Breve História do Pentecostalismo Brasileiro

Por Paul Freston no seu livro "Nem Anjos, Nem Demônios - Paul Freston" 2 edição 1994, pp 67-97

A Assembleia de Deus e as Três Ondas do Pentecostalismo Brasileiro

O desenvolvimento do protestantismo no Brasil atingiu um padrão histórico que pode ser compreendido em três grandes ondas de impacto: o calvinismo, o metodismo e, por fim, o pentecostalismo. Cada uma dessas ondas alcançou níveis sociais e culturais diferentes, com o pentecostalismo tendo a penetração mais abrangente entre as camadas populares e nas regiões onde as tradições protestantes anteriores tiveram menor impacto.

David Martin observa que:

"A dissidência protestante... vem em três ondas [calvinista, metodista e pentecostal]... em níveis [sociais] cada vez mais baixos. O metodismo não se expande onde as igrejas calvinistas oficiais foram bem-sucedidas , [e] se restringe basicamente ao ambiente anglo-saxão... O pentecostalismo se expande onde o metodismo e o calvinismo pouco penetraram: as sociedades católicas da Europa latina e da América Latina, e as áreas dominadas por lojas oficiais luteranas” (Martin, 1978a, p. 9-11).

Esses movimentos refletiram a adaptação do protestantismo às condições culturais e sociais das localidades, com o pentecostalismo tendo se estabelecido de forma significativa no Brasil, em grande parte devido à sua abordagem voltada para as massas e à sua ênfase no carisma religioso.

Esta breve análise contextualiza a ascensão das igrejas pentecostais como uma influência tanto social quanto religiosa, marcando profundamente o cenário da fé cristã no Brasil.

A Negligência Histórica no Estudo do Pentecostalismo Brasileiro

O pentecostalismo brasileiro, com mais de 80 anos de história e aproximadamente 13 milhões de adeptos, permanece cuidadoso de uma abordagem acadêmica abrangente de sua trajetória. Essa lacuna afeta diretamente o entendimento sociológico das características. Como alerta Joachim Wach (1944, p. 2), a ausência de uma análise histórica sólida deixa o sociólogo desamparado em suas investigações.

Embora já existam estudos sincrônicos de qualidade, eles não são suficientes para capturar plenamente o movimento em sua dinâmica histórica. Por exemplo, a obra História Documental do Protestantismo Brasileiro (Reily, 1984), apesar de seu volume específico de 400 páginas, dedica apenas 17 páginas ao pentecostalismo e praticamente ignora a Assembleia de Deus — a maior denominação protestante do país —, exceto pelo registro de seu episódio de fundação.

Outros trabalhos, como os de Souza (1969) e Rolim (1985), exploram a diversidade dos grupos pentecostais, mas pouco se aprofundam na evolução histórica do movimento. Esse descuido acadêmico com o aspecto histórico pode refletir, em última análise, um desprezo inconsciente pelas consequências, resultando em uma abordagem incompleta e limitada.

Para compreender o impacto do pentecostalismo na sociedade brasileira, é necessário preencher essa lacuna histórica, oferecendo uma análise que vai além de pontuais e sincrônicas. A memória do movimento, bem como seu papel transformador, merece maior atenção e reconhecimento nas investigações acadêmicas.

Pentecostalismo e a Tensão entre Investigação e Sentimento Religioso

O protestantismo, como observa Wallis (1979, p. 211), não é geralmente monolítico o suficiente para que se possa ter uma visão única e válida de sua estrutura e comportamento. No entanto, nem todos os grupos pentecostais se alinham perfeitamente ao tipo ideal de seita, como frequentemente categorizado. Na verdade, o desconforto diante das investigações externas não é um traço exclusivo das seitas, nem mesmo das religiões em geral.

Um exemplo dessa tensão pode ser encontrado na declaração do periódico Mensageiro da Paz , que descreve o pentecostalismo como um "movimento do Espírito Santo e, por conseguinte, imune aos condicionamentos naturais das sociedades humanas." Embora essa perspectiva teológica possa ser criticada por sua inclusão às influências socioculturais, o sentimento expresso não é exclusivo dos pentecostais.

Essa resistência reflete uma compreensão espiritualizada do movimento, que prioriza a ação divina sobre explicação humana. Contudo, para um entendimento mais completo, é necessário um equilíbrio entre a vivência religiosa e uma análise crítica que considere os fatores históricos, sociais e culturais que moldam a frequência pentecostal.

A Necessidade de uma Leitura Sociológica do Pentecostalismo

Os textos religiosos de caráter doméstico, escritos para edificação, frequentemente destacam o heroísmo e as decisões específicas relacionadas aos seus protagonistas. Contudo, o normal e o cotidiano, que são fundamentais para o trabalho sociológico, geralmente não recebem a mesma ênfase. Para uma análise mais profunda, é essencial ler além das narrativas extraordinárias, prestando atenção às "entrelinhas comuns", isto é, reintroduzir os "heróis docéticos" em um contexto terreno e humano.

Os dados disponíveis sobre as lojas pentecostais, em muitos casos, são fragmentários e insuficientes para reconstruir uma história completa. Nessa relação, é necessário recorrer com cuidado a informações de outros grupos religiosos semelhantes e às tipologias fornecidas pela sociologia da religião. Esses modelos ideais ajudam a interpretar as características pentecostais e suas instituições, orientando a análise para compreender tanto os aspectos exclusivos quanto os cotidianos que moldam o movimento.

Apenas uma abordagem equilibrada, que um dos fatos históricos e sociológicos com a riqueza simbólica das narrativas religiosas, pode fornecer um retrato mais fiel do pentecostalismo brasileiro.

As Três Ondas do Pentecostalismo Brasileiro

A história do pentecostalismo brasileiro pode ser dividida em três grandes ondas de implantação de igrejas, que refletem diferentes períodos de expansão, fragmentação e transformação no cenário religioso nacional.

Primeira Onda: Década de 1910

A primeira onda teve início nos anos 1910, com a fundação da Congregação Cristã no Brasil (1910) e da Assembleia de Deus (1910). Ambas surgiram com forte influência do movimento pentecostal iniciado nos Estados Unidos e rapidamente se consolidaram como pioneiras no território brasileiro. Durante décadas, a Assembleia de Deus manteve uma posição dominante, sendo praticamente a única grande igreja pentecostal com expansão significativa, especialmente nos estados do Norte, onde o protestantismo era quase inexistente até então.

Além disso, a Assembleia de Deus se destacou por ser a primeira grande igreja protestante a estabelecer raízes fora do eixo Rio-São Paulo. Suas primeiras décadas marcaram a consolidação estratégica em regiões que mais tarde foram cruciais no fluxo migratório nacional, o que contribuiu para sua irradiação por todo o país.

Segunda Onda: Anos 1950 e Início dos 1960

A segunda onda ocorreu nas décadas de 1950 e início de 1960, período marcado pela fragmentação do campo pentecostal e por uma maior dinamização das relações com a sociedade. Durante esse período, surgiram promoções de novas denominações, entre as quais três se destacaram:

Igreja do Evangelho Quadrangular (1951)

O Brasil para Cristo (1955)

Igreja Pentecostal Deus é Amor (1962)

Esse período foi caracterizado pela intensidade denominacional e pela popularização do movimento pentecostal em diferentes regiões do Brasil, estabelecendo uma base diversificada que marcaria o cenário evangélico por décadas.

Terceira Onda: Final dos Anos 1970 e Anos 1980

A terceira onda começou no final da década de 1970 e consolidou-se nos anos 1980. Ela trouxe um caráter mais urbano, inovador e adaptado ao contexto cultural da época. A representação mais expressiva desse período é a Igreja Universal do Reino de Deus (1977), seguida por outros grupos significativos, como a Igreja Internacional da Graça de Deus (1980).

Essas novas tendências se destacaram por introduzir estéticas e estratégias de comunicação modernas, muitas vezes inspiradas em modelos norte-americanos, e por enfatizar uma espiritualidade contextualizada com o ambiente urbano e mediático. Essa terceira onda marcou um novo capítulo no pentecostalismo brasileiro, com foco crescente em evangelismo de massa, práticas inovadoras e interação com a cultura de consumo e entretenimento.

