FUNDAMENTALISMO TEOLÓGICO E FÉ

Os debates religiosos frequentes muitas vezes colocam em destaque na agenda pública questões éticas e morais, como aborto, homossexualidade e religiosidade. No Brasil, o tema do fundamentalismo tem sido discutido amplamente, especialmente devido aos questionamentos e reflexões mais profundas sobre conceitos tradicionais, muitos dos quais são baseados na mensagem bíblica. A defesa de princípios absolutos e imutáveis enfrenta resistência diante de um mundo cada vez mais pluralista e relativista.

Defender a fé tornou-se um desafio para aqueles que optam por viver de acordo com os princípios e valores estabelecidos na Palavra de Deus. As escolhas que fazemos na vida, refletidas em nosso comportamento diário, são influenciadas por nossas cosmovisões - um conjunto de conceitos, crenças e valores que usamos para compreender a nós mesmos, aos outros e ao mundo ao nosso redor. Uma vez que uma pessoa define sua cosmovisão, ela desenvolve sua fé naquilo em que acredita ser correto.

No entanto, o mundo pós-moderno tende a questionar a defesa de uma fé baseada em absolutos, visto que as constantes mudanças do relativismo são consideradas inevitáveis. Portanto, é importante entender detalhadamente o conceito de para diferenciá-lo de outros conceitos e determinar até que ponto essa convicção pode ser considerada fundamentalismo, no sentido original do termo. A pós-modernidade, embora seja tolerante em relação a diferentes manifestações religiosas, tende a ser implacável e intolerante quando se trata da defesa de uma fé religiosa em um Deus único e imutável, rotulando seus seguidores como "fundamentalistas" de forma negativa.

A fé, no âmbito religioso, engloba tanto a crença intelectual como a confiança e o compromisso num relacionamento. Ela envolve uma demonstração de confiança, especialmente na figura de uma outra pessoa, que no caso religioso seria Deus.

De acordo com Grenz (1999. p.57), os autores bíblicos não fazem uma distinção clara entre fé como crença e fé como confiança. Eles consideram que a verdadeira fé inclui tanto o que se acredita (por exemplo, que Deus existe, que Jesus é o Filho de Deus) quanto o compromisso com uma pessoa digna de confiança e capaz de salvar, ou seja, a confiança na pessoa de Cristo como meio de salvação.

O termo "fé" tem suas origens nas palavras hebraicas, gregas e latinas, que foram traduzidas nas Escrituras. Por exemplo, em Hebreus 11:1, a fé é descrita como o firme fundamento das coisas que se esperam e a prova das coisas que não se veem.

Segundo Andrade (1999, p.156), a fé é a confiança depositada em todas as providências de Deus. É a convicção de que Ele está no controle de tudo e capaz de manter as leis que estabeleceu. É também a crença de que Sua Palavra é verdadeira e a tranquilidade depositada no plano de salvação estabelecido e executado por Seu Filho na Cruz.

A Profunda Natureza da Fé.

 O Dicionário Vine (2002, p. 648) analisa a origem do termo "fé" (pistis), destacando sua inicial significação como "convicção firme", fundamentada no ouvir (relacionado a peithõ, "persuadir"). No Novo Testamento, a "fé" é frequentemente associada à confiança em Deus, em Jesus e em questões espirituais, abrangendo diversos significados, tais como:

(a) Confiança: Refere-se à confiança em Deus e em questões espirituais, sendo mencionada em diversas passagens, como (Rm 3.25, 1Co 2.5, Gl 3.23), entre outras.

(b) Fidelidade: Também denota lealdade e fidelidade, como evidenciado em (Mt 23.23 e Gl 5.22).

(c) Aquilo em que se crê: Representa o conteúdo da fé, como visto em (At 6.7 e Gl 1.23).

(d) Base para a "fé": Refere-se à garantia, certeza e penhor de fidelidade, conforme mencionado em (At 17.31 e 1Tm 5.12).

Vine ressalta que os principais elementos da "fé" em relação ao Deus invisível, contrastados com a "fé" no homem, incluem uma convicção firme na revelação ou verdade de Deus, entrega pessoal a Ele e uma conduta inspirada por essa entrega. A fé de Abraão, por exemplo, estava em Deus mesmo, não apenas em Suas promessas (Rm 4.17, 20-21). Esses diferentes aspectos da fé são destacados dependendo do contexto, contrastando com a convicção puramente natural, desprovida de evidência adequada.

Na análise de Buckland, (2007. p.874), a fé não é uma atitude irracional, mas sim o resultado de uma revelação que permite ao indivíduo experimentar um relacionamento com seu Deus. Em contraste, a liquidez do mundo atual muitas vezes considera essa confiança como uma ilusão, incapaz de ser comprovada, e atribui a ela um conceito de limitação diante de uma infinidade de caminhos. Essa visão, que menospreza a experiência da fé, pouco contribui para a formação de um indivíduo saudável e relevante para o mundo em que vive.

A relação entre o homem e Deus envolve tanto a fé quanto a fidelidade. A fidelidade é resultado da confiança depositada em Deus, uma relação que é muitas vezes incompreendida por aqueles que não vivem essa experiência. Tenney (2008. p. 776-777), destaca que a fé e a fidelidade são correlativas, pois a fé do homem responde e é sustentada pela fidelidade de Deus, e a fé deveria levá-lo à fidelidade.

A ideia de fé pode mover-se da atitude subjetiva de confiança para a fé objetiva, aquela revelada por Deus através de ação, palavra e sinais para ser crida. Na Bíblia, a iniciativa divina é enfatizada, mostrando que o Deus vivo deseja entrar em relacionamento com os homens e demonstrou ser digno de sua confiança. A fé, como demonstrada no Antigo Testamento, é uma necessidade, mas é incompleta sem a plena possibilidade através de Cristo no Novo Testamento.

