UMA MENSAGEM IMPORTANTE DOS TODOS DOS 144 MIL

 

Então, ouvi o número dos que foram selados, que era de cento e quarenta e quatro mil, de todas as tribos dos filhos de Israel…” “Olhei, e eis o cristo em pé sobre o monte Sião, e com ele cento e quarenta e quatro mil, tendo na fronte escrito o seu nome e o nome do seu Pai

 

Apocalipse 7.

Muita controvérsia tem cercado estes versículos. Vamos ver o que os comentaristas bíblicos têm a dizer:

Stanley M. Horton.

De acordo com o relato de Horton em seu livro "Apocalipse - As Coisas que Brevemente Devem Acontecer", tem havido considerável controvérsia em torno dos 144.000 mencionados nas Escrituras. Alguns interpretam esses santos como sendo os próprios descendentes das doze tribos de Israel, como descrito no sétimo capítulo do livro de Apocalipse. Outros, por sua vez, propõem que sejam crentes fiéis e consagrados, provenientes de diversas épocas e lugares. Há também os que defendem que o número 144.000 não deve ser interpretado literalmente, mas sim como um símbolo da plenitude dos seguidores de Cristo, demonstrando amor, fidelidade e devoção ao serviço cristão ao longo da história.

Independentemente da interpretação adotada, é claro que Jesus conhece aqueles que Lhe pertencem. Os seguidores castos do Cordeiro são descritos como aqueles que não se contaminaram com mulheres, representando uma pureza espiritual e moral. Eles seguiram o Cordeiro em sua jornada e foram redimidos dentre os homens como primícias para Deus e para o Cordeiro. Sua integridade é destacada pela ausência de engano em suas palavras e pela sua irrepreensibilidade diante do trono de Deus.

Os 144.000 mantiveram-se separados do mundo e da igreja apóstata, seguindo fielmente a Cristo e demonstrando completa dedicação a Ele. A mensagem central é que esses seguidores são identificados como fiéis a Cristo, independentemente de sua origem étnica ou geográfica. Seja interpretado literalmente como descendentes das tribos de Israel ou simbolicamente como representantes de todos os crentes fiéis, os 144.000 são vistos como exemplos de devoção e fidelidade em meio à tribulação.[1]

Segundo Michael Wilcock, a identidade dos 144.000 selados mencionados no versículo 4 e a multidão inumerável do versículo 9 é mais simples do que parece à primeira vista. O versículo 3 esclarece que os selados são os servos do Senhor, e não há razão para limitar isso de alguma forma. Todos os servos de Deus, tanto do Antigo quanto do Novo Testamento, todos os que creem, são selados. Portanto, se somos servos de Deus, a mensagem se aplica a nós, assim como a qualquer outro, e também somos selados.

Mas então surge a questão: como podem os 144.000 serem descritos como israelitas? Wilcock ressalta que muitas teorias fantásticas têm surgido em torno desses versículos. No entanto, é essencial lembrar que somos servos de Deus e fomos selados. Se somos identificados como os 144.000, embora haja milhões de pessoas como nós, o valor provavelmente é simbólico, representando uma figura estilizada típica do Apocalipse. O número 144.000 é mais provavelmente um símbolo do que uma estatística literal. Portanto, ao nos encontrarmos descritos como os 144.000 israelitas, mesmo que a maioria de nós seja de origem gentílica, isso se alinha perfeitamente com os ensinamentos do Novo Testamento, que atribuem à igreja cristã os títulos e privilégios de Israel.

No comentário sobre Apocalipse 7:14, Leon Morris apresenta uma análise da evidência bíblica que merece ser citada integralmente. Ele destaca que a igreja pode ser identificada como "as doze tribos" (referência encontrada em Tiago 1:1, Mateus 19:28 e Lucas 22:30), sugerindo que essa é provavelmente a ideia por trás de cartas enviadas à "Dispersão" (1 Pedro 1:1). Morris observa que o cristão é apresentado como o verdadeiro judeu (Romanos 2:29), enquanto a igreja é referida como o "Israel de Deus" (Gálatas 6:16). Ele ressalta que as descrições do Israel antigo são acumuladas e aplicadas à igreja (1 Pedro 2:9, Efésios 1:11, 14). Morris também menciona que a igreja é chamada de "povo exclusivamente seu" (Tito 2:14), sendo considerada a possessão de Cristo, "descendentes de Abraão" (Gálatas 3:29) e da "circuncisão" (Filipenses 3:3).