Em suma, o pentecostalismo brasileiro passou por ciclos sucessivos de expansão e transformação, moldando-se a diferentes contextos históricos, sociais e culturais, ao mesmo tempo em que ampliava sua influência no cenário religioso nacional.

O Contexto da Inserção Histórica no Pentecostalismo Brasileiro

Organizar o campo pentecostal em ondas históricas é uma abordagem vantajosa por enfatizar tanto as características do movimento quanto sua evolução ao longo do tempo. Essa perspectiva evidencia também como cada igreja pentecostal carrega marcas específicas do período em que foi fundada, refletindo as condições sociais, culturais e religiosas predominantes.

Bryan Wilson (1982, p. 106) observa que:

"As seitas tendem a ser mais influenciadas do que percebem... pelas facilidades seculares prevalecentes. Isso ocorre porque a capacidade de adaptação é uma fórmula essencial de sucesso para as seitas modernas."

No caso do pentecostalismo, grupos fundados em diferentes períodos refletem diferentes contextos históricos. A Assembleia de Deus dos anos 1980, por exemplo, desfrutava de maior liberdade e se firmava em comparação aos desafios enfrentados em sua fundação, na década de 1910. Ainda assim, ao ser colocado em perspectiva com a Igreja Universal do Reino de Deus, torna- fica evidente como os condicionamentos históricos influenciam a atuação e as estratégias de cada grupo.

Essas dinâmicas mostram que a evolução do pentecostalismo brasileiro não é apenas fruto de movimentos internos, mas também do impacto de contextos seculares. A capacidade de adaptação e inovação frente a esses cenários é uma das marcas centrais do pentecostalismo, contribuindo para sua expressiva presença no Brasil.

Por que as Três Ondas do Pentecostalismo Brasileiro Surgem nos Momentos Indicados?

A emergência das três ondas do pentecostalismo brasileiro pode ser explicada por cruzamentos de fatores históricos, sociais e religiosos, que proporcionaram o ambiente ideal para o surgimento e a consolidação dessas diferentes etapas. Embora o crescimento do pentecostalismo como um todo não possa ser completamente capturado por generalizações globais, algumas pistas específicas podem ajudar a compreender sua evolução no Brasil.

Primeira Onda: Década de 1910

O contexto inicial da primeira onda corresponde ao momento de origem mundial e à expansão do pentecostalismo para diferentes continentes. Surgido no início do século XX, o movimento pentecostal chegou ao Brasil com a fundação da Congregação Cristã no Brasil (1910) e da Assembleia de Deus (1910).

No entanto, a recepção inicial foi limitada. Até 1930, os pentecostais representavam menos de 10% da população protestante brasileira, concentrando-se principalmente nas comunidades protestantes de missão, excluindo os luteranos. Esse período reflete as dificuldades iniciais de limitações e adaptação do pentecostalismo em um cenário dominado pelo catolicismo e pelo protestantismo histórico.

Segunda Onda: Anos 1950

Uma segunda onda surge em um período de rápida urbanização e formação de uma sociedade de massas no Brasil, especialmente nos grandes centros urbanos como São Paulo. Esse novo contexto rompe com os modelos tradicionais de organização religiosa e cria espaço para inovações no campo pentecostal.

O objetivo dessa transformação foi a chegada da Igreja do Evangelho Quadrangular (1951), trazendo métodos ousados ​​de evangelismo e comunicação de massa diretamente inspirados pela Califórnia do período entre-guerras — o berço dos modernos meios de comunicação.

Além disso, fatores geopolíticos desenvolvidos: após a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos redirecionaram sua atenção para a América Latina, tanto no âmbito político quanto religioso, visto que grande parte da mão de obra missionária foi deslocada da China após seu fechamento. No entanto, quem inicialmente lucrou com esse novo modelo foi a Igreja Pentecostal Brasil para Cristo (1955) , que conseguiu adaptar criativamente as estratégias estrangeiras ao contexto cultural e nacionalista brasileiro.

Terceira Onda: Fim dos Anos 1970 e Anos 1980

A terceira onda surge em um contexto de crescente globalização e urbanização nas últimas décadas do século XX. Ela não reflete apenas uma continuidade dos fatores anteriores, mas também uma sofisticação estratégica das igrejas pentecostais. Liderada por grupos como a Igreja Universal do Reino de Deus (1977) e a Igreja Internacional da Graça de Deus (1980) , essa fase trouxe elementos de inovação estética e organizacional, com foco em evangelismo midiático, forte presença nos centros urbanos e uma espiritualidade que dialogava diretamente com as necessidades de consumo religioso das grandes massas.

Essas igrejas foram profundamente influenciadas pelo contexto cultural brasileiro, apresentando uma estética urbana e carismática que atraía grandes contingentes de pessoas em busca de esperança, cura e ameaças.

Cada onda do pentecostalismo brasileiro emergiu em momentos históricos específicos, marcados por mudanças no cenário social e cultural, pela influência de movimentos religiosos internacionais e por transformações nas dinâmicas internas da sociedade brasileira. O movimento evoluiu e se adaptou, sempre encontrando maneiras criativas de crescer e consolidar sua presença no Brasil. Essa evolução reflete tanto sua resiliência quanto sua capacidade de atender às demandas espirituais e sociais do povo brasileiro ao longo do tempo.

A Terceira Onda do Pentecostalismo e suas Origens

A Terceira Onda do Pentecostalismo Brasileiro

A terceira onda do pentecostalismo brasileiro emerge em um contexto de mudanças estruturais no país, intensificadas pela modernização autoritária promovida pelo regime militar. Esse período foi marcado por avanços significativos na infraestrutura de comunicações e na urbanização que já abrangia dois terços da população.

Por outro lado, o “milagre econômico” havia se exaurido, dando lugar à crise econômica dos anos 1980, a chamada “década perdida”. Essa fase também coincidiu com a decadência econômica e social do Rio de Janeiro, um cenário marcado pela violência, pela influência das máfias do jogo e por políticas populistas. Foi nesse ambiente de instabilidade e desamparo que as igrejas como a Igreja Universal do Reino de Deus e outras denominações semelhantes encontraram terrenos férteis para crescer. Essas tendências trouxeram uma abordagem inovadora, adaptada às necessidades urbanas e utilizando amplamente os meios de comunicação, especialmente a televisão e o rádio.

Precursores do Pentecostalismo no Brasil

Embora o pentecostalismo popular como o tenha sido surgido no início do século XX, o Brasil teve precursores de um protestantismo mais místico em períodos anteriores. Dois personagens importantes se destacam:

José Manoel da Conceição (1822–1873)

Ex-padre que se tornou pastor presbiteriano em 1865, Conceição defendeu uma reforma do catolicismo brasileiro. Ele sonhava com um "cristianismo brasileiro" — evangélico, mas enraizado nas tradições e hábitos populares. Contudo, sua visão o levou dos missionários presbiterianos, resultando em sua exclusão.

Miguel Vieira Ferreira e a Igreja Evangélica Brasileira (1879)

Rompendo com o presbiterianismo, Vieira defendeu uma espiritualidade mais experiencial, afirmando que Deus ainda se comunicava diretamente com as pessoas, uma ideia rejeitada pelos presbiterianos, que enfatizavam uma autoridade exclusiva das Escrituras. No entanto, sua Igreja Evangélica Brasileira foi formada por uma elite de ricos, visto que Vieira vinha de uma família influente do Maranhão.

Limitações do Contexto Social para o Pentecostalismo Inicial

No Brasil do século XIX, as alternativas protestantes limitavam-se a uma reforma interna da Igreja Nacional ou à introdução de denominações protestantes voltadas às camadas livres e mais influentes da sociedade. No entanto, as condições sociais e culturais do Império tornaram o surgimento de um movimento como o pentecostalismo popular naquele momento, que exigia um terreno preparado para uma experiência religiosa profundamente emocional e acessível às massas.

