FONTES DA TEOLOGIA

A teologia tem uma origem, isto é, um ponto de partida de onde a teologia se desenvolve. Em termos básicos, estas origens são:

a] Bíblia Sagrada - A fonte fundamental da teologia cristã é a Bíblia Sagrada, que é reconhecida como a autoridade máxima para os cristãos. A palavra "Bíblia" vem do grego "biblia", que significa "livros", refletindo sua natureza composta por diversos escritos. Ela é a constituição da religião cristã e revela Deus ao mundo, sua natureza trinitária e seu plano de salvação para a humanidade. As Escrituras são suficientes para transmitir todas as informações necessárias sobre Cristo, incluindo seu aspecto divino e seu poder de perdoar pecados.

A autoridade das Escrituras deriva de sua inspiração divina, não sendo meros produtos da mente humana, mas revelações sobrenaturais do Espírito Santo. Embora os autores bíblicos tenham escrito de acordo com suas características individuais e culturais, a supervisão do Espírito Santo garantiu que suas palavras fossem infalíveis, inerrantes e autoritativas. As Escrituras reivindicam atributos divinos, sendo perfeitas, fiéis, retas, puras, verdadeiras, justas e santas. Assim, a Bíblia é a principal fonte de informações teológicas para os cristãos e serve como guia para sua fé e prática.

b] Tradição - A leitura das Escrituras nunca é neutra e sempre é influenciada por uma tradição interpretativa. Cada denominação cristã possui suas próprias tradições, que são consideradas autoridades complementares ou adicionais às Escrituras, embora algumas denominações possam não reconhecer explicitamente esse fato. As tradições começam nas próprias Escrituras, que preservam várias tradições judaicas e influências da filosofia helênica.

Após o período do Novo Testamento, surgiram declarações dos pais da Igreja e o desenvolvimento dos primeiros credos, que sistematizaram e limitaram as Escrituras. Concílios eclesiásticos também manipularam esses credos, adicionando interpretações das Escrituras e originando tradições. Regras de fé, interpretações bíblicas e raciocínios apareceram nos escritos dos pais da Igreja, contribuindo para a formação de tradições.

O sincretismo também desempenhou um papel na formação das tradições, conforme o cristianismo se difundia por diferentes culturas e áreas geográficas, incorporando elementos locais de crenças e práticas. As tradições católicas romanas são um exemplo proeminente de entronização das tradições, algumas das quais podem prejudicar as Escrituras, enquanto outras têm um fundamento bíblico.

A Reforma Protestante, em seu princípio de "Escritura somente", não eliminou completamente as tradições, e novas tradições foram estabelecidas por meio de credos rígidos e interpretações específicas das Escrituras. Teólogos modernos sugerem que a doutrina deve evoluir, resultando em novas tradições substituindo antigas.

A revolta contra a ortodoxia, representada pelas tradições liberais, desenvolveu uma tradição própria que minou a fé nas tradições mais antigas e rejeitou o autoritarismo, muitas vezes ignorando as próprias Escrituras. Os credos modernos funcionam de várias maneiras, desde declarações e interpretações até distorções e omissões de passagens bíblicas.

Embora algumas tradições possam ultrapassar legitimamente as Escrituras, muitas vezes, elas incorrem em erro, adicionando elementos prejudiciais à fé e prática. Portanto, é necessário discernimento ao lidar com as tradições, repelindo aquelas que se desviam da verdade bíblica.

c] Cultura - Ao fazer teologia, é crucial considerar tanto o contexto cultural do estudante quanto o do texto bíblico em análise, a fim de aplicá-lo adequadamente ao seu tempo. O estudo da cultura é fundamental para determinar se determinados textos das Escrituras eram aplicáveis em um determinado momento histórico ou se têm validade contínua. Os costumes culturais têm uma influência significativa na interpretação de um texto bíblico.

Como Alexandre Milhoranza (2024), enfatiza, interpretar a Bíblia sem considerar o contexto e o período histórico pode levar a sérios erros de interpretação e até mesmo a heresias. Os reformadores destacaram a importância do método de interpretação histórico-gramatical das Escrituras, que leva em conta o período histórico em que o texto foi escrito e considera as palavras e frases em seu sentido normal e claro (literal).

Certos princípios ou mandamentos bíblicos são contínuos e irrevogáveis, aplicáveis a todas as épocas, pois tratam de temas morais ou teológicos e são repetidos em outras partes da Bíblia. No entanto, existem também mandamentos que se referem a circunstâncias específicas de um determinado contexto cultural e não possuem caráter moral ou teológico, sendo, portanto, não aplicáveis aos dias atuais.

Além disso, há princípios ou mandamentos que se aplicam a contextos culturais semelhantes ao nosso, nos quais apenas o princípio subjacente deve ser aplicado. E ainda há aqueles que se referem a contextos culturais completamente diferentes, mas cujos princípios podem ser aplicados.

Por exemplo, o episódio em que Moisés tirou os sapatos na presença de Deus, devido à santidade do local, não significa que devemos literalmente fazer o mesmo hoje em dia ao entrar em um templo. No entanto, o princípio subjacente de reverência e temor a Deus deve continuar a nos guiar em nossas práticas religiosas.

e] Experiência - A experiência humana desempenha um papel fundamental no trabalho teológico da igreja. De acordo com Schillebeeckx, a experiência humana e a fé cristã são as duas fontes da teologia e devem ser consideradas em correlação. Sem a pergunta de sentido que surge da experiência humana, as respostas dos teólogos seriam vazias e desprovidas de significado. No entanto, quando a resposta cristã oferece uma "superabundância de sentido", esse sentido deve se integrar à experiência humana, que já está em busca de significado.

A fé cristã valoriza e reconhece a busca do ser humano por sentido e significado na vida. A resposta que a fé oferece é uma resposta à inquietação e à busca existencial do homem. A luz da revelação cristã traz uma superabundância de sentido que complementa e enriquece a experiência humana em sua busca por significado.

Portanto, a experiência humana não é apenas uma fonte de questionamento para a teologia, mas também um terreno fértil no qual a fé cristã pode encontrar ressonância e oferecer respostas significativas. A interação entre a experiência humana e a fé cristã é vital para a construção de uma teologia que seja relevante e significativa para as questões e desafios enfrentados pela humanidade.

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