria a luz, separa as
águas, forma o firmamento, separa a terra seca das águas, cria a vegetação,
estabelece os luzeiros celestes, cria os animais marinhos e os pássaros, e
finalmente cria o homem à Sua imagem e semelhança. Em cada etapa, Deus declara
que Sua obra é boa, destacando Sua soberania sobre toda a criação.
A expressão "No princípio, Deus criou" enfatiza a origem divina de todas as
coisas e a soberania de Deus sobre o universo. O relato da criação destaca a
bondade intrínseca da criação de Deus e Sua preocupação com a ordem e o
propósito de Sua obra. A descrição poética dos "dias" da criação
ressalta a harmonia e a beleza da obra divina, enquanto a ênfase na tarde e na
manhã sugere a ideia de ordem e progressão na criação.
No geral, a narrativa da criação no Livro do Gênesis é um testemunho da grandeza e da
bondade de Deus como Criador e Senhor do universo. Ela convida os leitores a
contemplarem a beleza e a maravilha da criação divina e a reconhecerem a
soberania de Deus sobre todas as coisas.
A revelação de Deus na Bíblia é descrita como a revelação de um
ser infinito, eterno e auto-existente, que é a causa primária de tudo o que
existe. Deus é apresentado como um ser pessoal que criou o homem à Sua imagem e
semelhança, capacitando-o a comunicar-se e a ter comunhão com Ele. Ele é também
descrito como um ser moral que criou todas as coisas boas e sem pecado. A
entrada do pecado na humanidade ocorreu quando Eva foi tentada pela serpente,
introduzindo o pecado no mundo.
Deus criou todas as coisas nos céus e na terra, trazendo ordem e forma ao universo a partir de um estado inicial de caos e escuridão. Ele utilizou o poder de Sua palavra para trazer à existência o que antes não existia, falando e fazendo com que os céus e a terra existissem. A Trindade divina desempenhou um papel ativo na obra da criação: o Filho é descrito como a Palavra de Deus, por meio de quem todas as coisas foram feitas; o Espírito Santo é representado como pairando sobre a criação, preservando-a e sustentando-a.
A narrativa da criação destaca a soberania de Deus sobre toda
a criação, Sua bondade intrínseca na obra da criação e Sua preocupação com o
propósito e a ordem da criação. O relato da criação convida os leitores a
contemplarem a grandeza e a beleza da obra divina e a reconhecerem a soberania
de Deus sobre todas as coisas.
O propósito da criação, conforme expresso na Bíblia, é
manifestar a glória, a majestade e o poder de Deus. Os céus e a terra,
juntamente com todas as suas maravilhas e belezas, são testemunhos da grandeza
divina. Ao contemplar a vastidão do universo e a complexidade da natureza,
somos levados a reconhecer a grandiosidade do Criador.
Além disso, a criação é projetada para trazer glória e honra
a Deus. Cada elemento da natureza, desde o sol e a lua até os animais e as
plantas, é um testemunho da grandeza e da bondade de Deus, e todos eles louvam
e glorificam o seu Criador. A criação está destinada a refletir a glória de
Deus e a inspirar os seres humanos a renderem-lhe louvor e adoração.
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