A Permanência do Casamento e o Caminho do Perdão: Um Chamado à Reconciliação

 Introdução

O casamento cristão é um compromisso sagrado e permanente, firmado diante de Deus e dos homens, com base no princípio da unidade: “e serão ambos uma só carne” (Gênesis 2:24). Essa união não é apenas física, mas espiritual e emocional, representando um pacto de fidelidade, amor e perdão contínuo. Em tempos de instabilidade emocional e relativismo moral, é necessário reafirmar que o casamento é para toda a vida, e que, mesmo diante de crises como a infidelidade, o perdão deve ser o primeiro recurso — e não a dissolução do matrimônio.

1. A Origem Divina da União Conjugal

A Bíblia apresenta o casamento como uma instituição divina, criada no Éden, antes mesmo da queda (Gênesis 2:18-25). Deus formou a mulher a partir do homem e os uniu como "uma só carne", expressão que representa intimidade, parceria e compromisso indissolúvel.

Portanto deixará o homem seu pai e sua mãe, e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne.” — Gênesis 2:24

Essa união é renovada em Cristo, que compara seu relacionamento com a Igreja ao relacionamento entre marido e esposa:

Maridos, amai vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela.” — Efésios 5:25

Portanto, dissolver esse laço sagrado deve ser uma medida extrema e não a primeira reação diante de uma ofensa.

2. Infidelidade e Perdão: Uma Perspectiva Bíblica

Dentre os conflitos conjugais mais dolorosos, está a infidelidade. Contudo, a resposta bíblica a essa realidade não é o divórcio automático, mas o perdão intencional. Jesus, o noivo da Igreja, é traído diariamente por sua noiva, e mesmo assim não se divorcia dela. Pelo contrário, Ele perdoa, restaura e continua amando.

Porque o teu Criador é o teu marido; o Senhor dos Exércitos é o seu nome.” — Isaías 54:5

Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça.” — 1 João 1:9

Essa postura deve ser replicada no relacionamento conjugal. A traição, por mais grave que seja, encontra no perdão o caminho da restauração. É possível reconstruir o que foi quebrado, fortalecer o que estava frágil e reviver o que parecia morto.

3. O Poder Transformador do Perdão

O perdão é mais que um sentimento: é uma decisão. E mais do que um alívio pessoal, é uma ferramenta de cura relacional. O perdão abre portas para recomeços e cria um ambiente onde Deus pode operar milagres. Jesus ensinou que perdoar é um dever contínuo:

Então Pedro aproximou-se de Jesus e perguntou: ‘Senhor, quantas vezes deverei perdoar a meu irmão quando ele pecar contra mim? Até sete vezes?’ Jesus respondeu: ‘Eu lhe digo: não até sete, mas até setenta vezes sete.’” — Mateus 18:21-22

No contexto conjugal, o perdão precisa ser cultivado como uma prática diária. O divórcio, ainda que permitido em certas condições (Mateus 19:9), não deve ser banalizado, mas evitado sempre que possível.

4. Uma Só Carne: A Aliança Irrevogável

Quando um casal se casa, torna-se “uma só carne” (Gênesis 2:24). Essa união é mais que um contrato; é uma aliança. E alianças, biblicamente falando, são perpétuas. A aliança conjugal não deve ser dissolvida por ofensas, mas renovada por meio da graça.

O que Deus uniu não o separe o homem.” — Marcos 10:9

Mesmo em momentos de dor, o compromisso precisa prevalecer sobre a emoção. A restauração de um casamento ferido é possível — e desejada por Deus.

Conclusão

Casamento é para toda a vida. A mulher com quem você se casou é a mulher da sua vida. O homem com quem você fez aliança é o homem da sua história. Diante de crises, especialmente da traição, o caminho mais nobre, embora o mais difícil, é o do perdão. Perdoar é escolher amar novamente, é refletir o caráter de Cristo no lar.

Perdoe seu marido. Perdoe sua esposa. Reconstrua. Não desista.

Referências Bibliográficas e Teológicas

  • Bíblia Sagrada, Almeida Revista e Atualizada.
  • John Piper, Este Momento no Casamento. Editora Fiel.
  • Tim Keller, O Significado do Casamento. Editora Vida Nova.
  • Hernandes Dias Lopes, O Que Deus Uniu. Hagnos Editora.
  • C. S. Lewis, Os Quatro Amores. Thomas Nelson Brasil.
  • Augustus Nicodemus, O que a Bíblia diz sobre divórcio e novo casamento. Cultura Cristã.
  • Wayne Grudem, Teologia Sistemática. Vida Nova.

