A BASE DA SANTIDADE

João 319: “Aquele que nasceu de Deus não vive na prática do pecado; porque a semente de Deus permanece nele, e não pode continuar no pecado, pois é nascido de Deus.”

No Comentário do Novo Testamento interpretado, no Volume VI de Champlin, há um comentário que vou parafrasear e trazer para você, caro leitor, de forma clara:

Isto está de acordo com o que está escrito em 1 João 2:29: "Se sabeis que ele é justo, reconhecei também que todo aquele que pratica a justiça é nascido dele". A pessoa nascida de Deus não vive na prática do pecado, mas sim pratica a bondade. "Todo aquele que permanece nele não vive pecando..." (1 João 3:6). Deus Pai é santo, e assim também devem ser os seus filhos, se forem genuínos, pois devem compartilhar da sua natureza santa.

A Base Da Santidade               

1. A santidade não está baseada no legalismo (ver em Rm. 3:20), nem no sacramentalismo (ver Rm. 2:28,29). Pelo contrário, consiste na participação na própria santidade de Deus, através do poder transformador do Espírito (ver Rm. 3:21).

2. É um resultado do novo nascimento, como aprendemos neste versículo. No entanto, não surge perfeitamente na primeira tentativa; em outras palavras, ninguém se torna impecável nesta vida (ver I João 1:8). No entanto, o Espírito pode nos dar a vitória, para que possamos viver acima e libertos dos vícios. Isso ocorre através do novo nascimento, conforme indicado pelo versículo que estamos considerando.

3. A essência humana é tão corrompida que apenas o novo nascimento pode nos libertar dela. Os seres humanos podem tentar imitar essa transformação. Muitas filosofias e religiões oferecem sugestões sobre como essa imitação pode ser alcançada. No entanto, a alma iluminada por Deus reconhece que apenas um ato do Espírito Santo pode verdadeiramente alterar um ser humano para melhor, de forma real e permanente.

4. Na ocasião da «parousia» (segunda vinda de Cristo), daremos um grande salto em frente no que diz respeito à espiritualidade. Nessa altura, a alma será completamente libertada da natureza pecaminosa e começará a participar da mesma forma de vida que Cristo possui, acompanhada da sua natureza moral (ver I João 3:2). Ao longo da eternidade, iremos gradualmente adquirir as virtudes espirituais do Pai, como parte da nossa glorificação.

“...não está a viver na prática do pecado...” Esta é uma interpretação dos tradutores. O grego diz *não está a cometer pecado*. Mas isso envolve a ideia da «prática» do pecado. Já tivemos oportunidade de verificar, no sexto versículo deste capítulo, o que significa essa expressão. Várias interpretações errôneas são mencionadas naquele versículo. A perfeição impecável é o objetivo, mas isso não é referido aqui como algo realmente possível nesta vida. A passagem de I João 1:8,10 mostra que não é possível tal coisa aqui. Mas a vitória sobre o pecado é possível nesta esfera; e de nós é esperado que busquemos isso com diligência, mediante a comunhão com o Pai e com o Filho, através do contacto com o seu Santo Espírito. Esse contacto é feito mediante a vida e o crescimento espirituais, através dos meios da oração, da meditação, da busca pelo poder, pelos dons e pela presença do Espírito Santo. A isso devemos acrescentar o treino do intelecto, o estudo cuidadoso e diligente da verdade espiritual, conforme ela se encontra nas Sagradas Escrituras.

Alguns intérpretes consideram que aqui se pode encontrar a "nova natureza" como algo que pode ser aperfeiçoado, tornando-se completamente sem pecado, enquanto na realidade, a integração do homem, a combinação das naturezas antiga e nova, continuaria a pecar. No entanto, não se pode atribuir esse pecado à nova natureza que Deus criou em nós. Pelo contrário, é a antiga natureza que se manifesta, embora já esteja nos seus últimos momentos. Esta é uma verdade, independentemente de o versículo ensinar diretamente essa verdade ou não. Certamente isso fica implícito.