Quando alguém questiona a existência de Deus, muitas vezes não consegue compreender a dimensão da fidelidade e da própria fé. Essa incompreensão leva muitos a considerarem tal comportamento como equivocado e cego, muitas vezes rotulando-o como fruto da ignorância cultural e científica. Viver em uma sociedade que despreza o absoluto e rejeita a fé é um desafio que exige convicções cada vez mais profundas.

A fé está intrinsecamente ligada a valores que fundamentam a existência humana, os quais se expressam concretamente em uma ideologia. Enquanto a fé trata do sentido último, a ideologia lida com a eficácia na realização desses valores. Essas são dimensões humanas diferentes e complementares. Nessa perspectiva, a fé é vista como insubstituível, enquanto a racionalidade humana permite lutar por justiça e libertação dentro das coordenadas sociopolíticas concretas.

A defesa desses valores muitas vezes é vista como manifestação de alienação ou intolerância religiosa. O relativismo filosófico, incapaz de aceitar a ideia de valores imutáveis, muitas vezes milita contra aqueles que acreditam neles. Na impossibilidade de concordância em valores e princípios na prática da vida individual, uma firme posição de pensamento pode ser rotulada de fanatismo ou fundamentalismo, de forma equivocada e distorcida do seu significado original.

O termo "fundamentalismo" é geralmente entendido como a atitude de um grupo que se baseia em diretrizes tradicionais e as defende de forma absoluta. No entanto, é importante definir a intensidade e influência com que essa defesa é exercida. Um fundamento radical e totalitário, por exemplo, terá consequências correspondentes. Atualmente, ser considerado fundamentalista significa ser visto como intransigente, exclusivista e incapaz de viver plenamente na sociedade, ao contrário do que era visto na história antiga, onde o fundamentalista era muitas vezes louvado pela defesa firme de seus ideais.

O Fundamentalismo Teológico: Uma Oposição ao Liberalismo.
O termo "fundamentalismo" passou a ser aplicado de forma ampla a todas as formas de conservadorismo, segundo Lieth,
(2018). Ele afirma que qualquer pessoa que defenda sua posição com entusiasmo e veemência é rotulada como "fundamentalista". A falta de precisão nos contornos desse conceito torna mais fácil caracterizar algo ou alguém como fundamentalista.

Grupos de cristãos protestantes conservadores nos Estados Unidos da América adotaram essa designação no início do século XX. Entre 1909 e 1915, foi publicada uma série de textos chamada "Os Fundamentais - um testemunho em favor da Verdade" (2008, p. 452-456), que vendeu mais de três milhões de exemplares nos Estados Unidos. Essa série de textos deu origem a um movimento formado por grupos conservadores evangélicos, conhecido como fundamentalismo protestante. Esse movimento teve um grande impacto nos Estados Unidos e logo se espalhou para outros continentes e países.

Na história, o fundamentalismo foi observado como um contraste com o liberalismo. Champlin (2013. p.829), destaca que o fundamentalismo foi um movimento protestante e teológico que se opôs ao liberalismo teológico. O termo "fundamentalismo" é sinônimo de conservadorismo estrito e foi usado para fazer oposição não apenas ao liberalismo, mas também a formas mais livres de evangelicalismo. Homens como B.B. Warfield, James Orr, H.C.O. Moule e G. Campbell Morgan deram origem a uma interpretação estrita e literalista da Bíblia, como demonstrado em "Os Fundamentais". O fundamentalismo rejeita os métodos e conclusões da crítica bíblica histórica, surgida após a Iluminação, e se assemelha à teologia evangélica anterior à Iluminação, embora com algumas diferenças.

Em termos gerais, Galindo destaca que o fundamentalismo é uma tendência dentro das tradições judaica, cristã e muçulmana, que surge como uma reação mais ou menos violenta contra mudanças culturais. Para alguns estudiosos, o fundamentalismo serve como base para ideais radicais e extremistas, atraindo pessoas autoritárias que buscam respostas simplistas e moralizantes em um mundo percebido como dominado por forças malignas.

Apesar de ser marcado por uma defesa extrema de ideais, o movimento fundamentalista contribui de diversas formas para o desenvolvimento do pensamento e da discussão teológica. Além de alertar sobre erros na cena religiosa, o fundamentalismo tem se mostrado anticomunista e promove a fidelidade à Palavra de Deus. Em resumo, o fundamentalismo é uma ação que se opõe a valores antibíblicos e anticristãos ao longo da história.

CONCLUSÃO:

A teologia é uma disciplina que busca compreender e interpretar as verdades fundamentais da fé religiosa, utilizando métodos de análise crítica e reflexão sobre fontes sagradas, tradições e experiências religiosas. Seu objetivo principal é promover um conhecimento mais profundo e uma compreensão mais clara do divino, possibilitando uma vivência mais autêntica da espiritualidade.

Para alcançar seus objetivos, a teologia é dividida em várias subdisciplinas, cada uma focando em aspectos específicos da fé e da religião. Isso inclui a teologia exegética, que se concentra na interpretação das escrituras sagradas; a teologia histórica, que estuda o desenvolvimento da doutrina ao longo do tempo; a teologia dogmática, que trata das doutrinas fundamentais da fé; a teologia bíblica, que analisa os temas e conceitos encontrados na Bíblia; e a teologia sistemática, que organiza e sintetiza as doutrinas em um sistema coerente.

No contexto pentecostal, a teologia é influenciada pela ênfase na experiência do Espírito Santo e nos dons espirituais. Isso se reflete em uma abordagem mais dinâmica e prática da teologia, buscando uma conexão íntima entre a doutrina e a experiência religiosa.

A importância de "fazer" teologia é destacada pela necessidade de uma compreensão mais profunda e informada da fé, que pode orientar a prática religiosa e promover o crescimento espiritual. A teologia é essencial para a igreja, pois fornece uma base sólida para o ensino e a pregação, ajudando os fiéis a entenderem melhor sua fé e a responderem aos desafios contemporâneos.