A terceira onda do pentecostalismo encontrou no Brasil dos anos 1980 um cenário de crise econômica e desilusão social que facilitou sua expansão, especialmente em áreas urbanas. Embora as sementes de um cristianismo mais místico tenham sido plantadas anteriormente por figuras como José Manoel da Conceição e Miguel Vieira Ferreira, foi apenas no século XX, num contexto de maior receptividade popular, que o pentecostalismo popular conseguiu se firmar como uma força transformadora no cenário religioso brasileiro.

As Influências do Messianismo e do Pentecostalismo Brasileiro

Os Movimentos Messiânicos no Brasil

Antes do pentecostalismo se consolidar como um dos maiores movimentos religiosos do país, existiam os movimentos messiânicos, que podem ser considerados uma forma de proto-pentecostalismo . Esses movimentos, populares e independentes, frequentemente apresentavam manifestações de carismas, como profecias e glossolalia, elementos posteriormente associados ao pentecostalismo.

Os últimos grandes movimentos messiânicos brasileiros coincidem historicamente com os primeiros passos do pentecostalismo, nos anos iniciais do século XX. Contudo, fatores como o crescimento econômico contínuo entre 1930 e 1980, a maior mobilidade social individual e a centralização burocrática e militar do Brasil, especialmente a partir dos anos 1960, inibiram o surgimento de novos movimentos messiânicos.

Com essas transformações, o pentecostalismo pode ser visto como um redirecionamento histórico da articulação da desconformidade religiosa , oferecendo uma via de importação, institucionalizada, produtiva e aparentemente apolítica para a expressão do descontentamento social e espiritual.

O Pentecostalismo como Movimento Importado

Embora o pentecostalismo brasileiro tenha incluído elementos nacionais, como a espiritualidade popular e a tradição de resistência religiosa, ele foi, de fato, um movimento originado nos Estados Unidos em 1906 , com o famoso avivamento da Rua Azusa, em Los Angeles.

As Raízes Genealógicas do Pentecostalismo

O Avivamento Metodista do Século XVIII

O metodismo, liderado por John Wesley, dinâmica o conceito de uma "segunda obra da graça" , distinta da salvação inicial. Wesley chamou essa experiência de "perfeição cristã", marcando o início de um novo nível de santidade e compromisso com Deus.

Movimento de Santidade

Na segunda metade do século XIX, o movimento de santidade adaptou o conceito wesleyano sob a influência cultural do Romantismo , promovendo uma experiência mais acessível e imediata, chamada de "batismo no Espírito Santo" . Esse movimento popularizou a ideia de que a piedade poderia ser intensificada por uma mística escapista, alinhando-se à sensibilidade romântica da época.

O movimento de santidade impactou muitas denominações tradicionais, mas também deu origem a pequenos grupos separatistas, focados em santidade radical e renovação espiritual. Foi entre esses grupos que nasceram no pentecostalismo, caracterizados por manifestações de carismas como cura, profecia e glossolalia.

O Pentecostalismo no Brasil e suas Peculiaridades

Ao chegar ao Brasil, o pentecostalismo encontrou um terreno fértil para crescer, mas se adaptou ao contexto nacional para incorporar aspectos das tradições populares brasileiras, como o misticismo messiânico.

No entanto, diferentemente dos movimentos messiânicos, que geralmente eram difusos e com resistência à institucionalização, o pentecostalismo estruturava-se de maneira organizada, integrando-se ao processo social e econômico. Essa transformação marcou sua diferença, permitindo que o movimento se tornasse um dos mais expressivos religiosos do país.

O pentecostalismo brasileiro é fruto de múltiplas influências, combinando suas raízes estadunidenses com elementos locais, como os movimentos messiânicos e as tradições populares. Sua institucionalização e adaptação às mudanças sociais e econômicas brasileiras permitiram que se tornasse um movimento abrangente e influente, consolidando-se como uma força religiosa relevante no cenário nacional.

O Surgimento do Pentecostalismo: Expectativa de Avivamento e a Influência de Charles Parham e WJ Seymour

Expectativa do Fim do Mundo e o Avivamento

No final do século XIX, uma expectativa crescente estava sendo alimentada em vários círculos religiosos, especialmente nos movimentos evangélicos e pentecostais. Acreditava-se que o fim do mundo estaria próximo, e que seria precedido por um grande avivamento espiritual, semelhante ao que se acredita ter ocorrido na Igreja primitiva, com a manifestação do aparecimento de glossolalia — o falar em línguas, teve como uma evidência do batismo no Espírito Santo. Em meio a alguns exemplos esporádicos desse aspecto, essa expectativa foi instrumental no surgimento de um movimento distinto: o pentecostalismo.

Charles Parham e a Fórmula Doutrinária do Pentecostalismo

A doutrina fundamental que permitiu a consolidação do movimento pentecostal foi proposta por Charles Parham, um educador do Kansas que dirigiu uma escola bíblica. Por volta de 1900, ele desenvolveu a ideia de que as características da glossolalia (o falar em línguas) seriam uma evidência inequívoca do batismo no Espírito Santo. Parham formulou a concepção de que, ao contrário de outras manifestações espirituais, as línguas seriam o sinal visível da presença do Espírito.

Entretanto, embora Parham tenha sido responsável por estabelecer a teoria doutrinária central, ele não foi o personagem central na expansão internacional do movimento pentecostal. Além disso, sua visão estava longe de ser inclusiva, já que Parham mantinha atitudes racistas, chegando a permitir que seus alunos negros ouvissem suas aulas somente do lado de fora da sala (Hollenweger 1986).

A Ascensão de WJ Seymour

O verdadeiro estopim do movimento pentecostal não veio de Charles Parham, mas sim de um aluno negro de Parham, William J. Seymour . Seymour, um batista nascido como escravo, cego de um olho e trabalhando como garçonete, tinha uma visão mais inclusiva e missionária. Sua dedicação ao avivamento pentecostal em Los Angeles, especialmente após ser influenciada por Parham, foi o que realmente fez o movimento pentecostal se expandir além das fronteiras locais, tornando-se um movimento de proporções internacionais.

Seymour é frequentemente lembrado como o verdadeiro pioneiro do pentecostalismo moderno, particularmente pela liderança do famoso avivamento da Rua Azusa , em Los Angeles, em 1906. O avivamento, que durou mais de três anos e atraiu pessoas de todo o mundo, transformou uma pequena escola bíblica e a experiência isolada de glossolalia em uma marca global de um movimento transformador religioso.

O pentecostalismo, apesar de suas raízes em uma doutrina estabelecida por Charles Parham, ganhou seu verdadeiro impulso e alcance internacional graças à visão inclusiva e à liderança de WJ Seymour . A expectativa de um grande avivamento, impulsionada por uma teologia fundamentada na glossolalia, e a experiência vívida em Los Angeles, consolidaram o movimento como um dos mais influentes da história religiosa mundial.

Rua O Avivamento de Azusa e a Expansão Inicial do Pentecostalismo

Em 1906 , William J. Seymour foi convidado para pregar em Los Angeles, uma cidade em grande crescimento, ideal para a propagação do pentecostalismo. Seymour estava ligado à Igreja Santidade , que havia fomentado a busca por uma experiência mais profunda com o Espírito Santo, descrita pelo "batismo no Espírito Santo" e pela glossolalia. Seu ministério em Los Angeles teve grande sucesso, levando-o a alugar um antigo armazém na Rua Azusa , onde fundou a Missão de Fé Apostólica .

A prática da prática pentecostal e a localização estratégica de Los Angeles, com sua grande diversidade, novidade étnica e sua posição de fronteira, logo atraíram seguidores, incluindo muitos brancos. A liderança multiétnica e multirracial da Missão de Azusa Street foi notável, destacando-se o fato de que dos 12 dirigentes responsáveis, seis eram mulheres . Isso contrastava com a estrutura das tradições tradicionais da época e refletia a natureza inclusiva e igualitária dos primeiros tempos do movimento pentecostal, especialmente nas suas interações raciais e de gênero.

O Pentecostalismo Inicial: Convivência Multirracial

A convivência multirracial e o forte papel das mulheres negras e líderes negras nos primeiros anos do movimento foi uma característica marcante. Pastores brancos do Sul dos Estados Unidos, predominantemente protestantes e racistas, vinham de várias partes para participar das reuniões em Los Angeles e buscavam as ministrações de líderes negros. Essa colaboração inter-racial, tão rara e surpreendente na época, fez com que a Missão de Azusa se tornasse um centro de propagação do pentecostalismo.

