TODOS OS SERES HUMANOS FORAM CONSIDERADOS PECADORES

 O estudo do pecado deve vir antes do estudo da graça salvadora de Deus (cf. I Jo I.8; 2.2). A Epístola aos Romanos destaca que uma das principais finalidades da Lei é revelar a gravidade do pecado (7.8,13b), pois é ao tomarmos consciência disso que passamos a apreciar a graça de Deus em toda a sua plenitude: “Veio, porém, a lei para que a ofensa abundasse; mas, onde o pecado abundou, superabundou a graça” (5.20).

Introdução à doutrina do pecado.

O veredicto divino é claro: “Todos pecaram” (Rm 3.23). A Palavra de Deus diz: “Não há um justo, nem um sequer” (Rm 3.10); “... não há homem que não peque” (I Rs 8.46).

Segundo a reta justiça do Senhor, todos os seres humanos foram considerados pecadores: “A Escritura encerrou tudo debaixo do pecado” (G1 3.22). E ainda: “Deus encerrou a todos debaixo da desobediência” (Rm II.32). Mas, antes de atingir a todos os homens, mediante a desobediência de Adão, o pecado teve origem no mundo espiritual, na corte angelical (Is 14.12-17; Ez 28.15).

No humano, o pecado está enraizado na alma, influenciando a sua vontade e manifestando-se através do corpo humano. O homem não peca primariamente por cometer pecados, mas comete pecados porque é pecador. Em outras palavras, cada indivíduo possui uma natureza pecaminosa. Por esse motivo, de acordo com a tradição em Israel, quando uma mulher dava à luz, era necessário apresentar uma oferta a Deus como forma de expiação pelo pecado (Lv 12.6; Lc 2.24).

Desta forma, da mesma maneira que o pecado entrou no mundo através de um homem, e a morte através do pecado, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram (Rm 5.12). Definição de pecado. Pecado é a causa da perdição do homem. Uma das palavras que significa "pecado" (gr. hamartia) denota tudo aquilo que não está de acordo com a lei divina; não se alinha com ela (Rm 5.20; I Jo 3.4a; 5.17b).

A Bíblia menciona 372 formas de pecado, e existem muitas outras que não são mencionadas nas Escrituras. Na lista das obras da carne, é dito no final: "e coisas semelhantes a estas, sobre as quais vos declaro (...) que os que praticam tais coisas não herdarão o Reino de Deus" (Gálatas 5.21).

O termo "transgressão" (hb. pesha‘ e gr. kamartema) refere-se à violação das leis divinas; indica ultrapassar a fronteira da lei, do bem, da ordem, da decência: "Aquele que esconde as suas transgressões nunca terá sucesso..." (Pv 28.13).

Outra forma de designar o pecado é "iniqüidade", ou seja, estar fora do alinhamento; desviado; fora do padrão; erro; afastar-se do correto; errar o alvo - hb. hatta't (Ez 18.20). O termo iniqüidade está relacionado principalmente ao pecado do crente. No Novo Testamento, a palavra correspondente é hamartano (Rm 3.23).

No Novo Testamento, a palavra equivalente é "hamartano". (Rm 3.23). Neste versículo, “pecaram” é literalmente “erraram o alvo”. E este erro pode ser de natureza moral (2 Pe 2.18) ou na doutrina (I Jo 4.6b). Doutrina e moral devem estar alinhadas!

Por outro lado, o termo “pecado”, como está registrado em Romanos 5.12 ("por um homem entrou o pecado [errar o alvo] no mundo"), refere-se ao desvio do alvo traçado por Deus, que é a Sua glorificação. Assim, o pecado acontece quando o ser humano erra o alvo ao afastar-se do propósito verdadeiro, que é a glória de Deus (Rm 3.23).

O ser humano foi originalmente criado por Deus para viver em harmonia com a esfera divina, no entanto, ao cometer pecado, a sua natureza foi alterada e a sua tendência natural é apenas para pecar, mesmo que não pareça evidente. Pecar, portanto, é o ser humano desviar-se do seu propósito moral, que é exaltar a Deus e somente a Ele.

Outros quatro termos que expressam os principais significados de "pecado" na Bíblia são: "desobediência", rebelião, falta de vontade para com Deus e a sua lei; "incredulidade", falta de confiança em Deus e dependência dEle; "ilegalidade", subversão, oposição à lei e à ordem divinas; e "erro", afastamento das normas divinas estabelecidas.