Além disso, ele aborda a ideia de que a existência de um Israel "segundo a carne" (1 Coríntios 10:18) implica na existência de um Israel "segundo o Espírito". No Apocalipse, João menciona aqueles "que a si mesmos se declaram judeus, e não são, sendo antes sinagoga de Satanás" (Apocalipse 2:9, Efésios 3:9). Morris conclui sua análise destacando que João considera a Nova Jerusalém como o lar espiritual dos cristãos (Apocalipse 21:2), e nos portões desta cidade estão inscritos os nomes das doze tribos (Apocalipse 21:12). Essa citação de Morris evidencia como a identidade e os privilégios do povo de Israel são atribuídos à igreja cristã no Novo Testamento.

Se analisarmos os números que temos, perceberemos que eles representam de forma mais próxima e ordenada a contribuição de 12.000 de cada uma das tribos, tanto grandes quanto pequenas. No entanto, a ordem em que as tribos são listadas não é encontrada em nenhum outro lugar da Bíblia. Uma das tribos, Dã, é completamente omitida e sua ausência é compensada pela inclusão de um dos filhos de José, bem como do próprio José. Isso sugere que a descrição dos selados é estilizada, como seria de se esperar se fosse um "diagrama" da igreja. Como em todo diagrama, um aspecto é sacrificado para esclarecer outro, assim como a projeção de um mapa sacrifica a verdadeira distância para mostrar a totalidade de uma área, ou vice-versa.

Então, o que podemos dizer sobre a multidão inumerável mencionada no versículo 9? Qual é a relação entre ela e os 144.000? Na verdade, são a mesma coisa. Pois qualquer que sejam as pessoas vestidas com vestes brancas, elas são certamente servos de Deus. E se são servos, estão selados (versículo 3), e se estão selados, fazem parte dos 144.000 (v.4). Mas como pode ser isso? Como pode um número limitado, todos israelitas, ser ao mesmo tempo uma multidão inumerável de todas as nações? Mais uma vez, precisamos nos colocar na posição de João. Ele ouviu uma voz celestial declarando o resultado do censo divino sobre o povo de Deus. No Antigo Testamento, e de forma significativa na primeira vinda de Cristo (Lucas 2:1-7), o povo foi convocado para um "recenseamento". Aqui temos o censo feito pelo próprio Deus. O total pode ser simbólico, mas ainda é um número. Se Deus pode contar os fios de cabelo das nossas cabeças (Mateus 10:30), contar as próprias cabeças não estaria além do seu alcance. "O Senhor conhece os que lhe pertencem" (2 Timóteo 2:19), e o que João ouviu foi a declaração divina desse total simbolicamente representado por "144.000". O que ele viu, por outro lado, foi que esse total definido e conhecido por Deus é, do ponto de vista humano, inumerável. Da perspectiva de Deus, todos eles são "Israel", seu povo; da nossa perspectiva, eles vêm de todas as nações debaixo dos céus.

Neste trecho, ocorre uma mudança de foco no palco celestial, conforme diferentes grupos de personagens assumem o centro das atenções. Depois de testemunharmos a presença dos anjos, dos anciãos e dos seres viventes nos capítulos 4 e 5, somos apresentados aos cavaleiros do capítulo 6. Estes, por sua vez, dão lugar aos quatro anjos que controlam os quatro ventos em 7:1-10. Agora, em 7:11-12, voltamos ao encontro daqueles com quem a cena havia iniciado: o povo de Deus, cuja redenção final é garantida pelo fato de estarem selados.