Entretanto, essa experiência multirracial não perdurou. O movimento pentecostal, originalmente concebido como uma renovação das tendências tradicionais, começou a se solidificar em grupos independentes , separados por disputas doutrinárias e teológicas. A segregação racial dentro desses grupos também se manifestou rapidamente. No início, os brancos que receberam a ordenação na Igreja de Deus em Cristo , uma organização de forte presença negra, se separaram para fundar uma nova denominação : a Assembléia de Deus . Fundada em 1914, essa nova igreja era predominantemente branca e evidenciava a separação racial dentro do movimento pentecostal, que duraria a maior parte de sua história.

Adventismo e a Expectativa do Fim do Mundo

Uma das características definidas do movimento pentecostal inicial foi seu adventismo . Os primeiros pentecostais acreditavam que a manifestação do Espírito, como a glossolalia, era um sinal visível da iminente volta de Cristo . Para os primeiros pentecostais, essa experiência espiritual serviu como uma prova de que a chegada do Reino de Deus estava perto. O movimento se concentrou na evangelização e pregação , mas não investiu fortemente na organização formal de igrejas, na construção de pastores e nas missões resultantes, nem no estabelecimento de uma estrutura eclesiástica profissionalizada. Os líderes vivem basicamente das contribuições avulsas dos fiéis, sem mudanças fixas ou estabilidade.

No entanto, com o passar dos anos, a não concretização do evento esperado — a segunda vinda de Cristo — fez com que a glossolalia deixasse de ser vista apenas como um sinal da iminência do fim, para tornar-se o centro da teologia pentecostal . A prática de falar em línguas começou a ser reinterpretada e entendida como um dos marcos principais da experiência espiritual do crente , solidificando a posição do pentecostalismo como um movimento de renovação religiosa e não meramente um precursor de um fim apocalíptico.

O movimento pentecostal que começou em Los Angeles, na Rua Azusa, com uma base multirracial e inclusiva, experimentou uma expansão dinâmica e transformadora. Entretanto, logo foi marcado por divisões raciais e doutrinárias, enquanto a sua característica adventista cedeu lugar a uma ênfase maior na experiência espiritual imediata , particularmente a glossolalia. Essa transformação na teologia e na organização institucional continuou a moldar o pentecostalismo ao longo das décadas seguintes, enquanto suas primeiras lições de inclusão e renovação começaram a ser desafiadas pela realidade das separações raciais e denominacionais.

A Elaboração Doutrinária e a Expansão do Pentecostalismo

A aparência da glossolalia em si — ou a prática de falar em línguas — não era, na realidade, a novidade do movimento pentecostal. Muitos grupos religiosos já aprenderam práticas semelhantes em outros contextos. O que realmente distingue o pentecostalismo foi uma elaboração doutrinária que deu à glossolalia uma centralidade teológica e litúrgica . Essa teologia, centrada na experiência do batismo com o Espírito Santo , conferiu às características um caráter de prova da santificação do crente e da presença ativa do Espírito Santo na vida da Igreja. A glossolalia passou de um simples sinal de fervor religioso para uma manifestação central, unificando e distinguindo o pentecostalismo das demais vertentes cristãs.

Com essa ênfase doutrinária, o movimento se apoia rapidamente, aproveitando a grande rede organizada do movimento santidade . Esta rede de igrejas e missões de santidade , com suas raízes em uma espiritualidade mais intensa e de experiências imediatas com Deus , foi a grande responsável pela difusão do pentecostalismo, especialmente nos Estados Unidos e, consequentemente, em outros países.

Fatores de Expansão Global

Além da força de sua doutrina e práticas, o pentecostalismo encontrou um terreno fértil para sua expansão mundial através de fatores sociopolíticos e comunicacionais . A presença de muitos missionários americanos participantes fora dos Estados Unidos ajudou na propagação do movimento, especialmente em regiões da América Latina, Europa e África. Essas missões mantinham contatos diretos com os acontecimentos que ocorriam em Los Angeles e em outros centros pentecostais no mundo, repassando essas novidades aos cristãos de suas comunidades.

Outro fator importante foi o grande número de imigrantes que se estabeleceram nos Estados Unidos vindos de diversas partes do mundo. Esses imigrantes não apenas levaram o pentecostalismo de volta para seus países de origem, mas também estabeleceram conexões com outros compatriotas que já se deslocaram para outras partes do mundo. Isso formou uma rede transnacional de movimentos pentecostais, possibilitando sua rápida expansão.

O Início do Pentecostalismo no Brasil

Quando o pentecostalismo chegou ao Brasil no início do século XX, encontrou um contexto peculiar. Não havia grandes recursos financeiros ou uma estrutura denominacional já estabelecida. O movimento foi mais focado em uma última missão evangelística antes do fim do mundo — uma característica do adventismo pentecostal — do que na organização institucional das igrejas. Isso resultou em um movimento menos centralizado do que as missões históricas do protestantismo, como as de inspiração luterana, presbiteriana ou metodista, que promovem a criação de grandes organizações , com posição, normas e instituições.

Dessa maneira, o pentecostalismo brasileiro, ao contrário de outras formas de cristianismo protestante, desenvolveu um caráter mais independente e independente, sem as relações de dependência com as denominações missionárias que caracterizavam as igrejas protestantes tradicionais. Esse aspecto de "autoctonia", de adaptação ao contexto brasileiro , foi um dos fatores que ajudaram o movimento a crescer de forma acelerada no país, atingindo rapidamente a classe trabalhadora e as camadas populares . A flexibilidade do pentecostalismo, bem como sua ênfase em experiências diretas com o Espírito Santo e sua natureza antiinstitucional ajudaram-no a se espalhar de forma mais ágil e orgânica, atravessando barreiras sociais e regionais.

A Assembleia de Deus: Ética Sueco-Nordestina e Contexto Histórico

UM Assembleia de Deus (AD) é um dos maiores movimentos religiosos do Brasil, mas a compreensão de sua origem e ethos passa pelo entendimento de duas realidades: suas raízes suecas e seu posterior desenvolvimento no nordeste brasileiro. Essa interação cultural moldou profundamente sua identidade, práticas e ethos religioso.

Raízes Suecas e o Movimento Pentecostal

O pentecostalismo encontrou espaço fértil na cidade de Chicago , nos Estados Unidos, onde 75% da população era formada por imigrantes ou descendentes de imigrantes no início do século XX. Entre esses grupos eram escandinavos, como os suecos, que viviam em condições muitas vezes precárias e enfrentavam exploração laboral e prejuízo social.

Na Suécia da época, o contexto não era mais promissor. O país vive um período de estagnação econômica com baixa diferenciação social. As reformas liberais apenas começaram a tomar forma em meados do século XIX, incluindo a liberdade religiosa em 1860 e, mais tarde, a criação de um governo parlamentar em 1905. O crescimento econômico sueco só se consolidou durante a Primeira Guerra Mundial , que serviu como base para as transformações sociais e econômicas subsequentes.

Mais de um milhão de suecos migraram para os Estados Unidos entre 1870 e 1920. Muitos desses imigrantes abraçaram a mensagem pentecostal por sua ênfase em experiências pessoais com Deus e pela praticidade espiritual em contextos sociais adversos. Assim, o pentecostalismo sueco nasceu como resposta à resistência religiosa , social e cultural, absorvendo características de fervor e ascetismo que viriam a influenciar diretamente a Assembleia de Deus no Brasil.

Trajetória no Nordeste Brasileiro

Embora tenha começado com missões nórdicas, como Gunnar Vingren e Daniel Berg, a AD rapidamente se enraizou no nordeste brasileiro, transformando seu ethos inicial. O Nordeste, uma região historicamente marcada pela pobreza , desigualdade social e forte influência católica, foi o primeiro espaço de expansão do movimento no Brasil. A necessidade de se conectar culturalmente com a população local levou à adoção de uma prática ascética rigorosa e de uma liturgia acessível.