A lei da reprodução de acordo com a sua própria espécie está claramente evidenciada em Gênesis, onde vemos essa lei em ação nas plantas (1.11,12), nos animais (1.24,25) e no ser humano, após o pecado (5.3). O homem foi criado à imagem de Deus (1.26), e não à sua própria semelhança! Portanto, nascemos espiritualmente contaminados (Rm 5.12), como afirmou o salmista: "Eis que em iniqüidade fui formado, e em pecado me concebeu a minha mãe" (SI 51.5). O homem possui uma natureza pecaminosa. Por isso, todos nós precisamos participar da natureza divina, através da conversão (2 Pe 1.4).

Os nossos pais segundo a carne costumavam corrigir-nos de acordo com a sua vontade, mas Deus Pai, para nosso benefício, permite-nos participar da sua santidade por um curto período de tempo (Hb 12.10).

O "homem natural" e o pecado. A Palavra de Deus utiliza a expressão "homem natural" (I Co 2.14) para se referir ao estado do homem que ainda não foi alcançado pela graça de Deus. Ele está debaixo do pecado, espiritualmente morto, condenado e perdido.

Não existe uma pessoa justa. Conforme vimos, a declaração de Deus é clara: "Não há uma pessoa justa; nem uma sequer". É importante que aqueles que estudam este assunto leiam todo o capítulo 9 de Romanos, especialmente os versículos 9-26, que tratam especificamente desta verdade de que não há uma pessoa justa sequer. Todos os seres humanos nascem pecadores.

Para que o homem pudesse ser considerado justo perante Deus por mérito próprio, seria necessário que nunca cometesse o mal e jamais desobedecesse às leis divinas. Além disso, seria preciso que sempre praticasse o bem, conforme está escrito em Eclesiastes 7.20: "Que faça o bem e nunca peque". Existem pessoas que, em comparação, pecam menos, mas nem sempre estão comprometidas em praticar o bem.

A definição divina do pecado é fundamental, e está contida em passagens como 1 João 3.4 e 5.17. O termo "hamartema" significa errar o alvo, desviar-se do caminho, perder-se (I Jo 3.4a; 5.17b). Já a palavra "anomia", presente em 3.4b, implica transgressão, desordem, rebeldia, subversão. Outro termo nessas passagens é "adikia" (5.17a), que significa injustiça.

No Salmo 41.4, o pecado é descrito como uma doença espiritual que afeta a alma: "cura a minha alma, pois pequei contra ti". Em 1 Pedro 2.24, na expressão "fostes sarados", o significado é o mesmo, à luz do contexto. Essa conotação também pode ser encontrada em outros textos:

"Nenhum habitante dirá: Estou doente; porque o povo que nela habita será perdoado da sua iniqüidade" (Is 33.24).

"Por que seriam castigados ainda mais, se continuassem em rebelião? Toda a cabeça está doente e todo o coração está fraco. Desde a planta do pé até à cabeça não há nada saudável; só feridas, inchaços e chagas abertas, não tratadas, nem ligadas, nem amolecidas com óleo" (Is 1.5,6).

A tradução literal da passagem acima é: “Vê; a tua fé te curou”. O termo grego aqui é sozo, que significa "curar", "salvar" ou "livrar" (cf. Lc 7.50; Mt 9.22).

A origem do pecado. No livro de Ezequiel 28.15,16, a Palavra de Deus revela a origem do pecado:

Eras perfeito nos teus caminhos desde o dia em que foste criado, até que se achou iniqüidade em ti. Na multiplicação do teu comércio, se encheu o teu interior de violência, e pecaste; por isso te lançarei, profanado, fora do monte de Deus e te farei perecer, ó querubim protetor, entre pedras afogueadas”.

Esta descrição, ainda que de modo conotativo, relaciona-se a Satanás e sua rebelião contra Deus.

O pecado é algo que afeta a todos. Em Romanos 3.23, vemos que o pecado é universal: “Porque todos pecaram e estão separados da glória de Deus”. Aqui e em outras passagens semelhantes, fica claro que toda a humanidade, sem exceção, foi atingida pelo pecado.