As fontes da teologia incluem as escrituras sagradas, a tradição da igreja, a razão humana e a experiência religiosa. O teólogo, por sua vez, desempenha um papel crucial na interpretação e aplicação dessas fontes, buscando integrar a fé com a vida cotidiana e promover um diálogo construtivo entre a religião e a cultura.

Por fim, é importante distinguir entre doutrina e religião, reconhecendo que a doutrina é uma expressão articulada da fé, enquanto a religião engloba práticas, rituais e instituições que refletem essa fé. No entanto, o fundamentalismo teológico pode distorcer essa distinção, levando a interpretações rígidas e exclusivistas da doutrina, em detrimento da verdadeira fé e compreensão espiritual. Assim, é essencial cultivar uma abordagem equilibrada e aberta à teologia, que valorize a diversidade de perspectivas e busque uma compreensão mais profunda e inclusiva da fé religiosa.


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REFERÊNCIAS

ANDRADE, Claudionor Corrêa de. Dicionário Teológico. Rio de Janeiro: CPAD, 1999.

BUCKLAND, A.R. "Fé”. Dicionário Bíblico Universal. São Paulo: Vida, 2007.

GRENZ, Stanley J. et al. Dicionário de Teologia. São Paulo: Vida, 1999.

TENNEY, Merrill C. Enciclopédia da Bíblia Cultura Cristã. Volume 5. São Paulo: Cultura Cristã, 2008.

VINE, W.E. et. al. Dicionário Vine - Significado Exegético e Expositivo das Palavras do Antigo Testamento e do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2002.


DOUTRINA E RELIGIÃO

Importância da Doutrina na Vida Religiosa

O estudo da doutrina, também conhecido como teologia, é fundamental para o desenvolvimento da compreensão e prática da fé cristã. A palavra "doutrina" tem sua origem no latim "doctrina", que significa "ensino" ou "instrução". Essa palavra traz à mente ideias e ensinamentos religiosos, mas seu propósito vai além de conceitos intelectuais e religiosos, visando à transformação das vidas dos crentes.

A doutrina cristã não se limita a meros conceitos ou sistemas de crenças, mas busca promover uma mudança real na vida dos cristãos, tornando-os semelhantes a Cristo. Enquanto as doutrinas formalizadas em credos podem ser úteis, elas também podem limitar a energia vital dos ensinamentos de Cristo. O convite de Jesus para aprender Dele não se refere apenas à absorção de informações, mas à experiência transformadora de Seu ensinamento e do Seu Espírito.

Teologia Sistemática como Abordagem Organizada.

O termo "teologia", embora não seja encontrado na Bíblia, está intimamente ligado à "doutrina". Na Bíblia, o termo equivalente é "didache" ou "didaskalia" no grego, que se refere tanto ao ato de ensinar quanto ao conteúdo do que é ensinado. A teologia, então, pode ser definida como o conjunto de verdades extraídas dos ensinos bíblicos sobre Deus e Sua obra, apresentadas de forma sistemática como um corpo de doutrinas. A teologia sistemática organiza essas doutrinas de maneira ordenada para facilitar o estudo e a compreensão da fé cristã.

Os aspectos sobre o termo "doutrina" fornecem uma compreensão abrangente de seu significado e aplicação nas Sagradas Escrituras:

1.   Origem e Significado Linguístico: A palavra "doutrina" tem suas raízes no hebraico "legach" e no grego "didaché", ambos significando "ensino" ou "instrução" (TB, NTLH, NVI).

2.   Sentidos Ativos e Passivos: Tanto no hebraico quanto no grego, o termo pode ser utilizado tanto no sentido ativo (ato de ensinar) quanto no passivo (aquilo que é ensinado). A predominância da voz passiva enfatiza a autoridade, enquanto a voz ativa destaca o ato de ensino (Mt 7.28; Tt 1.9; Ap 2.14,15,24; Mc. 4-2; Rm. 16-17; Mt 15.9; Mc 7.7; Ef 4.14; Cl 2.22; 1Tm 1.10; 4.1,6; 6.1,3; Tt 1.9; 2.1,10; Rm 12.7; 15.4; 1Tm 4.13,16; 5.17; 2Tm 3.10,16; Tt 2.7).

3.   Coerência de Ideias Fundamentais: A doutrina é um conjunto coerente de ideias fundamentais transmitidas e ensinadas. Reflete uma arte, ciência, teoria ou método de ensino, consistentes com os princípios das Sagradas Escrituras.

4.   Ensino das Sagradas Escrituras: Quando se fala de doutrina bíblica, refere-se ao ensino das Escrituras Sagradas. Isso abrange uma variedade de temas, incluindo a salvação, Jesus Cristo, o Espírito Santo, a criação, o pecado, entre outros aspectos fundamentais da fé cristã.

5.   Orientação para o Relacionamento: A doutrina, baseada nas Sagradas Escrituras, orienta o relacionamento humano com Deus, com a Igreja e com os semelhantes. Serve como um conjunto de princípios para a vida cristã e a conduta ética.

Esses aspectos destacam a importância da doutrina como um meio pelo qual Deus se comunica com a humanidade e orienta Seu povo na fé e na prática.

A Importância da Doutrina na Vida Cristã.

Vários trechos da Bíblia destacam a relevância da doutrina para a existência humana, como podemos ver em Atos 2.42:

"E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações.”, Mateus 7.24-27: "Todo aquele, pois, que escuta estas minhas palavras e as pratica, assemelhá-lo-ei ao homem prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha. E desceu a chuva, e correram rios, e assopraram ventos, e combateram aquela casa, e não caiu, porque estava edificada sobre a rocha. E aquele que ouve estas minhas palavras e as não cumpre, compará-lo-ei ao homem insensato, que edificou a sua casa sobre a areia. E desceu a chuva, e correram rios, e assopraram ventos, e combateram aquela casa, e caiu, e foi grande a sua queda”, e, Efésios 2.20: "edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina”.