A característica central desse ethos sueco-nordestino é uma espiritualidade intensamente praticada no cotidiano, marcada pela simplicidade, separação do "mundo" e um alto padrão moral. O trecho citado pelo pastor José Wellington Bezerra da Costa, ao afirmar que os crentes da AD evitam práticas como o uso de joias ou maquiagens, reflete uma tentativa de conservar essa tradição ética e distinção espiritual.

Tensões e Institucionalização

Conforme a AD cresceu, começou a enfrentar o desafio da institucionalização. O crescimento massivo trouxe mudanças culturais e operacionais que tiveram foco interno. Como indicado pelo pastor Geremias de Couto, essas mudanças geraram "deturpações dos postulados históricos-pentecostais" , à medida que os desafios da institucionalização impuseram adaptações à estrutura histórica e teológica do movimento.

A trajetória da Assembleia de Deus, partindo de raízes suecas em Chicago até sua disseminação no nordeste brasileiro, revela um movimento de profunda adaptabilidade . A combinação da síndrome ascética sueca e da espiritualidade fervorosa nordestina criou uma identidade única que moldou as práticas e os valores da denominação no Brasil. Essa herança permite compreender não apenas suas práticas religiosas, mas também os desafios enfrentados por um movimento que cresce em número e complexidade enquanto busca manter sua essência original.

Liberdade Religiosa e Padrão Escandinavo no Contexto Pentecostal

Na virada do século XIX para o XX, a liberdade religiosa nos países escandinavos, embora formalmente reconhecida, ainda era limitada em termos práticos. A presença de uma igreja estatal luterana com altíssimo índice de adesão formal (cerca de 95%) dominava o cenário religioso. Nesse sistema, a religião funcionava mais como um sentimento cultural do que como prática ativa e comunitária, e a pluralidade religiosa era marginal.

Características da Religião Escandinava

Igreja Estatal Monolítica:

A Igreja Luterana Estatal possuía controle formal sobre quase toda a população, especialmente por meio dos ritos de passagem (batismo, casamento e funeral).

Essa adesão, no entanto, não indicava envolvimento prático: apenas cerca de 5% das pessoas participavam regularmente das atividades religiosas.

Pluralismo Interno:

Em vez de pluralismo institucional (como nos contextos anglo-americanos), predominava o pluralismo interno na forma de movimentos pietistas e espiritualistas, como os batistas, que surgiram apenas na segunda metade do século XIX e eram pequenos e enfraquecidos.

Aliança Religião-Estado:

Diferentemente da Igreja Católica em países de forte tradição católica, a Igreja Luterana era mais subordinada ao Estado. Esse vínculo criou uma instituição maleável às mudanças políticas e sociais impostas pela modernidade.

Polarização Sociopolítica:

Enquanto o clero formado nas universidades ocupava um papel de alta prestígio na estrutura estatal, as periferias religiosas frequentemente se associavam à centro-direita, contrapondo-se à social-democracia metropolitana dominante, especialmente quando esta carregava elementos anticlericais e marxistas em sua origem.

Impacto na Expansão do Pentecostalismo

Esse contexto escandinavo foi fundamental para moldar o ethos de grupos que mais tarde desenvolveram para o pentecostalismo, como os pioneiros suecos Gunnar Vingren e Daniel Berg, que trouxeram essas características ao Brasil:

Ascetismo e Espiritualidade Prática:

A religiosidade luterana escandinava, desprovida de emoção comunitária, abriu espaço para expressões mais fervorosas de espiritualidade prática e pessoal, como as vistas no pentecostalismo.

Fragilidade de Denominações Dissidentes:

A ausência de igrejas dissidentes fortes criou oportunidades para o pentecostalismo ocupar um lugar entre as populações que buscavam alternativas religiosas, especialmente os migrantes.

Conexão com as Periferias:

O pentecostalismo manteve uma ligação natural com as periferias sociopolíticas escandinavas, expandindo-se entre populações marginalizadas e descontentes, um padrão que seria replicado em suas missões no exterior, inclusive no Brasil.

O padrão escandinavo de relação entre religião e sociedade preparou o terreno para o surgimento de alternativas religiosas como o pentecostalismo. A combinação de uma religião institucional enfraquecida, dissidências emergentes e comunidades periféricas desenvolveram um contexto fértil para o crescimento de expressões fervorosas e práticas da fé cristã, moldando significativamente o pentecostalismo que, posteriormente, cruzaria fronteiras e se enraizaria em países como o Brasil.

O Contexto Sueco e o Surgimento do Pentecostalismo

A Suécia do final do século XIX e início do XX apresenta um contexto social, cultural e religioso muito diferente do denominacionalismo encontrado nos Estados Unidos. A predominância da Igreja Luterana estatal e a repressão às pequenas dissidências protestantes tornaram o ambiente pouco favorável à pluralidade religiosa e à expressão explícita de movimentos divergentes, como os batistas ou os pentecostais.

Marginalização das Dissidências Religiosas

Batistas e sua Emigração:

Muitos batistas suecos, enfrentando restrições e marginalização, buscaram melhores condições no exterior, especialmente nos Estados Unidos, onde a liberdade religiosa era mais protegida.

Aqueles que se apoiaram na Suécia ocuparam uma posição periférica e reprimida no panorama religioso local.

Consolidação Pentecostal:

Foi dentro desse ambiente limitado e homogêneo que o pentecostalismo começou a se firmar. Herdando elementos da tradição batista, o movimento rapidamente sobrepujou essas denominações dissidentes menores, confirmando uma tendência observada por David Martin : em culturas de tradição luterana, a dissidência explícita chega tardiamente, mas tende a adquirir um forte componente pentecostal .

A Influência dos Missionários Suecos no Brasil

Os missionários suecos que desempenharam um papel crucial nos primeiros 40 anos da Assembleia de Deus (AD) no Brasil tinham suas raízes em um contexto de marginalização social e religiosa:

Insignificância Numérica na Suécia:

Pertenciam a uma minoria religiosa insignificante em sua terra natal, onde a hegemonia luterana e o conservadorismo cultural deixavam pouco espaço para novas expressões da fé cristã.

Essa condição foi preparada para lidar com contextos de adversidade e exclusão, como a encontrada no Brasil, especialmente em regiões de população pobre e marginalizada.

Adaptação e Resiliência:

O pentecostalismo sueco incorporava práticas e doutrinas que enfatizavam a experiência pessoal com Deus, a simplicidade da fé e o fortalecimento comunitário, características que encontraram em terreno fértil no Brasil.

Os missionários suecos trouxeram consigo um ethos de trabalho diligente e desapego material, características que marcaram o início da AD no país.

A experiência de marginalização vivida pelos pentecostais suecos em sua terra natal teve um impacto direto na maneira como moldaram o pentecostalismo no Brasil. Sem a pretensão de criar grandes estruturas e instituições, os missionários suecos promoveram uma espiritualidade adaptável e prática, que rapidamente se enraizou e expandiu no contexto brasileiro, especialmente entre os setores menos favorecidos da sociedade.

Os Missionários Suecos e o Desenvolvimento da Assembleia de Deus no Brasil

As missões suecas que influenciaram profundamente os primeiros quarenta anos da Assembleia de Deus (AD) vieram de um país marcadamente homogêneo, centralizado e culturalmente cosmopolita, onde uma dissidência religiosa era restrita. Essa origem moldou um perfil missionário bastante distinto, com características que refletiram sua experiência de exclusão social e marginalização religiosa na Suécia.

Contexto Religioso e Social Sueco

Homogeneidade e Marginalização Religiosa:

A Suécia no início do século XX era dominada pela Igreja Luterana estatal , que monopolizava aspectos religiosos e culturais, com status elevado na sociedade.

A burocracia estatal estava profundamente ligada ao clero luterano, dificultando a existência e a expressão de minorias religiosas como batistas e pentecostais.

As missões suecas pertencem a uma minoria religiosa insignificante , formada por grupos dissidentes marginalizados e distantes do status político ou cultural dominante.

Rejeição ao Clero Liberal e à Cultura Secular:

Os pentecostais suecos rejeitaram tanto o clero luterano culto e liberal quanto o secularismo que permeava a crescente social-democracia na Suécia.

Adotavam uma religião leiga e contracultural , caracterizada por fervor espiritual e desconfiança do anti-intelectualismo estatal .

