Mandamentos , Êxodo 20:2-3; Deuteronômio 5:6-7.

 Amor de Deus (Mandamentos 1-4), Êxodo 20:2-3; Deuteronômio 5:6-7.

1. Nenhum Outro Deus (Êxodo 20:2-3; Deuteronômio 5:6-7)

Este mandamento é o alicerce de todos os outros e se baseia na identidade e ações do Senhor. Ele declara: "Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão. Não terás outros deuses diante de mim." Esta afirmação estabelece quem Deus é, a quem Ele pertence (Seu povo) e o que Ele fez (libertação do Egito).

  • "Eu (sou)" precede "Ser-me-eis": A relação do povo com Deus é fundamentada na Sua existência e santidade.
  • "Não farás para ti": Isto pode sugerir que os deuses falsos existem apenas na imaginação dos adoradores.
  • "Diante de mim": Significa na presença de Deus, indicando que a adoração de outros deuses é uma afronta direta a Ele.
  • Mandamento Fundamental: Este é o mandamento central da relação entre Deus e Israel no Antigo Testamento. Até mesmo Jesus foi tentado nesta área (Mateus 4:8-10).

2. Nenhum Ídolo (Êxodo 20:4-6; Deuteronômio 5:8-10)

Este mandamento proíbe a criação e adoração de ídolos, enfatizando que Deus deve ser adorado como Ele se revela, não conforme imaginações humanas.

  • Adoração em Espírito e em Verdade: Conforme João 4:24, a verdadeira adoração não se baseia em apelos estéticos ou intelectuais, mas em resposta ao Espírito e à Palavra de Deus.
  • Invisibilidade de Deus: Deuteronômio 4 e Isaías 40:18-44:9 enfatizam a impossibilidade de representar Deus de maneira adequada através de imagens.
  • Zelo de Deus: O zelo de Deus é comparado ao amor exclusivo de um casamento, significando Seu profundo compromisso com a fidelidade do Seu povo.
  • Consequências das Iniquidades: Deus declara que visitará a iniquidade dos pais nos filhos até a terceira e quarta geração, mas abençoará milhares de gerações dos que O amam e guardam Seus mandamentos. Isto não significa que Ele culpa os filhos pelos pecados dos pais, mas que as ações de uma geração afetam as subsequentes. Exemplos disso são encontrados em Provérbios 14:34; 29:18; Isaías 48:18; Oséias 4:1ss.

Os primeiros dois mandamentos destacam a exclusividade e santidade de Deus, enfatizando que Ele deve ser adorado como se revela e que qualquer forma de idolatria é uma grave ofensa. A relação do povo com Deus deve ser baseada em um compromisso exclusivo e fiel, refletindo a profunda conexão entre o amor a Deus e a obediência aos Seus mandamentos.

3. O Nome de Deus (Êxodo 20:7; Deuteronômio 5:11)

O mandamento que proíbe tomar o nome de Deus em vão pode ser interpretado de diversas maneiras, todas relacionadas ao uso irreverente ou irresponsável do nome de Deus.

  • Usar o nome de Deus "inutilmente": Isto se refere ao uso do nome de Deus para nenhum propósito bom, seja na adoração (como indicado em Salmos 50:16 e Isaías 29:13), na conversa comum (como Jesus adverte em Mateus 5:34), ou numa tentativa de exercer poder (como no incidente de Atos 19:13ss.).
  • Santidade do Nome: A reverência pelo nome de Deus é destacada em histórias como a de Jacó em Peniel (Gênesis 32:30) e Manoá (Juízes 13:18). Moisés também teve uma visão da santidade de Deus (Êxodo 33:18ss.; 34:5ss.), onde o nome de Deus foi proclamado juntamente com Seus atributos.
  • Auto-entrega de Deus: O nome de Deus é uma parte essencial de Sua auto-revelação. Ele não deve ser usado de forma trivial, mas para invocá-lo em verdade e entrar em comunhão reverente com Ele (R. S. Wallace, "The Ten Commandments", p. 53).
  • Consequências do Uso Indevido: O aviso "o Senhor não terá por inocente" (Êxodo 20:7) sugere um contexto primário de perjúrio. Embora o nono mandamento cubra parcialmente isso, os primeiros quatro mandamentos lidam com a questão mais ampla do relacionamento do homem com Deus.

4. O Dia de Deus (Êxodo 20:8-11; Deuteronômio 5:12-15)

O sábado é um dia de "interrupção" ou "descanso" (Gênesis 2:2; Êxodo 16:23,30). Este dia é tanto um presente de Deus quanto um dia santo dedicado a Ele.

  • Dia Santo e de Descanso: O sábado é descrito como "santo" e pertencente ao Senhor, que o "santificou". Ele é também um dia abençoado e um presente para reanimar o homem e o animal (Deuteronômio 5:14).
  • Diferenças entre Êxodo e Deuteronômio: Deuteronômio começa com "Observe" em vez de "Lembre-se" (ambas as palavras são praticamente sinônimas), e termina com o tema da escravidão em vez da criação (Êxodo 20:11).
  • Sinal da Aliança: O sábado é um sinal da aliança (Êxodo 31:12-17; Ezequiel 20:12). As leis específicas do sábado incluem Êxodo 34:21; 35:2,3; Levítico 23:3; 24:8; Números 15:32-36; 28:9,10. A observância do sábado no Antigo Testamento é mencionada em várias passagens, como Êxodo 16:22-30; Neemias 10:31; 13:15-22; Salmo 92; Jeremias 17:21-27; Ezequiel 20:12-24; Amós 8:5.
  • Origem do Sábado: A origem do sábado foi debatida, com sugestões de que possa ter derivado de várias fontes, como os babilônios, quenitas, cananitas, a lua ou o mercado (J. J. Stamm e M. E. Andrew, "The Ten Commandments", pp. 90-95).