Os textos bíblicos citados destacam a importância da doutrina para a vida dos seres humanos. Em Atos 2:42, vemos que os primeiros cristãos perseveravam na doutrina dos apóstolos, o que mostra a centralidade do ensino e da instrução na comunidade cristã primitiva. Em Mateus 7:24-27, Jesus compara aqueles que ouvem e praticam Suas palavras aos que constroem suas vidas sobre a rocha sólida, enquanto os que ouvem, mas não praticam, são como aqueles que constroem sobre a areia, sujeitos a quedas e desastres espirituais. E em Efésios 2:20, Paulo descreve os crentes como edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, com Jesus Cristo como a pedra angular, enfatizando a importância da doutrina apostólica na estruturação da fé cristã.

A Relação entre Teologia e Religião.

Quanto ao termo "religião", ele é derivado do latim "religare", que significa "atar" ou "religar", indicando a tentativa de reconectar o homem a Deus após a queda.

 A teologia e a religião estão interligadas: enquanto a religião representa as práticas que ligam o homem a Deus em uma determinada relação, a teologia é o conhecimento acerca de Deus. Embora devam coexistir na experiência cristã verdadeira, às vezes, na prática, elas podem parecer distantes. No entanto, é importante reconhecer que tanto a prática religiosa quanto o conhecimento teológico são essenciais para uma compreensão e vivência plena da fé cristã.

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FONTES DA TEOLOGIA

A teologia tem uma origem, isto é, um ponto de partida de onde a teologia se desenvolve. Em termos básicos, estas origens são:

a] Bíblia Sagrada - A fonte fundamental da teologia cristã é a Bíblia Sagrada, que é reconhecida como a autoridade máxima para os cristãos. A palavra "Bíblia" vem do grego "biblia", que significa "livros", refletindo sua natureza composta por diversos escritos. Ela é a constituição da religião cristã e revela Deus ao mundo, sua natureza trinitária e seu plano de salvação para a humanidade. As Escrituras são suficientes para transmitir todas as informações necessárias sobre Cristo, incluindo seu aspecto divino e seu poder de perdoar pecados.

A autoridade das Escrituras deriva de sua inspiração divina, não sendo meros produtos da mente humana, mas revelações sobrenaturais do Espírito Santo. Embora os autores bíblicos tenham escrito de acordo com suas características individuais e culturais, a supervisão do Espírito Santo garantiu que suas palavras fossem infalíveis, inerrantes e autoritativas. As Escrituras reivindicam atributos divinos, sendo perfeitas, fiéis, retas, puras, verdadeiras, justas e santas. Assim, a Bíblia é a principal fonte de informações teológicas para os cristãos e serve como guia para sua fé e prática.

b] Tradição - A leitura das Escrituras nunca é neutra e sempre é influenciada por uma tradição interpretativa. Cada denominação cristã possui suas próprias tradições, que são consideradas autoridades complementares ou adicionais às Escrituras, embora algumas denominações possam não reconhecer explicitamente esse fato. As tradições começam nas próprias Escrituras, que preservam várias tradições judaicas e influências da filosofia helênica.

Após o período do Novo Testamento, surgiram declarações dos pais da Igreja e o desenvolvimento dos primeiros credos, que sistematizaram e limitaram as Escrituras. Concílios eclesiásticos também manipularam esses credos, adicionando interpretações das Escrituras e originando tradições. Regras de fé, interpretações bíblicas e raciocínios apareceram nos escritos dos pais da Igreja, contribuindo para a formação de tradições.

O sincretismo também desempenhou um papel na formação das tradições, conforme o cristianismo se difundia por diferentes culturas e áreas geográficas, incorporando elementos locais de crenças e práticas. As tradições católicas romanas são um exemplo proeminente de entronização das tradições, algumas das quais podem prejudicar as Escrituras, enquanto outras têm um fundamento bíblico.

A Reforma Protestante, em seu princípio de "Escritura somente", não eliminou completamente as tradições, e novas tradições foram estabelecidas por meio de credos rígidos e interpretações específicas das Escrituras. Teólogos modernos sugerem que a doutrina deve evoluir, resultando em novas tradições substituindo antigas.

A revolta contra a ortodoxia, representada pelas tradições liberais, desenvolveu uma tradição própria que minou a fé nas tradições mais antigas e rejeitou o autoritarismo, muitas vezes ignorando as próprias Escrituras. Os credos modernos funcionam de várias maneiras, desde declarações e interpretações até distorções e omissões de passagens bíblicas.

Embora algumas tradições possam ultrapassar legitimamente as Escrituras, muitas vezes, elas incorrem em erro, adicionando elementos prejudiciais à fé e prática. Portanto, é necessário discernimento ao lidar com as tradições, repelindo aquelas que se desviam da verdade bíblica.

c] Cultura - Ao fazer teologia, é crucial considerar tanto o contexto cultural do estudante quanto o do texto bíblico em análise, a fim de aplicá-lo adequadamente ao seu tempo. O estudo da cultura é fundamental para determinar se determinados textos das Escrituras eram aplicáveis em um determinado momento histórico ou se têm validade contínua. Os costumes culturais têm uma influência significativa na interpretação de um texto bíblico.

Como Alexandre Milhoranza (2024), enfatiza, interpretar a Bíblia sem considerar o contexto e o período histórico pode levar a sérios erros de interpretação e até mesmo a heresias. Os reformadores destacaram a importância do método de interpretação histórico-gramatical das Escrituras, que leva em conta o período histórico em que o texto foi escrito e considera as palavras e frases em seu sentido normal e claro (literal).

Certos princípios ou mandamentos bíblicos são contínuos e irrevogáveis, aplicáveis a todas as épocas, pois tratam de temas morais ou teológicos e são repetidos em outras partes da Bíblia. No entanto, existem também mandamentos que se referem a circunstâncias específicas de um determinado contexto cultural e não possuem caráter moral ou teológico, sendo, portanto, não aplicáveis aos dias atuais.