Características dos Missionários Suecos

Postura Modesta e Antiinstitucional:

A experiência de marginalização moldou nos suecos uma postura de humildade, martírio e resistência cultural, que os distanciava do modelo institucionalista americano .

Enquanto os missionários americanos buscavam criar grandes redes de instituições alternativas, os suecos não tinham essa aspiração. Sua atuação foi marcada pela simplicidade e modéstia social, desprovida de preocupação com ascensão ou controle político.

Religiosidade Contracultural:

Acostumados a um Estado unitário centralizado , onde não tinham meios de competir com o estabelecimento cultural dominante, os missionários suecos enfatizavam a fé fervorosa e a erudição teológica como ferramentas espirituais.

Sua religião foi um reflexo de resistência cultural , em vez de tentativa de integração social.

Impacto no Brasil

Adaptação ao Contexto Nacional:

Diferente dos americanos, que buscavam expandir seu modelo institucional, os suecos trouxeram um ethos de missão abertura e simplicidade , permitindo à AD maior flexibilidade para se adaptar à cultura e às lideranças locais.

Essa postura resultou na rápida nacionalização da liderança da AD, com significativa liberdade de desenvolvimento sob controle dos brasileiros.

Condições Econômicas:

Embora um falta de recursos dos suecos fosse uma limitação inicial, também era uma vantagem: eles não impunham estruturas pesadas nem construíam relações de dependência, como aconteceu com muitas missões históricas.

Essa liberdade favoreceu o crescimento independente da AD no Brasil, ajustando-se ao dinamismo econômico e social das regiões onde atuaram.

Comparação com Missionários Americanos

Diferença na Relação com as Instituições:

Enquanto os americanos replicavam instituições liberais em moldes alternativos para seus grupos, os suecos traziam uma atitude antiinstitucional , refletindo sua experiência de marginalização.

Mentalidade e Postura:

Os americanos foram influenciados por um modelo de conquista, expansão e mobilização de recursos.

Os suecos , por outro lado, tinham uma postura de resistência e sacrifícios , moldada pelas dificuldades de operar em uma sociedade centralizada e de importância como a sueca.

A postura contracultural e a simplicidade dos missionários suecos não apenas ajudaram a moldar os primórdios da Assembleia de Deus no Brasil, mas também facilitaram seu enraização e expansão. Essa experiência inicial se destacou por sua liberdade frente às influências externas e sua adaptação ao contexto local, em contraste com o denominacionalismo institucionalizado trazido por missões americanas.

A Influência Sueca na Formação da Assembleia de Deus no Brasil

A Assembleia de Deus (AD) no Brasil é um reflexo direto do ethos missão de seus fundadores suecos, que trouxeram uma abordagem moldada tanto por sua posição marginalizada na Suécia quanto pelas condições sociais e culturais que retornaram no Brasil. Essa perspectiva resultou em características únicas na formação e no crescimento da AD.

Fatores Socioeconômicos e Simplicidade Missionária

Ausência de Recursos Abundantes:

Os missionários suecos vieram de um país relativamente pobre e, consequentemente, não dispensaram recursos financeiros para construir grandes instituições ou exercer controle sobre a igreja brasileira.

Isso impossibilitou que a AD fosse centralizada ou dirigida por um modelo de dependência externa .

Exemplo de Vida Simples:

A vida das missões era marcada pela simplicidade , o que influenciou profundamente a primeira geração de líderes brasileiros, que também adotaram um estilo de vida despretensioso.

Essa postura ajudou a evitar um aburguesamento precoce da igreja, mantendo sua base comunitária e próxima das necessidades de seus membros.

Educação e Rejeição ao Clero Diferenciado

Modelo Antielitista:

Diferentemente de outras missões protestantes, os suecos rejeitaram a ideia de um clero altamente educado e formalizado.

Em vez disso, destacaram a formação de uma comunidade igualitária , composta por pessoas socialmente restauradas, tanto na Suécia luterana quanto no Brasil católico.

Fase Bíblica:

Embora fossem de um país protestante e valorizassem o conhecimento bíblico, resistiam a uma ênfase exagerada no aprendizado formal ou teológico sofisticado.

A centralidade era a palavra escrita e a prática cristã , reforçando a acessibilidade da fé e incentivando a inclusão.

Ministério Inclusivo e Participativo:

A ausência de distinção hierárquica entre o clero e os membros favoráveis ​​o surgimento de lideranças locais e ampliou o senso de pertencimento da fidelidade.

Rejeição ao Abuso

Identificação com os Marginalizados:

Por serem, eles próprios, uma minoria marginalizada na Suécia , os missionários suecos entenderam e se solidarizaram com a exclusão social enfrentada pelos brasileiros das classes mais baixas.

Isso tornou a AD uma igreja que dava voz aos socialmente excluídos , em vez de importar uma estrutura distante e elitista.

Adaptação ao Contexto Brasileiro:

Em um Brasil dominado por profundas desigualdades sociais, o ethos sueco de simplicidade encontrou um ambiente fértil para o crescimento da AD, que atende às necessidades espirituais e comunitárias de populações marginalizadas.

Oportunidades e Liberdade Organizacional

Autonomia Brasileira:

A ausência de instituições grandiosas controladas pelas missões autorizadas que a liderança brasileira teve liberdade para moldar a igreja de acordo com as demandas locais .

Essa abordagem não apenas garantiu a nacionalização da AD, mas também garantiu sua resiliência em um contexto brasileiro diverso e desafiador.

Rejeição do Controle Institucional Externo:

Sem forte influência estrangeira ou luta pelo domínio de grandes instituições, a AD conseguiu evitar conflitos internos de poder , o que favoreceu seu desenvolvimento orgânico.

A AD se destacou como um exemplo de adaptabilidade missionária e de igreja autóctone devido à postura contracultural e humilde de suas missões fundadores suecos. Essa abordagem, marcada pela simplicidade, pelo foco na igualdade comunitária e pela excluída à centralização institucional, permitiu que a AD se tornasse uma das tendências evangélicas mais dinâmicas e influentes do Brasil, conectada às necessidades de seus membros e adaptada à realidade do país.

Gunnar Vingren e Daniel Berg: Os Fundadores da Assembleia de Deus no Brasil

A história dos pioneiros Gunnar Vingren e Daniel Berg é emblemática, refletindo o esforço missionário, as origens humildes e o caráter visionário que marcaram o surgimento da Assembleia de Deus (AD) no Brasil. Juntos, formaram uma dupla complementar que, com sacrifícios e determinação, lançou as bases de um dos maiores movimentos evangélicos no país.

Gunnar Vingren: O “Proletário Intelectual”

Nascimento e Primeiros Anos:

 Gunnar Vingren nasceu em 1879, em Östra Husby, uma área rural no sudeste da Suécia. Filho de um batista, desde cedo esteve em contato com a fé protestante.

Sua educação formal foi interrompida aos 11 anos por questões econômicas, e ele começou a trabalhar como planejado.

Imigração para os Estados Unidos:

Em 1903, aos 24 anos, Vingren seguiu os passos de familiares que emigraram para os Estados Unidos, onde trabalhou em serviços manuais e começou a frequentar uma igreja batista sueca.

Educação e Transição para o Pentecostalismo:

Em Chicago, possivelmente com apoio financeiro da igreja, ele estudou em um seminário batista. Após concluir os estudos, tornou-se pastor de uma igreja batista sueca.

Durante esse período, Vingren desenvolveu a fé pentecostal, influenciada por outros avivamentos nos EUA. Ele é uma inovação na congregação que pastoreava, mudando-a em uma igreja pentecostal.

Daniel Berg: O Operário Robusto

Infância e Juventude:

Daniel Berg nasceu no sul da Suécia em 1884, filho de um líder batista. Sua família também era devota e não estava envolvida no movimento protestante.

Em 1902, aos 18 anos, emigrado para os Estados Unidos, onde aprendeu o ofício de fundidor de aço e se distribuiu como operário.

Conversão ao Pentecostalismo:

 Durante uma visita à Suécia em 1908, Berg conheceu um amigo de infância, Lewi Pethrus, que havia se tornado pentecostal.