Neste momento, eles são representados não pelo mártir debaixo do altar, como visto em 6:9ss, nem pelos 144.000, como em 7:4,9, mas novamente pelos vinte e quatro anciãos, introduzidos pela primeira vez em 4:4. O mundo criado por Deus, cuja redenção também depende da dos cristãos selados, é representado pelos quatro seres viventes, inicialmente vistos em 4:6. Por fim, as miríades de espectadores angélicos, mencionadas pela primeira vez em 5:11, surgem novamente.

Este panorama celestial reflete uma adoração completa a Deus, em reconhecimento por tudo o que Ele realiza através dos séculos. É uma expressão de louvor e reconhecimento pela soberania divina e pela redenção que Ele concede tanto aos seres humanos quanto à criação como um todo.

"E assim, com anjos e arcanjos, e com toda a companhia dos céus nós louvamos e magnificamos teu nome glorioso, a Ti celebramos e dizemos: Santo, Santo, Santo, Deus dos exércitos, os céus e a terra es­tão cheios da tua glória. Glória seja dada a ti, ó Deus altíssimo." Amém.[2]

Beale.

Beale interpreta o número dos 144.000 como representando o total dos mártires. Ele sugere que este número é completo durante o intervalo entre o julgamento iminente (6:17) e a cena que precede a abertura do sétimo selo, quando todo o céu fica em silêncio para que Deus possa ouvir as orações dos santos e finalmente vingar o sangue dos mártires (8:1, 3-5). Essa interpretação enfatiza a ideia de que os mártires são uma parte crucial da história da redenção e que seu número é completado antes que o juízo final seja executado.[3]

Earl.

Segundo Earl D. Radmacher e Ronald B. Allen, antes que os juízos fossem desatados, Deus preparou os 144 mil de Seus servos para serem selados na fronte. Esses selos representam posse ou autoridade, indicando que os crentes estão sob a proteção e preservação divinas durante a tribulação. A identificação deles como servos declarados indica que são regenerados pela fé em Cristo e confessam sua fé abertamente.

Quanto ao número 144 mil, pode ser considerado tanto um número real como um símbolo de totalidade, referindo-se a todos os salvos no Antigo e no Novo Testamento. A inclusão dos filhos de Israel é interpretada de diversas formas, seja como a Igreja, a nova Israel, ou como a nação de Israel, ou ambas.

Na lista das tribos de Israel, Judá está em primeiro lugar por causa de Cristo, o Messias, ser o Leão da tribo de Judá. Dã e Efraim são omitidos devido à idolatria associada a essas tribos no período dos Juízes, enquanto José e seu filho Manassés são incluídos, juntamente com Levi, totalizando 12 tribos.

A grande multidão que louva a Deus e o Cordeiro pela salvação pode representar o fruto evangelístico do trabalho dos 144 mil durante o período de tribulação. Em meio ao julgamento de Deus, Ele ainda se lembra da misericórdia, e as vestes brancas podem representar tanto os crentes vencedores quanto os mártires. As palmas agitadas pela multidão simbolizam a celebração da vitória.[4]

Segundo Robert L. Thomas, os 144 mil são crentes e evangelistas judeus que representam as primícias de Israel, sendo resgatados como nação antes do retorno de Cristo. Ele argumenta que esses 144 mil não são todos os crentes judeus daquela época, mas um grupo específico selecionado para proclamar o evangelho durante o período descrito no Apocalipse.

Thomas rejeita a interpretação de que os 144 mil representam a igreja, apontando que tal identificação é fraca e disputada. Ele argumenta que embora algumas passagens do Novo Testamento sugiram uma identificação entre a igreja e Israel, essa conexão não é clara o suficiente para ser aplicada aqui. Além disso, ele enfatiza que até o ano 160 d.C., não há evidências claras de que a igreja tenha sido chamada de "Israel" nos escritos antigos da igreja.

Portanto, Thomas conclui que não há suporte adequado para identificar os 144 mil como a igreja, e que tentativas de fazer essa conexão carecem de evidências substanciais.