Além disso, há princípios ou mandamentos que se aplicam a contextos culturais semelhantes ao nosso, nos quais apenas o princípio subjacente deve ser aplicado. E ainda há aqueles que se referem a contextos culturais completamente diferentes, mas cujos princípios podem ser aplicados.

Por exemplo, o episódio em que Moisés tirou os sapatos na presença de Deus, devido à santidade do local, não significa que devemos literalmente fazer o mesmo hoje em dia ao entrar em um templo. No entanto, o princípio subjacente de reverência e temor a Deus deve continuar a nos guiar em nossas práticas religiosas.

e] Experiência - A experiência humana desempenha um papel fundamental no trabalho teológico da igreja. De acordo com Schillebeeckx, a experiência humana e a fé cristã são as duas fontes da teologia e devem ser consideradas em correlação. Sem a pergunta de sentido que surge da experiência humana, as respostas dos teólogos seriam vazias e desprovidas de significado. No entanto, quando a resposta cristã oferece uma "superabundância de sentido", esse sentido deve se integrar à experiência humana, que já está em busca de significado.

A fé cristã valoriza e reconhece a busca do ser humano por sentido e significado na vida. A resposta que a fé oferece é uma resposta à inquietação e à busca existencial do homem. A luz da revelação cristã traz uma superabundância de sentido que complementa e enriquece a experiência humana em sua busca por significado.

Portanto, a experiência humana não é apenas uma fonte de questionamento para a teologia, mas também um terreno fértil no qual a fé cristã pode encontrar ressonância e oferecer respostas significativas. A interação entre a experiência humana e a fé cristã é vital para a construção de uma teologia que seja relevante e significativa para as questões e desafios enfrentados pela humanidade.

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TEOLOGIA PENTECOSTAL

A diversidade do pentecostalismo em todo o mundo dificulta a definição de uma única teologia pentecostal, de acordo com Isael de Araújo. Ele observa que mesmo a teologia pentecostal clássica enfrenta desafios para se estabelecer, mas reconhece a existência de correntes teológicas pentecostais que merecem destaque.

A história da teologia pentecostal remonta à história da igreja e da teologia, especialmente durante a Reforma Protestante no século XVI. Este movimento buscava uma transformação profunda no catolicismo, e suas raízes remontam às primeiras discussões sobre a necessidade de mudanças na vida religiosa cristã. As discussões tiveram início com os valdenses, seguidores de Pedro Valdo, um comerciante de Lyon conhecido por traduzir a Bíblia para a linguagem popular e pregá-la publicamente, apesar de não ser sacerdote. Esse movimento ficou conhecido como Pré-Reforma.

Os Valdenses: Em Busca de um Cristianismo Puro

Os Valdenses, também conhecidos como Valdenses ou Valdenses, foram um grupo de cristãos que se separaram da Cristandade oficial durante a Idade Média em busca de uma forma de cristianismo mais puro e próximo aos ensinamentos evangélicos. Eles foram ativos principalmente na Europa Ocidental, especialmente na França, Espanha, norte da Itália e sul da Suíça.

A longa história dos Valdenses é comprovada por múltiplas fontes históricas, provenientes tanto do interior como do exterior do movimento. Alguns relatos sugerem que sua origem remonta aos tempos apostólicos, enquanto outros afirmam que existiam desde os dias do Papa Silvestre no século IV.

Os Valdenses baseavam sua fé e práticas exclusivamente na autoridade das Escrituras, rejeitando credos ou confissões de fé específicas. Eles acreditavam na justificação pela fé e negavam a ideia de obras meritórias como fonte de salvação.

A comunidade Valdense conseguiu preservar sua fé e práticas ao longo de vários séculos, principalmente devido à sua profunda fidelidade e compromisso com as Escrituras. Eles enfrentaram perseguições e lutas, mas mantiveram sua identidade e integridade teológica.

Os Valdenses representam um exemplo significativo de um movimento reformador dentro da Cristandade medieval, buscando retornar às raízes do cristianismo primitivo e resistindo à influência da igreja institucionalizada da época.

Neste período, vários indivíduos destacaram-se na defesa dos ideais de mudança que a igreja precisava experimentar. John Wycliffe, um teólogo inglês, Jerônimo Savonarola e John Huss, foram responsáveis por divulgar a rejeição de várias doutrinas católicas praticadas naquela época. Com o surgimento da Reforma Protestante no século XVI, Martinho Lutero e João Calvino destacaram-se como os principais pensadores da teologia, estabelecendo as "coordenadas" para uma nova interpretação das Sagradas Escrituras. O movimento da Reforma Protestante produziu cinco princípios fundamentais que se opunham aos ensinamentos da Igreja Católica Apostólica Romana.

Esses princípios, conhecidos como os Cinco Solas da Reforma Protestante, resumem as crenças fundamentais dos reformadores do século XVI e continuam sendo princípios centrais para muitas denominações cristãs hoje em dia. Aqui está uma breve explicação de cada um deles:

a) Sola Scriptura (Apenas a Escritura): Este princípio destaca que a Bíblia é a única fonte de autoridade para a fé e conduta cristãs. Os reformadores argumentavam que as tradições da igreja e o ensinamento humano não podem substituir ou estar acima da autoridade das Escrituras.

b) Sola Fide (Somente a Fé): Este princípio afirma que a salvação é alcançada somente pela fé em Jesus Cristo, e não pelas obras ou méritos humanos. A justificação diante de Deus é pela fé somente, e não por qualquer esforço humano.

c) Sola Gratia (Somente a Graça): Este princípio destaca que a salvação é concedida pela graça de Deus somente, e não por causa de qualquer mérito humano. Os reformadores enfatizavam que a salvação é um dom de Deus que não pode ser ganho ou merecido.

d) Solus Christus (Somente Cristo): Este princípio ensina que a salvação é encontrada somente em Jesus Cristo. Ele é o único mediador entre Deus e os seres humanos, e não há outro nome pelo qual podemos ser salvos.

e) Soli Deo Gloria (Somente a Deus a Glória): Este princípio declara que toda a glória deve ser dada somente a Deus. Ele enfatiza que todas as nossas ações e adoração devem ser direcionadas para a glória de Deus e não para a glória humana.

