Por que se dissermos que
não cometemos pecado, somos mentirosos.
Costumo ouvir frequentemente: quem de nós não comete pecado
diariamente! Cita-se o texto da primeira carta de João, capítulo 1, versículo
10. Outros, baseados nessa mesma referência, costumam dizer quando têm
oportunidade no púlpito expressões como estas: Eu peco todos os dias, perdi a
conta hoje. E citam o texto: Se dissermos que não pecamos, somos mentirosos.
Outros afirmam: Nós pecamos com a boca diariamente, com os ouvidos, com os
olhos. Novamente, baseiam-se no texto. Se existe um santarrão aqui. Pois eu não
sou; peco todos os dias. Porque se dissermos que não cometemos pecado, somos
mentirosos.
Recentemente, uma pessoa relatou que fez uma visita a uma
determinada família que estava sem caminhar para a igreja. E contou um pouco da
sua história. Afirmou mesmo: este homem saiu do ministério e fundou um para
ele; infelizmente, a sua esposa deixou ele por outra mulher, ele passou a ter
caso com homens e agora tinha sido operado de próstata, estava com uma ferida
imensa na perna. Ele pediu para que esse indivíduo voltasse a caminhar e
pedisse perdão a Deus. E ele mediamente indagou dizendo: Eu sou crente, quem é
você para me julgar. Estamos vivendo em uma geração que já se acostumou com o
pecado. E usa esses trechos para sustentar seu erro.
Outro se ausentou da esposa por motivo de trabalho e estava
com aproximadamente um mês. Já estava tendo caso com uma mulher que não era
sua. E alguns amigos na empresa o apontaram, por ele ser um crente. Ele indagou
dizendo: Davi era segundo o coração de Deus e pecou. Somos carne, quem é que
não peca! A bíblia diz: que se dissermos que não pecamos, somos mentirosos. Em
primeiro Coríntios 6.12 NTLH está escrito: ―”Alguém vai dizer: ―Eu posso
fazer tudo o que quero. Pode, sim, mas nem tudo é bom para você. Eu poderia
dizer: ―Posso fazer qualquer coisa. Mas não vou deixar que nada me escravize”.
“Devemos viver: ... de tal maneira que não prejudiquem os judeus, nem os
não-judeus, nem a Igreja de Deus” (1Co 10.32 NTLH). Romanos 14.16 NTLH: ―”Não
deem motivo para os outros falarem mal daquilo que vocês acham bom”.
Teve um que chegou até mim e disse: se fulano, que é um
pregador famoso, pecou... Passou-se o tempo e esse jovem casou na igreja e,
após dois anos, deixou a moça. Passou a gostar de uma mulher casada; ela deixou
o marido e foi viver com ele. Eles se divorciaram e casaram novamente, sendo
que quem realizou seu casamento foi o mesmo pastor que fez seu primeiro
casamento. São pessoas que se dizem crentes, mas são piores que os ímpios (1 Co
5.1; 11.30). Hebreus 12.16 NTLH: ―”E tomem cuidado também para que ninguém
se torne imoral ou perca o respeito pelas coisas sagradas, como Esaú, que,
devido a um prato de comida, vendeu os seus direitos de filho mais velho”.
São esses e outros absurdos que temos ouvido em nosso meio cristão. A desculpa
é dizer que a bíblia diz que pecamos. Vamos esclarecer este texto, que tanto
usam para argumentar seus erros.
”Se dissermos que não temos cometido pecado” (1 Jo
1.10 ARA), isso sim; É, bíblico. ”Se disser-mos que não temos pecado nenhum,
a nós mesmos nos enganamos, e a verdade não está em nós. Somos mentirosos”.
(1 Jo 1.8 ARA).