Ao longo desta epístola, é enfatizada a importância de "permanecer em Cristo" como a solução espiritual para lidar com o "problema do pecado", fornecendo os meios necessários para que a vida humana desfrute plenamente da vida eterna. Essa expressão tem um significado místico, indicando o verdadeiro contato do espírito humano com o ser divino. Esse contato, que resulta em "comunhão", transforma a alma humana de modo a participar da natureza divina, tornando-se assim filho de Deus, da mesma forma que Jesus Cristo é o Filho. A comunhão com a natureza está intrinsecamente ligada a tudo isso.

O termo "permanecer", neste contexto, refere-se à presença contínua da "semente" de Deus no crente que se santifica. Em I João 2:24, é a palavra do "evangelho" que permanece nos homens, para que estes permaneçam no Filho e no Pai. Existe a presença da semente divina (no grego, "sperma"), que gera uma nova vida quando é implantada na alma humana. A metáfora biológica da inseminação é evidente em tudo isso. O termo grego utilizado aqui pode significar tanto "esperma" como "semente". A semente tem o poder de gerar nova vida, sob as circunstâncias corretas. Alguns consideram essa "semente" equivalente à "palavra" (como visto em I João 2:24, I Pedro 1:23 e Tiago 1:18). No entanto, é mais provável que esteja em destaque o próprio Espírito Santo e a sua operação, como evidenciado em João 3:3-5. No Espírito Santo está presente o "princípio divino da vida". A permanência do Espírito Santo no crente infunde o homem com vida divina.

A "semente" não se refere à pessoa de Cristo. No entanto, quando falamos da "palavra", de "Cristo" ou do "Espírito", estamos a referir-nos à mesma realidade espiritual, o nascimento e a geração espirituais, embora de perspetivas diferentes. A "palavra" (evangelho) traz-nos a mensagem transformadora: Cristo está a ser formado em nós; o Espírito realiza a obra que resulta na conceção e no novo nascimento. A metáfora (qualquer que seja a escolhida) é apenas uma forma gráfica de destacar que a verdadeira vida divina pode ser trazida para o nível humano, de modo a que a natureza divina seja injetada na natureza humana, espiritualizando-a, até que a própria essência de Cristo (o Filho) se torne na natureza inerente dos restantes filhos de Deus, que são irmãos de Cristo.

“…aquele que nasceu de Deus não pode viver em pecado…” O argumento apresentado pelo autor sagrado é incontestável. Se de fato Deus infunde a sua própria natureza nos seres humanos, então dificilmente poderão persistir no pecado. Eles terão que ser necessariamente santos, uma vez que uma transformação revolucionária estará ocorrendo neles. Caso contrário, essa doutrina será apenas um mito, ou então, as pessoas em questão são falsos filhos de Deus.

O germe da vida divina foi implantado em nossas almas e cresce num processo gradual, sujeito a atrasos ocasionais, mas firme, alcançando finalmente a sua plena fruição. Os deslizes do crente são como as intempéries, que podem impedir o desenvolvimento da semente.

"Um filho de Deus, nesse conflito, de fato recebe ferimentos diariamente; mas nunca abandona as suas armas nem estabelece tréguas com o inimigo mortal”. (Lutero, in loc.).

"O pecado pode parecer eficaz, mas já não reina." (Faucett, in loc.). Este mesmo autor acrescenta: "A agulha magnética, cuja natureza é apontar sempre para o polo, pode ser facilmente desviada para um lado, mas sempre busca novamente a sua posição." (CHAMPLIN, 2014, p. 261).


Saiba mais em " O CRENTE NASCIDO DE DEUS NÃO PRATICA O PECADO?"


Bibliografia

CHAMPLIN, R. N. (2014). Comentário do Novo Testamento interpretado ver, por ver (Vol. vi). Hagnos.

 

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