Pethrus desempenharia um papel fundamental no pentecostalismo sueco, mais tarde fundando um partido político e contribuindo para a expansão do movimento. Essa influência impactou profundamente Berg.

A Formação da Dupla

Vingren e Berg conheceram os Estados Unidos, compartilhando experiências em igrejas batistas e pentecostais e sentindo o chamado para missões no exterior.

Complementaridade:

Enquanto Berg, com sua força física e habilidades práticas, se dedicava a sustentar os dois financeiramente e a realizar viagens missionárias ao interior, Vingren usava sua formação teológica e sua capacidade intelectual para ensinar e pregar.

Essa dinâmica foi essencial nos primeiros anos em Belém do Pará, onde fundaram a Assembleia de Deus em 1911.

Primeiros Passos no Brasil

Ao chegarem a Belém, em 1910, enfrentaram desafios culturais e econômicos:

Adaptação e Sustentação:

Berg trabalhou como fundidor, enquanto Vingren frequentava aulas de português e se dedicava à evangelização.

Primeiros Contatos:

Inicialmente, frequentaram uma igreja batista em Belém, mas logo começaram a pregar a mensagem pentecostal, o que gerou um cisma com a liderança local.

Essa divisão levou à formação de um grupo independente, que mais tarde seria formalizado como Assembleia de Deus.

Legado e Impacto

A história de Gunnar Vingren e Daniel Berg é um testemunho de perseverança e fé. Seu modelo de missão, baseado em simplicidade e trabalho árduo, moldou a identidade da Assembleia de Deus como um movimento voltado para as classes populares e marcado por um estilo de liderança participativa e comunitária.

Seus esforços lançaram as bases para o crescimento exponencial do pentecostalismo no Brasil, tornando a Assembleia de Deus uma das maiores denominações evangélicas do mundo.

A chegada de Gunnar Vingren e Daniel Berg ao Brasil, guiada por uma profecia aparentemente misteriosa, revela a conexão entre influências espirituais e contextos históricos e sociais que marcaram os primórdios da Assembleia de Deus (AD). A história de como os dois missionários suecos vieram para no Pará traz implicações que ajudaram a moldar a igreja como a encontros hoje.

Lewi Pethrus e sua Influência no Movimento

Lewi Pethrus, um amigo de infância de Daniel Berg, desempenhou um papel essencial na propagação do pentecostalismo sueco e na missão no Brasil.

Conversão ao Pentecostalismo: Após uma crise de fé enquanto estudava em um seminário batista, Pethrus experimentou uma renovação espiritual ao se engajar no movimento pentecostal.

Atuação em Estocolmo: Em 1910, assumiu o pastorado de uma igreja batista em Estocolmo, que foi restauração da denominação em 1913 devido ao alinhamento com a fé pentecostal.

Apoio à Missão no Brasil: Esse rompimento ajudou que a igreja liderada por Pethrus direcionou esforços de missões independentes, incluindo apoio financeiro ao trabalho iniciado por Berg e Vingren. A igreja também enviaria outras missões suecas ao Brasil, consolidando a expansão do pentecostalismo no país.

A Trajetória de Gunnar Vingren e Daniel Berg no Brasil

Gunnar Vingren e Daniel Berg, figuras centrais na fundação da Assembleia de Deus no Brasil , enfrentam desafios extremos em sua missão inicial. Suas histórias refletem a determinação e a simplicidade que marcaram a fundação do maior movimento pentecostal brasileiro.

A Chegada ao Brasil (1910)

Sem sustentação financeira fixa, Vingren e Berg viajaram para Belém do Pará impulsionados pela fé e por uma profecia. Recursos para a viagem foram obtidos com doações da igreja batista sueca em Chicago, enquanto no Brasil eles sustentaram seu ministério com trabalho manual e vendas de Bíblias. Nos primeiros meses, congregamos na Igreja Batista de Belém , pastoreada por outro sueco, Erik Nilsson. Porém, a pregação pentecostal causou tensão entre os batistas, resultando na exclusão de 19 membros da igreja, que formaram a Missão de Fé Apostólica .

Primeiros Passos e Consolidação

Relação com a Suécia: Embora a obra tenha iniciado de forma independente, os vínculos com a Missão Sueca Livre , organizada por Lewi Pethrus entre 1915 e 1917, foram essenciais nos primeiros anos. A Suécia trouxe apoio financeiro e invejosos, fortalecendo a base do trabalho iniciado no Brasil.

Adoção do Nome Assembleia de Deus: Por volta de 1917, o movimento introduziu o nome Assembleia de Deus, consolidando sua identidade no cenário pentecostal.

Expansão Inicial (1914-1930)

Nos primeiros anos, a Assembleia de Deus teve um crescimento lento, concentrando-se principalmente no Norte e Nordeste. Os esforços não eram centralizados, e grande parte da expansão deve-se a leigos e migrantes que levaram o pentecostalismo a novas regiões. Em 1930, a igreja já estava presente em quase todos os estados brasileiros, com as seguintes características:

Presença em Capitais: A expansão começou nas grandes cidades, onde havia maior receptividade à mensagem pentecostal.

Colaboração de Outros Protestantes: Os líderes iniciais frequentemente eram convertidos de outras denominações.

Autonomia e Mudança para o Rio de Janeiro

O ano de 1930 foi um marco na história da Assembleia de Deus:

A nacionalização da liderança desvinculou a igreja da Missão Sueca, estabelecendo um movimento genuinamente brasileiro.

A transferência da sede para o Rio de Janeiro , então capital federal, reforçou o papel da Assembleia de Deus no contexto urbano e contribuiu para sua expansão em regiões metropolitanas.

Liderança e Contribuições dos Missionários Suecos

Os missionários suecos foram fundamentais para a formação inicial da Assembleia de Deus no Brasil. Contudo, suas características também moldaram a igreja em aspectos relevantes:

Resistência ao Clericalismo: Por serem minoritários na Suécia, as missões tinham uma visão de simplicidade e um pouco apego a estruturas clericais complexas.

Autossuficiência: Falta de recursos externos investidos para a autossustentação e a independência da igreja no Brasil.

Ênfase na Formação Nacional: Ao priorizar a inclusão de líderes locais, os suecos desenvolvem para a rápida adaptação e crescimento da igreja no país.

O Legado

Quando Vingren e Berg retornaram à Suécia para o fim de suas vidas, a Assembleia de Deus já estava consolidada no Brasil. Apesar de a influência missionária ter sido declinada nos anos 1950, o legado dos pioneiros foi:

Base sólida de fé pentecostal.

Simples organização estrutural.

Espírito sonoro vibrante.

Hoje, a Assembleia de Deus é uma das maiores denominações evangélicas do mundo, diretamente ligada ao esforço desses dois homens e ao apoio das redes pentecostais suecas.

A Primeira Convenção Geral da Assembleia de Deus – Natal, 1930

A realização da primeira Convenção Geral da Assembleia de Deus , em Natal, 1930, marcou um momento histórico para a igreja pentecostal no Brasil. Esse evento não foi apenas um marco de organização, mas também de transferência gradual da liderança das mãos missionárias suecas para líderes brasileiros.

Um Ato de Desprendimento

Durante a convenção, foi decidido que todos os templos e salões pertencentes à missão sueca seriam entregues oficialmente às roupas brasileiras. Este gesto simbolizava mais uma transferência de propriedades: representava um compromisso com a autonomia das congregações locais e um rompimento com as estruturas hierárquicas mais características de missões tradicionais protestantes.

 Lewi Pethrus , que estava presente no Brasil naquela época, foi um dos grandes responsáveis ​​por encorajar essa transição, fundamentada em seu ethos congregacionalista. Ele defende que cada congregação deveria ser independente e livre de uma organização centralizadora, evitando o risco de se tornar uma réplica da Igreja Estatal Sueca.

Conflitos e Tensões do Processo de Nacionalização

A nacionalização, porém, não aconteceu sem compromisso, tanto do lado dos compromissos quanto dos líderes brasileiros:

Os Brasileiros: Muitos sentiram que o processo de entrega da administração era lento, o que causava frustração e sensação de exclusão.