Vamos agora analisar os capítulos 1 e 2 da primeira epístola
de João. Pode ser um tanto polêmico para alguns, para aqueles que não querem
aceitar que precisam andar em novidade de vida. Analisando o que se entende
desse livro de João 1.8-10; 2.1; 3.6,9; 5.16. João 1.8,9 (ARC): ―”Se dissermos
que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e não há verdade em nós. Se
confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo, para nos perdoar os
pecados, e nos purificar de toda a injustiça”. Relator EETAD (2021, p.106):
―Mostramos no Texto anterior que ―pecado, no singular, citado no versículo 8, é
uma referência direta à natureza decaída do homem, de onde provêm todos os
―pecados, no plural, citado no versículo 9. É evidente, portanto, que o crente
possui duas naturezas: a pecaminosa, propensa ao pecado, e a divina.
Conforme O INTERLINEAR GREGO DO NT. CPAD, p.881, do jeito que
está escrito no original, sem nenhum acréscimo.
Έάν εΐπωμεν:
δτι ούχ ήμαρτήκαμεν,
Se dissermos
que não temos pecado.
Eƒm e·pylem
Åti d˜m žlaqtŸsalem, Grego moderno
Eam eipylem
oti dem glaqtgsalem grego antigo
A maior
confusão está aqui neste trecho, ao traduzir: ―Se dissermos que não pecamos‖.
Versões ARC1, DO, ARF, NTLH - não temos cometido pecados,
KJA - não
temos cometido pecado,
NVI - não
temos cometido pecado.
TB - não
temos cometido pecado
HCSB60 - Se
dizemos: ―Nós não temos nenhum pecado‖.
BSB61 - Se
dissermos: nós não pecamos,
VCC62 - Se
dizemos que nunca pecamos,
Todos nós temos o pecado herdado por Adão em Romanos, diz ―”o
pecado que habita em mim” (7.20). ―”Eis que em iniquidade fui formado, e
em pecado me concebeu minha mãe”(Sl 51.5). "...o meu pecado está
sempre diante de mim" (Sl 51.3). Romanos 5.12: ―”Pelo que, como por
um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte
passou a todos os homens, por isso que todos pecaram”. Todos nós temos
pecado. Só não podemos permanecer pecando, como diz na versão ARC: ―que não
pecamos‖. Estamos sujeitos a pecar. ―Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo,
para que não pequeis [...]‖ Observe "Não pequeis", na NVI, NVT,
"para que não pequem." "Se, todavia, alguém
pecar, [...]", "se" é uma conjunção condicional
(substituível por "caso"), por isso a tradução não está
correta de 1 João 1.10 como: ―”que não pecamos”. "se" é uma
conjunção condicional (substituível por "caso"). Não está escrito: ―”quando
pecares”, é se pecar. Estamos sujeitos a pecar... O motivo pelo qual
Paulo disse: ―”Ora, se eu faço o que não quero, já o não faço eu, mas o
pecado que habita em mim” (Rm 7.20 ARC). O motivo deste dilema de Paulo e
muitas vezes o nosso está no fato de que, se ainda somos dominados por
pensamentos abomináveis e uma sensação de que não temos o controle sobre atos
pecaminosos, a carne ainda é quem dita as regras em nosso ser. Romanos 6.13: ―”Nem
ofereçais cada um os membros do seu corpo ao pecado, como instrumentos de
iniqüidade; mas oferecei-vos a Deus, como ressurretos dentre os mortos, e os
vossos membros, a Deus, como instrumentos de justiça”. A Bíblia não
menciona os crentes como pecadores, mas como santos. Como salientou o Pr.
Elizeu Rodrigues: ―O que é para ser normal na igreja, não é pecado, é
santidade [...] para o ímpio é normal pecar, porque é a natureza dele, mas
para os crentes, quando pecam, os ímpios se assustam, porque não é normal o
crente errar. Leonardo comentou este assunto da seguinte maneira: ―”Uma
coisa é não pecar ou é viver no pecado”. O propósito do autor João não é
dizer que o cristão não peca mais (1 Jo 5.16), é dizer que o cristão não é
escravo do pecado, é bem diferente. De acordo com Romanos 6.6, não vivemos na
prática do pecado, agora é um pecador porque temos uma natureza pecaminosa
dentro de nós, conforme o salmo 51 em diante. E, porque vivemos longe de Deus.