Esses Cinco Solas resumem os ensinamentos fundamentais da Reforma Protestante e continuam a ser importantes para muitos cristãos como princípios orientadores de fé e prática.

O Renascimento Espiritual nos Séculos XVII e XVIII

O período de reavivamento nos séculos XVII e XVIII trouxe mudanças significativas na compreensão e ênfase da vida cristã, especialmente em relação ao arrependimento, piedade e santificação. O impacto desses movimentos foi sentido tanto na Europa quanto na América do Norte e influenciou diversas tradições teológicas.

João Wesley e a Doutrina da Perfeição Cristã.

João Wesley, o fundador do Metodismo, desempenhou um papel fundamental nesse contexto, ensinando a doutrina da perfeição cristã, também conhecida como santificação ou segunda obra da graça. Segundo Wesley, após a conversão, os crentes poderiam experimentar uma nova dimensão espiritual que os libertaria de sua natureza moral imperfeita, capacitando-os a viver uma vida santa e livre do pecado. Seus ensinamentos tiveram um impacto significativo nos Estados Unidos, dando origem ao Movimento de Santidade, que enfatizava a busca por um comportamento santo e piedoso.

Diversidade de Ensinos e Ênfases.

Embora a teologia reformada tradicionalmente identificasse o batismo no Espírito Santo com a conversão, alguns reavivalistas, como Dwight L. Moody e R.A. Torrey, dentro dessa tradição, aceitaram a ideia de uma segunda obra da graça para revestir os cristãos com poder do alto. Este conceito foi também adotado por outros líderes, como A.B. Simpson, o criador da Aliança Cristã e Missionária, cujas ideias influenciaram a formação doutrinária das Assembleias de Deus. Simpson enfatizava o batismo no Espírito Santo como uma experiência distinta da conversão, destacando a importância do poder e da plenitude do Espírito na vida cristã.

Influência nas Denominações Cristãs.

Assim, o período de reavivamento foi marcado por uma diversidade de ensinamentos e ênfases, mas todos buscavam uma renovação espiritual e uma vida cristã mais profunda e poderosa. Esses movimentos contribuíram para o desenvolvimento de várias tradições cristãs e influenciaram a compreensão da santificação e do batismo no Espírito Santo em muitas denominações.

Origens do Movimento Pentecostal nos Estados Unidos

O movimento pentecostal nos Estados Unidos teve suas raízes no reavivamento do final do século XIX e início do século XX, especialmente na intensa busca pela experiência do batismo no Espírito Santo. Charles Fox Parham desempenhou um papel significativo nesse desenvolvimento ao promover estudos sobre o batismo no Espírito Santo, influenciado por suas próprias investigações sobre o Livro de Atos e pelas ideias de Irwin Sandford.

O Reavivamento em Topeka e a Glossolalia.

Em 1901, Parham testemunhou um notável reavivamento na Escola Bíblica Bethel, em Topeka, Kansas, onde ocorreram experiências de glossolalia, ou falar em línguas estranhas. Esse evento marcou o início do movimento pentecostal nos Estados Unidos. Parham fundou a Escola Bíblica de Houston, Texas, em 1905, onde um de seus alunos, William J. Seymour, um pregador negro vindo do movimento de santidade, foi convencido da importância da glossolalia como sinal do batismo no Espírito Santo.

A Missão da Rua Azusa em Los Angeles.

Seymour levou essa mensagem para Los Angeles, onde inicialmente pregou em uma igreja dos nazarenos, mas acabou sendo proibido de continuar devido ao escândalo causado pelas suas pregações. No entanto, Seymour persistiu e começou a realizar reuniões em uma casa, onde, em 6 de abril de 1906, ocorreu uma experiência de batismo no Espírito Santo, marcada por glossolalia, envolvendo oito pessoas.

Posteriormente, Seymour mudou-se para um antigo templo metodista na Rua Azusa, em Los Angeles, onde por três anos aconteceram reuniões incessantes. Esse local ficou conhecido como a Missão da Rua Azusa e é considerado o epicentro do movimento pentecostal moderno.

Os Dons Espirituais e a Contemporaneidade.

Os pentecostais acreditam na contemporaneidade dos dons espirituais, conforme descritos no Novo Testamento, (Lc 24.49; Mc 16.17; Jo 14.16; At 1.8). especialmente em Atos 2, onde o Espírito Santo foi derramado sobre os apóstolos no Dia de Pentecostes, manifestando-se através de línguas de fogo e capacitando-os a falar em outras línguas para comunicar o evangelho a uma multidão diversa. Entre os dons enfatizados pelos pentecostais estão a glossolalia, a cura divina e a profecia. Esses dons são vistos como evidências do batismo no Espírito Santo e continuam sendo praticados e valorizados dentro das denominações pentecostais até os dias de hoje.

Raízes do Movimento Pentecostal.

O movimento pentecostal reconhece suas raízes nos eventos do Pentecostes, conforme registrado em Atos 2, quando os discípulos de Jesus receberam o Espírito Santo conforme a promessa do Senhor. Esse acontecimento foi crucial para o surgimento do movimento pentecostal como o conhecemos hoje.

Avivamentos ao Longo da História Cristã.

Embora o termo "pentecostal" tenha se popularizado apenas no início do século XX, o movimento evangélico experimentou avivamentos e reavivamentos ao longo da história cristã. Durante a Reforma Protestante do século XVI, figuras como Martinho Lutero, João Calvino e John Knox desempenharam papéis importantes na renovação espiritual da igreja. No século XVIII, ocorreram movimentos de avivamento notáveis, como o Avivamento Morávio e o Grande Reavivamento na Inglaterra e na América, liderados por figuras como o Conde Zinzendorf, John Wesley, Charles Wesley e George Whitefield.

