No Comentário do Novo
Testamento interpretado, no Volume VI de Champlin, há um comentário que vou
parafrasear e trazer para você, caro leitor, de forma clara:
Isto está de acordo com o que está escrito em 1 João
2:29: "Se sabeis que ele é justo,
reconhecei também que todo aquele que pratica a justiça é nascido dele".
A pessoa nascida de Deus não vive na prática do pecado, mas sim pratica a
bondade. "Todo aquele que permanece
nele não vive pecando..." (1 João 3:6). Deus Pai é santo, e assim
também devem ser os seus filhos, se forem genuínos, pois devem compartilhar da
sua natureza santa.
A Base Da Santidade
1. A santidade não está baseada no legalismo (ver em
Rm. 3:20), nem no sacramentalismo (ver Rm. 2:28,29). Pelo contrário, consiste
na participação na própria santidade de Deus, através do poder transformador do
Espírito (ver Rm. 3:21).
2. É um resultado do novo nascimento, como
aprendemos neste versículo. No entanto, não surge perfeitamente na primeira
tentativa; em outras palavras, ninguém se torna impecável nesta vida (ver I
João 1:8). No entanto, o Espírito pode nos dar a vitória, para que possamos viver
acima e libertos dos vícios. Isso ocorre através do novo nascimento, conforme
indicado pelo versículo que estamos considerando.
3.
A essência humana é tão corrompida que apenas o novo nascimento pode nos
libertar dela. Os seres humanos podem tentar imitar essa transformação. Muitas
filosofias e religiões oferecem sugestões sobre como essa imitação pode ser
alcançada. No entanto, a alma iluminada por Deus reconhece que apenas um ato do
Espírito Santo pode verdadeiramente alterar um ser humano para melhor, de forma
real e permanente.
4.
Na ocasião da «parousia» (segunda
vinda de Cristo), daremos um grande salto em frente no que diz respeito à
espiritualidade. Nessa altura, a alma será completamente libertada da natureza
pecaminosa e começará a participar da mesma forma de vida que Cristo possui,
acompanhada da sua natureza moral (ver I João 3:2). Ao longo da eternidade,
iremos gradualmente adquirir as virtudes espirituais do Pai, como parte da
nossa glorificação.
“...não
está a viver na prática do pecado...” Esta é uma interpretação dos
tradutores. O grego diz *não está a cometer pecado*. Mas isso envolve a ideia
da «prática» do pecado. Já tivemos oportunidade de verificar, no sexto
versículo deste capítulo, o que significa essa expressão. Várias interpretações
errôneas são mencionadas naquele versículo. A perfeição impecável é o objetivo,
mas isso não é referido aqui como algo realmente possível nesta vida. A
passagem de I João 1:8,10 mostra que
não é possível tal coisa aqui. Mas a vitória sobre o pecado é possível nesta
esfera; e de nós é esperado que busquemos isso com diligência, mediante a
comunhão com o Pai e com o Filho, através do contacto com o seu Santo Espírito. Esse contacto é feito
mediante a vida e o crescimento espirituais,
através dos meios da oração, da meditação, da busca pelo poder, pelos dons e
pela presença do Espírito Santo. A isso devemos acrescentar o treino do
intelecto, o estudo cuidadoso e diligente da verdade espiritual, conforme ela
se encontra nas Sagradas Escrituras.
Alguns intérpretes consideram que aqui se pode encontrar a "nova natureza" como algo que pode
ser aperfeiçoado, tornando-se completamente sem pecado, enquanto na realidade,
a integração do homem, a combinação das naturezas antiga e nova, continuaria a
pecar. No entanto, não se pode atribuir esse pecado à nova natureza que Deus
criou em nós. Pelo contrário, é a antiga natureza que se manifesta, embora já
esteja nos seus últimos momentos. Esta é uma verdade, independentemente de o
versículo ensinar diretamente essa verdade ou não. Certamente isso fica
implícito.