John Wesley acreditava que o homem poderia alcançar a
perfeição. Já Maxfield, discordava dessa ideia; ele não acreditava que o ser
humano seria capaz de alcançar, nesta vida, a perfeição, isto é, sem pecar
(HEITZENRATER, p. 210). Os Calvinistas, por sua vez, acreditam que uma vez
salvo, é salvo para sempre; isto é, quem for predestinado a ser salvo não perde
a salvação. Eles não creem que o crente alcance a perfeição em vida.
Voltando ao texto de 1 João 1.10 na versão ARC, podemos
entender que não conseguiremos deixar de pecar (este é o único trecho nas
escrituras que afirma "se dissermos que não pecamos").
Embora nos versos 1.8, 2.1, 3.6, 9, 5.18, o sentido seja o inverso deste trecho
na ARC, ainda assim podemos ver que não está correto alegar "se
dissermos que não pecamos". Quando examinamos todo o Novo
Testamento, tanto Jesus como Paulo nos incentivam a não pecar. Se eles nos
ensinam a ter uma vida mudada, santificada, por que então acharmos que pecamos
diariamente? Sem santidade jamais veremos a Deus (Hb 12.14).
Sabemos que estamos sujeitos a pecar, mas não podemos nos
conformar em ser pecadores. Paulo, em Gálatas 5.16-23, nos ensina a andar em
Espírito, e no verso 24 ele conclui dizendo: "As pessoas que pertencem
a Cristo Jesus crucificaram a natureza humana delas, junto com todas as paixões
e desejos dessa natureza" (NTLH). Em Romanos 8.9, é mencionado que
quando o Espírito vive verdadeiramente no crente, as possibilidades de pecar
são mínimas. Em 1 Coríntios 10.13, é assegurado que Deus não permitirá que
sejamos tentados além das nossas forças, e nos proverá um escape para suportar
a tentação.
Podemos alcançar uma perfeição, isto é, as pessoas maduras
erram menos. "E assim seremos pessoas maduras e alcançaremos a altura
espiritual de Cristo" (Ef 4.13 NTLH). O contexto indica que deixaremos
de ser crianças espirituais. O problema de Wesley era que, embora alcançassem e
permanecessem sem pecar por anos, estamos em uma guerra espiritual, e enquanto
nela estivermos, não estamos livres das ciladas do inimigo; podemos ser
feridos. O diabo não descansará; ele fará de tudo para nos fazer pecar.
Precisamos correr a carreira, não para ganhar uma coroa de folhas, mas de
glória (Filipenses 3.12).
Porém, muitos entendem que quem alcança Deus, Ele o chama
para a glória, ou entendem que só alcançaremos isso quando chegarmos ao céu.
Muitos Wesleyanos acreditam que é possível alcançar essa perfeição ainda em
vida, e que as pessoas que alcançam se dedicam totalmente a ganhar almas para
Cristo.
Espero que o leitor cristão entenda que nesta vida devemos
fazer de tudo para pecar menos, e não aceitar que o texto de João, em algumas
versões, traduz como se pecássemos constantemente, relaxando. Já mencionei que
a tradução não está correta; aos poucos, os tradutores estão corrigindo esses
pequenos erros. Como exemplo, o trecho em João 14.3 na ARC, "E, se eu for
e vos preparar lugar...", foi corrigido na ARA para: "E, quando eu
for e vos preparar lugar...". Há muitos trechos na versão ARC que precisam
ser corrigidos. Somos pecadores justificados, isto é, não vivemos mais na
prática do pecado; temos o pecado por natureza. Não podemos alegar plenamente
que pecamos todos os dias, até que percamos a conta. Quando aceitamos a Cristo,
vamos mudar; se pecávamos 100, agora pecamos 90, 80, 50, e se por acaso, 10%.
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