Princípio das Dores: A Antecipação Profética da Tribulação

  Introdução

O termo “princípio das dores” aparece nas palavras de Jesus em Mateus 24, como um sinal profético do que antecederia o fim. Essa expressão carrega um significado profundo e escatológico, que remete às dores de parto — um sofrimento intenso que anuncia o nascimento de algo novo. Mas o que Jesus realmente quis dizer? Há uma conexão entre esse termo e os escritos proféticos do Antigo Testamento? Neste artigo, vamos explorar como os rabinos interpretavam essa angústia, como ela se manifesta na Bíblia e o que ela revela sobre o futuro.

 O que são as “dores de parto” no contexto bíblico?

Jesus, ao responder aos discípulos sobre os sinais do fim, afirma:

“Todas essas coisas são o princípio das dores.”
(Mateus 24:8)

A expressão usada ali remete literalmente às dores de uma mulher em trabalho de parto. Isso não é apenas uma metáfora de sofrimento, mas também de transição e expectativa. Segundo os evangelhos, estas dores antecedem um tempo de grande tribulação — um sofrimento sem precedentes na história da humanidade.

 A Conexão Profética com o Antigo Testamento

Diversos profetas usaram a imagem das dores de parto para falar sobre o tempo do fim. Um dos textos mais expressivos é o de Jeremias 30, que fala sobre a “angústia de Jacó”:

“Perguntai, pois, e vede se um homem pode dar à luz? Por que, então, vejo todos os homens com as mãos sobre os lombos, como mulher que está com dores de parto?... Ai! Porque aquele dia é tão grande, que não houve outro semelhante a ele; é tempo de angústia para Jacó...”
(Jeremias 30:6-7)

Aqui, o profeta descreve um tempo de sofrimento extremo — uma crise que será vivenciada especialmente por Israel. O termo hebraico usado para “angústia” é "tsarah", o mesmo que aparece em Daniel 12:1:

“E naquele tempo se levantará Miguel... e haverá tempo de angústia, qual nunca houve, desde que houve nação até àquele tempo...”
(Daniel 12:1)

Esses textos apontam para um mesmo período escatológico: a grande tribulação, caracterizada por sofrimento e clamor, mas também por uma esperança de redenção.

 A Visão Rabínica: Dores de Parto do Messias

Rabinos judeus como Rashí (Shlomo Yitzhaki, séc. XI) e Shmuel ben Meir (o Rashbam, séc. XII) interpretaram textos como Daniel 12 e Jeremias 30 como referências ao que chamam de “Hevlei Mashiach”, ou “dores de parto do Messias”.

Segundo esses sábios:

“As dores que antecedem a chegada do Messias serão como as dores de uma mulher prestes a dar à luz: intensas, inevitáveis, mas anunciadoras de redenção.”

Ou seja, para muitos rabinos medievais e contemporâneos, as dores não indicam destruição final, mas o limiar da era messiânica — quando Israel e o mundo experimentarão uma restauração sem precedentes.

 Oséias e o Parto de um Novo Tempo

Outro texto chave é Oséias 13:13:

“Dores de mulher de parto lhe virão; ele é filho insensato, pois é tempo, e não está no lugar onde deveria vir à luz.”

Neste versículo, Deus compara Israel a uma criança que se recusa a nascer. A analogia das dores de parto aparece novamente como metáfora do sofrimento necessário para o cumprimento de um propósito maior: a manifestação da vontade divina.

 Conclusão

A expressão “princípio das dores” não é apenas uma previsão de sofrimento, mas uma declaração de que a tribulação precede a glória. Assim como as dores anunciam o nascimento de uma criança, os conflitos mundiais, espirituais e morais que vemos hoje podem ser os sinais de que algo maior está para acontecer — a vinda do Messias, o juízo final e a redenção de Israel.

Que possamos discernir os tempos e estarmos preparados não apenas para as dores, mas para a esperança que há além delas.


📚 Bibliografia

  • Bíblia Sagrada. Almeida Revista e Atualizada. Sociedade Bíblica do Brasil.
  • Talmude Babilônico – Sanhedrin 98b: Discussões rabínicas sobre as dores de parto do Messias (Hevlei Mashiach).
  • Rashi (Shlomo Yitzhaki) – Comentário sobre Daniel 12 e Jeremias 30.
  • Michael L. Brown, Answering Jewish Objections to Jesus, Vol. 3. Baker Books.
  • John F. Walvoord, Daniel: The Key to Prophetic Revelation. Moody Press.
  • Arnold Fruchtenbaum, Footsteps of the Messiah.
  • John MacArthur, Comentário Bíblico – Mateus.
  • Leon Wood, A Survey of Israel's History.