Os Missionários: Viviam um dilema entre manter a autonomia local das congregações e organizar uma igreja em nível nacional, algo necessário para facilitar sua expansão no Brasil.

O próprio Lewi Pethrus reconhecia que as ações nem sempre condiziam com o ideal desejado, declarando:

"Na prática, quase sempre chegamos a uma situação bastante àquilo que desejávamos."

Para lidar com essas dificuldades, muitas missões foram transferidas para o Sul do Brasil , uma região onde o trabalho ainda era recente, enquanto o Norte e o Nordeste tinham líderes brasileiros mais estabelecidos.

A Nacionalização e Suas Marcas

Esse processo deixou marcas profundas na Assembleia de Deus:

Identidade Regional: Com raízes ocasionais principalmente no Norte e Nordeste, grande parte da liderança nacional surgiu nessas regiões. Isso moldou a igreja com características da sociedade patriarcal e rural desses lugares, onde prevaleceu um ethos conservador e tradicional.

Autonomia e Centralização: Enquanto o pentecostalismo sueco prezava pela autonomia local, a liderança brasileira, influenciada pelo contexto cultural, carregava uma tendência autoritária . Essa dualidade marcou a igreja com um equilíbrio delicado entre independência congregacional e uma direção centralizada.

Transformação Social: A experiência inicial da igreja, marcada pela marginalização cultural e econômica, ajudou a consolidar uma identidade resiliente, que resistia tanto ao clericalismo como ao alinhamento com as classes dominantes.

O Reflexo na Igreja Hoje

Mesmo décadas depois, as características forjadas na década de 1930 permaneceram evidentes na Assembleia de Deus:

UM alta proporção de líderes nordestinos na estrutura nacional.

O ethos pastoral e administrativo que ainda reflete traços das primeiras décadas de marginalização cultural e das características regionais do Norte e Nordeste.

Uma igreja que mantém tanto sua autonomia congregacional quanto uma forte organização nacional, destacando-se como uma das maiores e mais influentes instituições pentecostais do mundo.

A decisão de transferir templos e responsabilidades às igrejas brasileiras durante a primeira Convenção Geral de 1930 foi um passo crucial para consolidar a Assembleia de Deus como um movimento genuinamente nacional e abriu caminho para sua impressionante expansão em todas as regiões do Brasil.

O Contato Internacional da Assembleia de Deus com os Estados Unidos

A relação da Assembleia de Deus brasileira com os Estados Unidos nas últimas décadas foi marcada por períodos de aproximação moderada e conflitos de adaptação cultural e administrativa.

Chegada dos Primeiros Missionários Americanos

A primeira missão americana da Assembleia de Deus chegou ao Brasil em 1934. Contudo, a facilidade por parte dos missionários suecos, que lideraram a igreja até então, foi limitada. Os principais motivos dessa resistência foram:

Diferenças financeiras: A chegada de missões americanas frequentemente mostrava um contraste cultural significativo. Por exemplo, o desembarque de uma missão em 1939 com um Chevrolet do ano e seu aluguel em Copacabana representavam um padrão de vida muito distinto em relação às missões suecas e à realidade local.

Educação teológica: A ênfase americana em estudos formais e em seminários foi percebida como uma prática estrangeira pelos suecos e brasileiros. Isso contrastava com o modelo mais simples e prático defendido pelas missões suecas, focado no trabalho bíblico direto e nas congregações locais.

Diferenças culturais e de costumes: Tabus comportamentais foram levados mais a sério no Brasil e na Suécia, enquanto o pentecostalismo americano, a partir da Grande Depressão dos anos 1930, começou a relaxar regras em questões sociais e comportamentais em busca de relevância prática. Isso gerava conflitos, pois missões americanas eram vistos como "mandões" por lideranças locais, que enxergavam nessas atitudes de superioridade.

Expansão Durante os Anos 1970

O auge da presença americana ocorreu nas décadas de 1970, com cerca de 20 famílias missionárias presentes no Brasil. No entanto, a sua influência foi limitada, em parte por questões financeiras. A Assembleia de Deus no Brasil, já amplamente nacionalizada e consolidada, era menos dependente de apoio externo.

 Um líder brasileiro resumiu bem a relação:

"Os suecos trouxeram doutrina, os americanos trouxeram dólares."

Por outro lado, houve esforços pontuais de cooperação:

Cruzadas Evangelísticas: Missionários americanos com ministérios evangelísticos, especialmente aqueles que cresceram no Brasil ou tiveram experiência local, obtiveram algum destaque.

Educação Teológica: Apesar da resistência inicial, a colaboração em seminários e institutos bíblicos começou a crescer, mas sempre respeitando as sensibilidades locais.

A Relação no Contexto Atual

Hoje, o contato entre a Assembleia de Deus brasileira e americana é limitado, assumindo um papel quase simbólico . Alguns pontos que se destacam:

Interesses de arrecadação nos EUA: É estratégico para roupas e organizações americanas associar-se à AD brasileira, a maior Assembleia de Deus do mundo. Isso reforça a ideia de expansão global e permite levantar fundos nos Estados Unidos.

Autonomia brasileira: A AD brasileira, fortalecida em sua nacionalização, já não depende de missões estrangeiras para suas iniciativas.

Embora as Assembleias de Deus brasileiras e americanas compartilhem uma conexão histórica e teológica, as diferenças culturais e financeiras limitaram uma interação mais profunda. O legado dessa relação está marcado mais por cooperação eventual do que por uma integração contínua e estruturada.

Conclusão

A história da Assembleia de Deus (AD) no Brasil é marcada por um contexto singular de relações internacionais, principalmente com os missionários suecos e, posteriormente, com os americanos. A chegada dos missionários suecos foi segura para o estabelecimento e crescimento inicial da AD no país, proporcionando a formação de uma base cristã pentecostal simples e resiliente, nascida de um contexto de marginalização religiosa e cultural. Essas missões, com sua visão leiga e contracultural, contribuíram para uma construção mais independente e descentralizada da igreja, permitindo que a AD evitasse os modelos organizacionais autoritários e de execução típica de outras denominações protestantes.

O desenvolvimento da AD no Brasil também refletiu a influência de suas próprias lideranças nativas, como Gunnar Vingren e Daniel Berg, que se tornaram pioneiros essenciais para a expansão do movimento pentecostal, focando mais na prática e na criação de uma comunidade do que em métodos teológicos formais. Essa abordagem simples, combinada com a resistência ao aburguesamento, permitiu à igreja crescer em liberdade e alcançar um grande número de pessoas nos anos seguintes, mesmo diante de limitações financeiras e culturais.

Na transição para uma nacionalização maior da AD, marcada pela mudança de sede da igreja de Belém para o Rio de Janeiro em 1930 e pela desaceleração da presença de missões suecas, observamos que a igreja se tornou mais independente e com raízes cada vez mais profundas no território brasileiro. A partir da década de 1950, a Igreja no Brasil já era uma potência pentecostal em termos de número de membros, suplantando, por vezes, outras denominações que cresceram mais lentamente, como a Congregação Cristã no Brasil. A igreja passou a ser essencialmente brasileira, embora ainda mantivesse uma ligação, embora tênue, com as suas origens suecas e a imigração de outras nações, como os Estados Unidos.

O contato com os missionários americanos trouxe tantos desafios quanto ao aprendizado, com um foco em instituições e educação teológica que nem sempre estavam alinhados à visão mais simples e espontânea dos suecos. Ao longo do tempo, no entanto, o crescimento e a independência da Assembleia de Deus no Brasil, tanto em sua base territorial como em sua organização e prática, demonstraram que a AD no Brasil descobrira absorver influências externas, mas consolidar-se como uma realidade espiritual e culturalmente único.

Hoje, a Assembleia de Deus brasileira é a maior denominação pentecostal do mundo, com impressionantes 22,5 milhões de membros, um reflexo de sua capacidade de se adaptar e prosperar no Brasil, mantendo uma identidade profundamente enraizada em sua história e origem pentecostal, mesmo que sua relação com as fontes externas de financiamento e apoio tenha diminuído ao longo dos anos. As suas raízes suecas, sua expansão pelo país e a integração de lideranças locais construíram um legado único, que permanece influente na igreja brasileira até os dias de hoje.

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