Por que
hoje não se consagra alguém para o ministério se ele não for batizado com o
Espírito Santo? Se Jesus separou seus discípulos para a missão antes de serem
batizados (Lucas 6.12-13), por que essa exigência agora?
RESPOSTA:
É interessante quando lemos esse texto isoladamente. Podemos
chegar a essa conclusão e imaginar exatamente o que você mencionou. No entanto,
quando analisamos outros textos e não nos baseamos apenas nesse, podemos
descobrir aspectos importantes que devem ser observados.
A escolha ministerial não é consequência de um ato isolado,
mas um processo. Vemos isso no exemplo de Davi: ele foi escolhido para ser rei,
mas não foi coroado imediatamente, como registrado em 1 Samuel 16:1-13.
Da mesma forma, os discípulos não foram imediatamente
capacitados para a missão. Observe que eles foram escolhidos, mas nem todos
demonstraram compromisso prático, como vemos em João 6:66-71. Este processo de preparação exigiu tempo,
ensinamentos e experiências vividas ao lado de Jesus. Em Atos 1:21-26, a escolha de Matias para substituir Judas ilustra
este princípio. Pedro salientou que o escolhido deveria ser alguém que já os acompanhava
há bastante tempo e que tivesse conhecimento do ministério desde o batismo de
Jesus por João até ao dia da sua ascensão. Assim, fica claro que o compromisso
com a missão não se limita à escolha inicial, mas requer um desenvolvimento
contínuo e uma entrega genuína aos propósitos divinos. Concluímos, portanto,
que não basta imitar o ato de Jesus ao chamar os doze apóstolos sem considerar
o contexto e os critérios espirituais envolvidos.
Outro aspecto
interessante é que, após a ressurreição, Jesus apareceu aos discípulos e soprou
sobre eles, concedendo-lhes o Espírito Santo, conforme João 20:22. No entanto, mesmo com essa experiência, eles
fracassaram em alguns momentos. Isso é evidenciado em João 21:3-17, quando Pedro convida os discípulos a voltarem à
pesca, demonstrando um desejo de retomar a vida secular. Mas Jesus os reorienta
para a missão.
Ao chegarmos a Atos 2,
vemos que os discípulos foram revestidos de poder, e, a partir desse ponto, não
encontramos mais registros de desistência ou fracasso ministerial. Pelo
contrário, todas as escolhas ministeriais posteriores foram de pessoas cheias
do Espírito Santo.
Essa ênfase na preparação espiritual é fundamental para
entendermos o chamado ao ministério. Em Atos
13:1-3, vemos que Paulo e Barnabé foram escolhidos enquanto estavam cheios
do Espírito Santo. Além disso, quando Paulo escreve a Timóteo (1 Timóteo 4:14; 2 Timóteo 1:6), ele o
instrui a buscar homens espiritualmente maduros para o ministério.
Com base nessas referências, compreendemos que um obreiro
deve ser cheio do Espírito Santo antes de ser separado para a obra. Portanto,
ele deve buscar a presença de Deus, além de possuir conhecimento bíblico.
O chamado dos doze foi específico, e mesmo assim, eles
precisaram ser preparados. Em Mateus 10, Jesus os enviou em missão, mas, mais
tarde, encontramos os discípulos tentando expulsar um demônio e não conseguindo
(Mateus 17:14-21; Marcos 9.17-29).
Isso demonstra que apenas receber autoridade momentânea não basta; é necessária
uma vida de preparo espiritual. Jesus explicou que certos desafios exigem jejum
e oração, reforçando a necessidade de uma preparação contínua.
Além disso, o termo "apóstolo" foi uma escolha
específica para aquele grupo. Outros ofícios, como presbítero, diácono e bispo,
foram instituídos posteriormente pelos próprios apóstolos, e sempre havia o
requisito de serem homens cheios do Espírito Santo.
Porém, há igrejas que não exigem o batismo com o Espírito Santo
para o ministério (como algumas neopentecostais). Nossa visão é que um líder
mais preparado espiritualmente é um líder melhor, assim como um homem com mais
conhecimento e experiência tem maior capacidade de ensino.
Outro ponto relevante é que, no Antigo Testamento, não havia
o fenômeno do falar em línguas. Esse dom só surgiu após a vinda de Cristo. João 1:33 nos ensina que Jesus é quem batiza com o Espírito Santo.
Pode estar a pensar que devemos espelhar-nos em Cristo, o que
é, sem dúvida, correto. Contudo, é fundamental aprofundar a compreensão sobre
as razões que o levaram a agir de determinadas formas, a quem Ele direcionava
as suas ações e qual era o propósito maior por detrás de cada gesto ou
ensinamento.
Vale lembrar que Cristo não instituiu diretamente diáconos,
presbíteros, evangelistas ou bispos. Foram os apóstolos que organizaram essas
funções, sempre exigindo que fossem homens cheios
do Espírito Santo.
Conclusão:
Na Assembleia de Deus,
seguimos esse princípio. No entanto, hoje, há um desafio: o dom de línguas nem
sempre é um sinal confiável de alguém cheio do Espírito Santo. Infelizmente,
muitos brincam com esse dom, e o respeito que havia no passado tem-se perdido.
É essencial que a igreja volte a enfatizar a verdadeira essência do Espírito
Santo, promovendo ensinamentos sólidos e discernimento espiritual. O foco deve
estar na edificação da fé e na busca genuína por uma vida transformada, em vez
de manifestações exteriores que possam ser mal interpretadas ou usadas de forma leviana.
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