O Surgimento do Movimento Pentecostal.

O termo "pentecostal" se tornou proeminente no início do século XX, especialmente nos Estados Unidos da América, onde ocorreu um novo derramamento do Espírito Santo, semelhante à manifestação descrita em Atos 2. Esse movimento foi marcado por experiências de glossolalia (falar em línguas) e outros dons espirituais.

Desafios do Cessacionismo.

No final do século XIX, houve um aumento de ensinamentos equivocados sobre as Escrituras Sagradas, o que fortaleceu a teologia cessacionista. O cessacionismo é a crença de que muitos milagres e dons espirituais cessaram após a formação do cânon do Novo Testamento. Isso significa que alguns acreditavam que os milagres e dons espirituais eram necessários apenas para confirmar a autoridade divina dos ensinamentos de Jesus e dos apóstolos, registrados no Novo Testamento. No entanto, muitos pentecostais rejeitam essa visão e afirmam que os dons espirituais, como a glossolalia, continuam disponíveis para os crentes hoje, de acordo com a promessa do Espírito Santo feita por Jesus. A aceitação da inspiração plenária, inerrância e infalibilidade da Bíblia é fundamental para muitos pentecostais, que consideram a Bíblia como a autoridade máxima em questões de fé e prática.

Fundamentos Bíblicos da Teologia Pentecostal.

Stanley Horton (apud ICP), destaca que a Teologia Pentecostal encontra seus fundamentos nas Sagradas Escrituras e mantém uma afinidade teológica com os reformadores em relação às doutrinas essenciais da fé cristã. Ele argumenta que o estabelecimento da teologia pentecostal teve um papel crucial em deter o avanço das ideias liberais, ao dar destaque à manifestação dos dons espirituais, um ensino que havia sido negligenciado em discussões e textos teológicos anteriores.

A concordância entre a teologia pentecostal e a teologia reformada pode ser observada em diversos aspectos:

1.   Autoridade das Escrituras: Ambas as tradições reconhecem as Escrituras Sagradas, tanto do Antigo quanto do Novo Testamento, como completamente inspiradas por Deus, infalíveis em sua composição original e autoridade final em questões de fé e conduta.

2.   Doutrina da Trindade: Ambas afirmam a crença em um só Deus eterno, distinto em sua Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo (2 Tm 3:14).

3.   Natureza de Jesus Cristo: Tanto a teologia pentecostal quanto a reformada confessam que Jesus Cristo nasceu do Espírito Santo e da virgem Maria, sendo verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, e o único mediador entre Deus e a humanidade (Is 7:14; Rm 8:34; At 1:9; 1 Tm 2.4)

4.   Papel do Espírito Santo: Ambas reconhecem o Espírito Santo como o regenerador e santificador dos crentes, o doador dos frutos e dons espirituais, e o Consolador permanente e Mestre da Igreja. (Hb 9:14; I Pe 1:15-16; Lc 3:16; At 1:5; I Co 12:1-12).

5.   Condição Humana: Ambas reconhecem a corrupção humana resultante da queda de Adão e a necessidade da restauração da comunhão com Deus, que só pode ser realizada pela graça divina (Rm 3.23; At 3.19).

6.   Salvação pela Graça: Ambas afirmam que a salvação eterna é um dom de Deus, providenciado unicamente pela graça, e que a fé é o meio pelo qual os crentes se apropriam dos benefícios dessa graça (Rm 3.23; At 3.19; Jo 3:3-8; At 10:43; Rm 10:13; 3:24-26; Hb 7:25; 5:9; II Co 5:10).

7.   Ressurreição de Jesus e sua Segunda Vinda: Tanto a teologia pentecostal quanto a reformada confessam a ressurreição física de Jesus Cristo dentre os mortos, sua ascensão aos céus e sua futura volta para julgar a humanidade (Is 7:14; Rm 8:34; At 1:9; I Ts 4:16-17; I Co 15:51-54).

8.   Punição Eterna: Ambas reconhecem a punição eterna como destino final dos não regenerados e de Satanás com todos os seus anjos caídos (Ap 20:11-15; Mt 25:46).

9.   Natureza e Missão da Igreja: Ambas afirmam a natureza da Igreja Cristã como o corpo e a noiva de Cristo, consagrada à adoração e ao serviço de Deus, e sua missão de proclamar o Evangelho e fazer discípulos de todas as nações (Mt 28:19; Rm 6:1-6; Cl 2:12).

10.  A responsabilidade da Igreja é instruir todas as nações, de forma a que o Evangelho gere resultados em todos os aspetos da vida e do pensamento. A missão principal da Igreja é a salvação das almas. Deus transforma a natureza humana, tornando-se assim o meio para a redenção da sociedade (Mt 28:19-20).

Esses pontos de concordância demonstram que a teologia pentecostal compartilha muitos fundamentos essenciais com a teologia reformada, enquanto também enfatiza a experiência dos dons espirituais e a manifestação do poder do Espírito Santo na vida dos crentes.

Base Teológica do Movimento Pentecostal.

O pastor Claudionor de Andrade destaca que o Movimento Pentecostal não se baseia apenas em experiências individuais, mas também possui um sólido alicerce na reflexão bíblica. Ele ressalta que entre os primeiros crentes a receberem o batismo com o Espírito Santo havia não apenas pessoas simples e leigas, mas também excelentes teólogos. Como exemplos, ele menciona o pastor sueco Lewi Pethrus e o romancista Sven Lidman, ambos contribuindo significativamente para o embasamento teológico e cultural das igrejas pentecostais.

Contribuição de Teólogos Eminentes.