 

Lilith: Lenda ou Personagem Bíblica? Uma Análise Teológica e Histórica


Introdução

Vez ou outra, surge a pergunta: Lilith foi a primeira esposa de Adão? Alguns apontam para Gênesis 2:23 e argumentam que, ao dizer “esta é agora osso dos meus ossos”, Adão estaria se referindo a uma segunda mulher, e que antes de Eva teria existido Lilith. Mas será que essa ideia tem respaldo bíblico? Lilith aparece na Bíblia? Ou isso é apenas uma lenda? Neste artigo, vamos explorar cuidadosamente essa questão, à luz da Escritura e da história.

 

A expressão “esta é agora” (Gênesis 2:23)

“Então disse Adão: Esta é agora osso dos meus ossos e carne da minha carne.”
(Gênesis 2:23)

Alguns tentam usar a palavra “agora” como uma evidência de que Eva seria a segunda mulher. No entanto, no hebraico, o termo usado aqui traz o sentido de "afinal", "enfim" — ou seja, "agora sim, finalmente". Isso reforça que Eva foi a primeira mulher, a adequada para Adão, e não que houve uma anterior.

Além disso, o contexto mostra que Adão estava só, e Deus cria a mulher da costela do homem, não do pó da terra. A própria lógica do texto nega a existência de uma companheira anterior.

 

A origem da lenda de Lilith

A figura de Lilith não aparece na Bíblia como personagem. Sua origem está em mitos sumérios e babilônicos, surgidos aproximadamente 3 mil anos antes de Cristo. Nessas culturas, Lilith era associada a uma entidade feminina, ligada à sexualidade e à prostituição sagrada, no templo da deusa Ishtar (ou Ashtar).

Com o passar do tempo, essa figura folclórica passou a ser incorporada como um demônio noturno em certas literaturas judaicas não canônicas. O principal exemplo é o "Alfabeto de Ben Sira", uma obra satírica escrita por volta do século XI d.C., onde Lilith é apresentada como a primeira esposa de Adão, criada do pó como ele, mas que se recusa a se submeter e foge do Éden, sendo então transformada em um demônio.

Portanto, a ideia de Lilith como a primeira mulher vem de lendas mesopotâmicas e sátiras judaicas tardias, não da revelação bíblica.

 

Lilith em Isaías 34:14?

Alguns apontam para Isaías 34:14:

“Os animais do deserto se encontrarão com as hienas, e o bode selvagem gritará para o seu companheiro; também a criatura da noite ali descansará...”
(Isaías 34:14)

Em algumas versões, o termo hebraico “lilit” aparece, traduzido como "criatura da noite" ou "coruja". No entanto, a tradução mais adequada no contexto é a de um animal noturno, sem ligação com qualquer demônio feminino. Essa passagem descreve a desolação de Edom, e a menção a animais e criaturas noturnas é simbólica do caos e abandono.

Portanto, associar esse “lilit” com a personagem folclórica Lilith é um erro de interpretação textual e histórica.

 

A mulher criada por Deus: Eva

A Bíblia é clara ao afirmar que Eva foi a primeira mulher, criada por Deus da costela de Adão. Em Gênesis 2:18-24, Deus declara que não é bom que o homem esteja só, e então forma a mulher da sua carne, não do pó. Adão reconhece Eva como parte dele:

“Esta é agora osso dos meus ossos e carne da minha carne.”

Além disso, em Atos 17:26, Paulo afirma que de um só fez toda a raça humana, o que reforça que a humanidade descende de Adão e Eva — e não de uma suposta mulher anterior chamada Lilith.

 

Conclusão: Lilith é lenda, não Escritura

Lilith não é uma personagem bíblica, nem tem base na teologia cristã. Sua história vem de folclore sumério e babilônico, e foi incorporada mais tarde em textos judaicos não inspirados, como uma sátira. A Bíblia não menciona Lilith como esposa de Adão — e toda a estrutura da criação afirma que Eva foi a primeira e única mulher criada diretamente por Deus para Adão.

Como cristãos, devemos sempre nos voltar para a Escritura como nossa autoridade final, rejeitando mitos e lendas que buscam distorcer a verdade da Palavra de Deus.

 

📚 Referências e Leituras Adicionais

  • Bíblia Sagrada – Almeida Revista e Atualizada
  • “O Alfabeto de Ben Sira” – texto apócrifo judeu (séc. X-XI)
  • Michael L. Brown, Answering Jewish Objections to Jesus
  • John Walton, The Lost World of Adam and Eve
  • Enciclopédia Judaica – verbete "Lilith"
  • Victor P. Hamilton, The Book of Genesis: Chapters 1–17
  • Comentário Bíblico Moody – Gênesis