B. Amor ao Próximo (Mandamentos 5-10)

5. Respeito aos Pais (Êxodo 20:12; Deuteronômio 5:16)

A autoridade dos pais é vista no Antigo Testamento como parte da ordem divina.

  • Autoridade Inerente: A autoridade de um pai e de uma mãe está mais na sua posição do que nas suas qualidades pessoais (Gênesis 9:20-27). Amaldiçoar ou desafiar os pais eram ofensas capitais (Êxodo 21:17; Deuteronômio 21:18-21; Provérbios 30:11,17).
  • Promessa de Vida Longa: A promessa ligada a este mandamento enfatiza o caráter do Decálogo como a expressão da aliança de Deus com Seu povo peregrino (Efésios 6:2). Os pais têm o dever correspondente de educar seus filhos na lei de Deus (Deuteronômio 6:6-9,20-25; Provérbios 1:8; 6:20; 22:6).
  • Ensino de Jesus: Jesus cita e reafirma este mandamento em vários contextos (Mateus 19:19; Efésios 6:2s). Ele não apoiou nenhum pretexto para evitá-lo (Mateus 15:4ss.; 1 Timóteo 5:4,8).

6. Não matarás (Êxodo 20:13; Deuteronômio 5:17)

O verbo hebraico usado aqui é mais precisamente traduzido como "assassinarás" em vez de "matarás". Isso é evidente pelo contexto de Êxodo e Deuteronômio, onde a matança de animais e, em certos casos, de humanos (em guerra ou judicialmente) é ordenada.

  • Distinção entre assassinato e homicídio: A penalidade para o assassinato, em contraste com homicídio acidental, era a morte (Números 35:22ss.). Essa penalidade já estava em vigor antes da lei do Sinai, conforme os decretos a Noé (Gênesis 9:6).
  • Ensino de Jesus: Jesus ampliou o significado do mandamento, aplicando-o àqueles que se entregam à ira, insultos e brigas (Mateus 5:21-26). Ele destacou a afinidade espiritual do assassino com o diabo, "um homicida desde o princípio" (João 8:44). Primeira João 3:15 marca como um homicida "todo aquele que odeia a seu irmão".

7. Não adulterarás (Êxodo 20:14; Deuteronômio 5:18)

No Antigo Testamento, o adultério é definido como a relação sexual entre um homem e uma mulher casada (Ezequiel 16:32; Oséias 4:13b). A penalidade era a morte para ambas as partes envolvidas (Levítico 20:10; Deuteronômio 22:22).

  • Gravidade do adultério: Embora o adultério seja uma ofensa mais grave que a fornicação (que podia ser resolvida com alguma restituição, como em Deuteronômio 22:28,29), o Antigo Testamento denuncia intensamente toda relação sexual fora do casamento.
  • Responsabilidade do homem: O AT condena o homem mais firmemente do que a mulher em casos de infidelidade (Oséias 4:14). Relações sexuais entre noivos também são proibidas, distinguindo o casamento do noivado (Gênesis 2:24).
  • Ensino de Jesus: Jesus mostrou que o mandamento podia ser violado tanto pelo pensamento quanto pelo ato (Mateus 5:27-28). Ele também condenou o divórcio de um cônjuge fiel (Mateus 5:31-32; Marcos 10:11-12).

8. Não furtarás (Êxodo 20:15; Deuteronômio 5:19)

Além do sentido óbvio de roubo, o Antigo Testamento condena várias formas de roubo indireto:

  • Exploração: Êxodo 22:25-27 e 23:6-8 condenam a exploração.
  • Fraude: Amós 8:5b condena a fraude.
  • Despojamento: Miquéias 2:2 condena o despojamento.
  • Sonegação de direitos: Provérbios 3:27-28 e Malaquias 3:8-10 condenam a sonegação de direitos.
  • Ensino no Novo Testamento: O Novo Testamento endossa o mandamento e exorta à honestidade, trabalho duro e doação caridosa (Efésios 4:28), exemplificando o amor que cumpre plenamente a lei.

9. Não darás falso testemunho (Êxodo 20:16; Deuteronômio 5:20)

O contexto é o tribunal de justiça. Deuteronômio 19:15-21 requer um mínimo de duas testemunhas para uma acusação criminal e faz do falso testemunho uma ofensa sujeita à penalidade.

  • Casos exemplares: Os julgamentos de Nabote (1 Reis 21:13-14) e de Cristo (Mateus 26:59-61) mostram a persistência do falso testemunho.
  • Ensino no Novo Testamento: Efésios 4:15-25 expõe a veracidade no contexto do amor mútuo.

10. Não cobiçarás (Êxodo 20:17; Deuteronômio 5:21)

Este mandamento é explícito quanto às atitudes interiores.

  • Citado por Paulo: Em Romanos 7:7ss., Paulo cita este mandamento como revelador da pecaminosidade interna.
  • Desejo egoísta: O verbo hebraico significa "desejar com todo o coração". Isso inclui qualquer desejo egoísta do homem caído (Gálatas 5:16-17). Em Tiago 1:14, a cobiça é a pré-condição do pecado; em 1 João 2:16, é a ânsia pelas satisfações mundanas. Em Mateus 5:28, Jesus associa o adultério a essa atitude.

CONCLUSÃO:

 O Decálogo, portanto, revela tanto as ações quanto as intenções do coração humano, expondo a raiz do pecado e destacando a importância do amor verdadeiro que cumpre a lei de Deus.

 

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