Além das questões anteriormente mencionadas, Thomas também critica a tentativa de identificar os 144 mil como a igreja, porque essa interpretação requer uma abordagem tipológica que força a divisão da igreja em doze tribos para coincidir com a lista apresentada em Apocalipse 7:5-8. No entanto, ele aponta que essa lista apresenta irregularidades que dificultam essa interpretação tipológica. Portanto, Thomas argumenta que essa abordagem é inadequada e não sustentável à luz das inconsistências presentes na lista das tribos de Israel em Apocalipse 7:5-8.

O termo "Israel" deve ser interpretado de acordo com seu uso normal tanto no Antigo Testamento quanto no Novo, referindo-se aos descendentes físicos de Abraão, Isaac e Jacob. Não há nenhuma razão exegética para não interpretar os números 144.000 e 12.000 literalmente. O fato de haver 12 mil selados de cada tribo dos filhos de Israel reflete o propósito eletivo de Deus. Essa divisão não seria resultado de uma escolha humana aleatória, mas sim de um plano divino.

Apesar de os registros tribais terem sido perdidos quando os romanos saquearam Jerusalém em 70 d.C., Deus sabe quem pertence a cada tribo. Isso também sugere que as chamadas "dez tribos perdidas" na verdade nunca foram perdidas, como indicado em passagens como Apocalipse 21:12, Mateus 19:28, Lucas 22:30 e Tiago 1:1. Ao longo da história, os representantes das dez tribos do norte se misturaram com as duas tribos do sul e foram preservados.

Os nomes tribais específicos listados levantam algumas questões interessantes. Não há uma maneira padrão de listar as doze tribos, como evidenciado pelas diferentes formas de enunciar as tribos no Antigo Testamento. Algumas listas seguem a ordem de nascimento, outras a ordem das bênçãos de Jacó, a ordem de acampamento, a ordem do censo, entre outras. Portanto, a ordem apresentada em Apocalipse 7:5-8 não é necessariamente definitiva ou padronizada.

A omissão de tribos como Dã e Efraim em favor de outras, como Levi e José, sugere uma seleção específica com base em fatores como fidelidade e idolatria. Essa passagem reforça a verdade bíblica de que Deus não abandonou a nação de Israel, apesar de suas falhas no passado. No futuro, o povo judeu será uma força missionária poderosa, resultando na redenção de Israel e de inúmeros gentios.

Ele concluir: As primícias da salvação de Israel serão os 144.000 evangelistas judeus (7:1-8), que irá pregar o evangelho tanto para seus compatriotas e aos gentios.[5]

Conclusão

A interpretação dos 144.000 selados apresenta uma variedade de perspectivas e abordagens entre estudiosos e teólogos. Alguns veem os 144.000 como uma representação simbólica da totalidade dos crentes, tanto judeus quanto gentios, que serão preservados e protegidos por Deus durante os eventos descritos no livro do Apocalipse. Outros interpretam literalmente, considerando-os como um grupo específico de 144.000 judeus convertidos, escolhidos por Deus para proclamar o evangelho durante um período de tribulação iminente.

As visões sobre a identidade e o papel dos 144.000 também variam. Alguns os veem como os primeiros frutos de Israel, destacando sua importância como testemunhas e evangelistas durante um tempo de provação. Outros argumentam que eles representam uma parte específica da igreja, escolhida para um propósito divino específico dentro do plano redentor de Deus para a humanidade.

Além disso, a lista das tribos de Israel apresentada em Apocalipse 7:5-8 levanta questões sobre sua interpretação literal ou tipológica, com algumas irregularidades que dificultam uma interpretação uniforme.



[1] Relatou por: Stanley M. Horton - Apocalipse - As Coisas que Brevemente Devem Acontecer p 95, 145, 147-148.

[2] Michael Wilcock - A Mensagem de Apocalipse, p 34

[3] Citado por: Apocalipse ARTUR p 95.

[4] Earl D. Radmacher  Ronald B. Allen  H - O Novo Comentário Bíblico Novo Testamento - Earl D. Radmacher  Ronald B. Allen  H, p 771,772.

[5] John Macarthur – Apocalipse, 246-248.

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