A existência do pecado é uma realidade inegável. Mesmo que muitos tentem ignorá-lo, temos que considerar os testemunhos esmagadores da realidade do pecado na Bíblia (Hb 12.1; Sl 51.5), na História, na consciência e no dia-a-dia. Perguntemos a Adão após a sua queda, a Davi, a Jesus. Todos confirmarão que o pecado é uma realidade.

Provas da existência do pecado são tão convincentes que é absurdo negá-lo; é tolice; é loucura. Algumas dessas provas incluem: cada hospital; cada casa funerária; cada cemitério; cada fechadura de porta; cada cofre de banco; cada alarme contra ladrão; cada polícia, guarda, soldado; cada tribunal; cada prisão; cada dor, doença, deficiência, morte, tristeza, choro, guerra.

O pecado e suas raízes. A Palavra de Deus menciona a incredulidade como a origem do pecado (Jo 16.9; Hb 3.12) e também o egoísmo, ou seja, a adoração ao "eu", à personalidade (Ez 28.7; Is 14.13,14; Rm 1.25). O egoísmo é uma forma de rebelião contra a vontade e a lei de Deus; também existe o egotismo, a idolatria do homem por si mesmo.

O pecado como ação. Vamos agora examinar, à luz da Palavra de Deus, os detalhes internos do pecado. É importante distinguir entre o ato e o estado pecaminoso. A Bíblia apresenta o pecado como uma ação nossa, perpetrada por natureza e escolha deliberada: Mas cada um é tentado, quando é atraído e seduzido pela sua própria concupiscência.

Depois, a concupiscência, quando concebida, dá à luz o pecado; e o pecado, quando consumado, gera a morte (Tg 1.14,15).

De acordo com a Bíblia, o pecador não consegue escolher o bem; ele sempre opta pelo mal. O filho pródigo fez uma má escolha; ele preferiu o pior (Lucas 15.11-18). O ato de pecar é um efeito, não uma causa; a causa é o pecado inato em nossa natureza caída.

O crente carnal também não consegue escolher o bem. Ló, por exemplo, escolheu o pior para si e sua família (Gênesis 13.11,12). Da mesma forma, Esaú vendeu sua primogenitura por um simples prato de lentilhas (Gênesis 25.29-34). E Marta não fez a melhor escolha, ao contrário de sua irmã, que representa um crente consagrado (Lucas 10.41,42).

O pecado como estado é mencionado em Romanos 6.6, onde se afirma que "o nosso velho homem foi crucificado com Cristo, para que o corpo do pecado seja destruído, a fim de que deixemos de ser escravos do pecado". A expressão "corpo do pecado" refere-se ao corpo como instrumento do pecado, não significando que o pecado tenha um corpo tangível.

O pecado como estado indica que todos os homens têm uma propensão para pecar. É caracterizado pelo princípio da rebelião contra Deus, sendo um poder maléfico e gerador do mal. É, portanto, uma causa e, consequentemente, um efeito.

Como causa, o pecado faz parte da nossa natureza herdada de Adão. Em resumo, o homem não é culpado apenas pelos pecados que comete, mas tem dentro de si uma natureza pecaminosa que por si só já é pecado.

Quanto à natureza do pecado, há o pecado praticado, ou seja, cometido, que aparece na Bíblia no plural (I Jo 1.9). Para este tipo de transgressão, Deus oferece perdão, como podemos observar em  (Lv 5.14-19) "sacrifício pela culpa". No entanto, também há o pecado congênito, mencionado no singular (I Jo 1.7; SI 51.5; Rm 7.18,23), para o qual só há purificação no sangue de Jesus, como vemos no "sacrifício pelo pecado" (Lv 4.1-12).

Quanto à prática do pecado, há o pecado de comissão, que é fazer a coisa errada (Tg I.15), e o de omissão, que significa deixar de fazer a coisa certa. Assim, pecado não é apenas praticar o mal; deixar de fazer o que é certo também é pecado.

A Palavra de Deus menciona vários exemplos de pecado por omissão, como o caso do servo inútil condenado por não ter feito nada apesar de ter recebido bens para cuidar (Mt 25.24-30) e na parábola das dez virgens, em que as loucas não se prepararam (Mt 25.3). Outro exemplo está no julgamento das nações: as omissas para com Israel serão punidas (Mt 25.42-45).