Ao
longo desta epístola, é enfatizada a importância de "permanecer em
Cristo" como a solução espiritual para lidar com o "problema do pecado", fornecendo os
meios necessários para que a vida humana desfrute plenamente da vida eterna.
Essa expressão tem um significado místico, indicando o verdadeiro contato do
espírito humano com o ser divino. Esse contato, que resulta em
"comunhão", transforma a alma humana de modo a participar da natureza
divina, tornando-se assim filho de Deus,
da mesma forma que Jesus Cristo é o
Filho. A comunhão com a natureza está intrinsecamente ligada a tudo isso.
O
termo "permanecer", neste
contexto, refere-se à presença contínua da "semente" de Deus no crente que se santifica. Em I João 2:24, é a palavra do
"evangelho" que permanece nos homens, para que estes permaneçam no
Filho e no Pai. Existe a presença da semente divina (no grego,
"sperma"), que gera uma nova vida quando é implantada na alma humana. A metáfora biológica da
inseminação é evidente em tudo isso. O termo grego utilizado aqui pode
significar tanto "esperma" como "semente". A semente tem o poder de gerar nova vida, sob as
circunstâncias corretas. Alguns consideram essa "semente" equivalente
à "palavra" (como visto em I
João 2:24, I Pedro 1:23 e Tiago 1:18). No entanto, é mais provável que
esteja em destaque o próprio Espírito
Santo e a sua operação, como evidenciado em João 3:3-5. No Espírito
Santo está presente o "princípio divino da vida". A permanência
do Espírito Santo no crente infunde o homem com vida divina.
A
"semente" não se refere à
pessoa de Cristo. No entanto, quando falamos da "palavra", de
"Cristo" ou do "Espírito", estamos a referir-nos à mesma
realidade espiritual, o nascimento e
a geração espirituais, embora de perspetivas diferentes. A "palavra"
(evangelho) traz-nos a mensagem
transformadora: Cristo está a ser formado em nós; o Espírito realiza a obra que
resulta na conceção e no novo nascimento. A metáfora (qualquer que seja a
escolhida) é apenas uma forma gráfica de destacar que a verdadeira vida divina
pode ser trazida para o nível humano, de modo a que a natureza divina seja
injetada na natureza humana, espiritualizando-a, até que a própria essência de
Cristo (o Filho) se torne na natureza inerente dos restantes filhos de Deus,
que são irmãos de Cristo.
“…aquele
que nasceu de Deus não pode viver em pecado…” O argumento apresentado
pelo autor sagrado é incontestável. Se de fato Deus infunde a sua própria
natureza nos seres humanos, então dificilmente poderão persistir no pecado.
Eles terão que ser necessariamente santos, uma vez que uma transformação
revolucionária estará ocorrendo neles. Caso contrário, essa doutrina será
apenas um mito, ou então, as pessoas em questão são falsos filhos de Deus.
O
germe da vida divina foi implantado em nossas almas e cresce num processo
gradual, sujeito a atrasos ocasionais, mas firme, alcançando finalmente a sua
plena fruição. Os deslizes do crente são como as intempéries, que podem impedir
o desenvolvimento da semente.
"Um filho de Deus, nesse conflito, de fato
recebe ferimentos diariamente; mas nunca abandona as suas armas nem estabelece
tréguas com o inimigo mortal”. (Lutero, in loc.).
"O
pecado pode parecer eficaz, mas já não reina." (Faucett, in loc.). Este
mesmo autor acrescenta: "A agulha
magnética, cuja natureza é apontar sempre para o polo, pode ser facilmente
desviada para um lado, mas sempre busca novamente a sua posição."
Saiba mais em " O CRENTE NASCIDO DE DEUS NÃO PRATICA O PECADO?"
Bibliografia
CHAMPLIN,
R. N. (2014). Comentário do Novo Testamento interpretado ver, por ver
(Vol. vi). Hagnos.
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