Deixar de cumprir a lei de Deus é tão pecaminoso quanto transgredi-la (cf. Jz 5.23). A Palavra de Deus afirma que os ímpios serão lançados no inferno por omissão: "Os ímpios serão lançados no inferno e todas as nações que se esquecem de Deus" (Sl 9.17).

Todo pecado, independentemente de sua natureza, é inicialmente uma transgressão contra Deus. Davi, ao pecar contra Bate-Seba, Urias e a si mesmo, reconheceu que seu pecado primordial foi contra Deus, o Legislador: “Contra ti, contra ti somente pequei, e fiz o que é mal aos teus olhos...” (Salmo 51.4). O filho pródigo errou contra si mesmo, sua família e, principalmente, seu pai na parábola, simbolizando Deus (Lucas 15.21).

A raiz do pecado no ser humano é abordada na Bíblia, mencionando tanto o pecado físico (2 Coríntios 7.1) quanto o espiritual (2 Coríntios 7.1; Salmo 66.18). Muitos tendem a associar o pecado a crimes como assassinato, roubo, vício, imoralidade, adultério, entre outros pecados carnais. No entanto, os pecados espirituais às vezes são ainda mais graves do que os pecados da carne mencionados. Embora Davi tenha cometido pecados carnais sérios, ao ser repreendido pelo Senhor ele reconheceu: 'Pequei contra o Senhor' (2 Samuel 12.13; Salmo 51). No entanto, ele considerou seu pecado espiritual ainda mais grave, levando-o a confessar: 'Pequei gravemente' (1 Crônicas 21.8). 'Toda maldade é pecado' (1 João 5.17).

Os fariseus da época de Jesus acusavam aqueles que cometiam pecados físicos, como a mulher adúltera perdoada por Jesus, instruindo-a a 'ir e não pecar mais' (João 8.1-11). No entanto, esses mesmos fariseus cometiam grandes pecados espirituais (Mateus 23).

Alguns exemplos de pecados espirituais incluem orgulho, arrogância, inveja, ganância, ira, hipocrisia, entre outros. As consequências do pecado variam de acordo com sua gravidade, podendo resultar em sofrimento, morte espiritual, física e até perdição eterna.

O perdão dos pecados é abordado na Bíblia, diferenciando os pecados perdoáveis dos imperdoáveis (Mateus 12.31,32). O pecado imperdoável não se refere a um ato isolado, mas sim a uma prática contínua que vai contra o Espírito Santo.

Para superar o pecado e triunfar sobre ele, é fundamental amar a Palavra de Deus, crer no poder redentor de Jesus Cristo e confiar na atuação do Espírito Santo em nossas vidas. Além disso, a total submissão e entrega a Cristo são essenciais para vencer o pecado.

Como vencer o pecado.

Os passos para superar o pecado e triunfar sobre ele são os seguintes:

1) Valorizar a Palavra de Deus a ponto de guardá-la em nosso coração; isso ajuda os crentes a vencerem o pecado (Salmo 119.11).

2) Ter fé no poder redentor do sangue de Jesus, no sacrifício que Ele fez para que o pecado não nos domine (1 João 1.9).

3) Confiar na influência do Espírito Santo, que habita em nós e, se permitirmos que Ele tenha controle total em nossa vida, nos ajuda a vencer o pecado (Romanos 8.2).

4) Contar com o ministério sacerdotal de Cristo. Ele superou tudo, e se estivermos Nele, também venceremos o pecado (Hebreus 4.15,16).

5) Nossa fé em Jesus Cristo também nos possibilita vencer o pecado (Filipenses 3.9).

6) Por fim, nossa completa submissão e entrega a Cristo (Romanos 6.14). A submissão implica em obedecer à Sua vontade e buscá-Lo por amor.

Conclusão.

Ao encerrar este tema sobre o pecado, a recomendação final é: "Evite o pecado!" A Palavra de Deus nos exorta: "Meus filhinhos (...) não pequem" (1 João 2.1). Lembre disso: "Obedecer é melhor do que sacrificar" (1 Samuel 15.22). E "sacrificar", neste contexto, também pode significar "corrigir".

Portanto, evitemos os pecados internos e externos: "Não se precipite em impor as mãos a ninguém, nem participe dos pecados alheios; mantenha-se puro" (1 Timóteo 5.22).

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