Lewi Pethrus, conhecido por suas habilidades poéticas, jornalísticas e exposições bíblicas, destacou-se como um dos pioneiros do movimento pentecostal, enquanto Sven Lidman, renomado na literatura sueca, também se juntou ao avivamento, tornando-se um influente pregador, teólogo e editor da revista Evangelii Harold. (ANDRADE, 2024).

Ampla Diversidade de Contribuidores.

Além disso, Claudionor menciona outros teólogos que contribuíram para fundamentar biblicamente a fé pentecostal, como Stanley Horton, Wayne Gruden, J. Rodman Williams e Gordon Fee. No contexto brasileiro, ele destaca o pastor Antonio Gilberto, que não apenas é um teólogo, mas também abriu caminho no campo da Educação Cristã.

Esses exemplos demonstram que o Movimento Pentecostal tem uma base teológica sólida e diversificada, refletida não apenas na experiência espiritual, mas também na reflexão acadêmica e na interpretação das Escrituras.

Importância dos Dons Espirituais na Igreja Contemporânea.

O Pastor Antônio Gilberto (2008. p.195), ressalta a importância da igreja contemporânea em conhecer, buscar, receber e exercitar os dons espirituais, reconhecendo que eles são uma provisão divina imensurável para o avanço, edificação, consolidação e vitória contra as hostes infernais, além de glorificar mais a Cristo.

Doutrina do Espírito Santo na Teologia Pentecostal.

Myer Pearlman (2004. p.225.), destaca que a doutrina do Espírito Santo ocupa um lugar de destaque entre as verdades redentoras, sendo mencionada em todos os livros do Novo Testamento, exceto as Epístolas 2 e 3 de João. Todos os Evangelhos iniciam com a promessa da vinda do Espírito Santo. No entanto, ele observa que esta doutrina é frequentemente negligenciada devido ao formalismo e ao medo do fanatismo, o que resulta em decadência espiritual, já que o Cristianismo vivo não pode existir sem o Espírito Santo. Pearlman cita Inácio, um pastor da igreja primitiva, que compara a graça do Espírito Santo à corda que coloca a máquina da redenção em movimento, possibilitando o avanço da vida espiritual individual e o crescimento da igreja de Deus pela fé e pelo amor.

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Bibliografia

ANDRADE, Claudionor de. A excelência teológica dos Pentecostais. Disponível em https://www.estudosgospel.com.br/estudo-biblico-evangelico-diversos/a-excelencia-teologica-dos- pentecostais-parte-1.html Acesso: 10.03.2024.

ARAÚJO, Isael. Dicionário do Movimento Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.

GILBERTO, Antônio. Teologia Sistemática Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2008.

ICP - Instituto Cristão de Pesquisas

PEARLMAN, Myer. Conhecendo as doutrinas da Bíblia. São Paulo: Vida, 2004.


A NECESSIDADE DE FAZER TEOLOGIA

 

A importância da teologia como ferramenta essencial para conhecer a Deus e compreender Sua revelação. Ele reconhece que muitas vezes a teologia é mal compreendida, sendo vista como algo que mata a religião ou que não é necessário para a vida da igreja. No entanto, o autor argumenta que é impossível conhecer a Deus sem estudar Sua revelação, que Ele fez de Si mesmo por meio de Suas obras e principalmente nas Santas Escrituras.

O trabalho da teologia parte do pressuposto de que Deus existe, que Ele pode ser conhecido de maneira limitada e que Ele se revelou por meio de Suas obras e das Escrituras. Portanto, fazer teologia não é inventar teorias sobre Deus, mas sim conhecer e compreender Sua revelação. Qualquer estudo de Deus que não tenha Sua revelação como base não pode ser considerado teologia genuína.

A Teologia como Tarefa Universal.

A teologia não deve ser vista como uma área restrita apenas a acadêmicos ou líderes religiosos, mas como uma tarefa de todos os crentes. Ele destaca que compreender as Escrituras e aplicar seus ensinamentos na prática é parte fundamental da teologia.

Importância do Conhecimento das Escrituras.

Jesus mesmo advertiu “... Errais, não conhecendo as Escrituras, nem o poder de Deus” (Mt 22.29) sobre a importância de conhecer as Escrituras, indicando que o erro surge da falta de conhecimento delas. Portanto, estudar teologia não é apenas uma atividade intelectual, mas uma forma de conhecer a Deus, já que Ele se revelou por meio da Escritura. Em Marcos, Jesus destaca a importância de conhecer as Sagradas Escrituras: “Porventura não errais vós em razão de não saberdes as Escrituras nem o poder de Deus?” (Mc 12.24).

Valor Inerente do Conhecimento de Deus.

O conhecimento de Deus é visto como algo intrinsecamente valioso e digno em si mesmo. Negar a teologia é, segundo o autor, recusar conhecer a Deus conforme Ele mesmo prescreveu. Assim, o estudo da teologia é considerado a atividade humana mais importante, pois dá significado a tudo que alguém possa pensar ou fazer.

Vincent Cheung (2022), argumenta que estudar teologia é fundamental por causa do valor intrínseco do conhecimento sobre Deus. Enquanto outras formas de conhecimento são meios para alcançar outros fins, o conhecimento de Deus é um fim digno em si mesmo. Como Deus se revelou por meio das Escrituras, conhecer a Bíblia é conhecer a Ele, o que significa estudar teologia.

Para Cheung, rejeitar a teologia é recusar conhecer a Deus da maneira que Ele prescreveu. O conhecimento das Escrituras, ou seja, conhecer a Deus através da teologia, deve estar acima de todas as outras preocupações da vida e do pensamento humano. Ele argumenta que a teologia dá significado a tudo o que alguém possa pensar ou fazer e é mais importante do que qualquer outra atividade humana. Portanto, para Cheung, o estudo da teologia é a atividade mais significativa e essencial para os seres humanos.

As quatro palavras gregas definidas pelo pesquisador Rubens Muzzio representam as principais funções da igreja no mundo, conforme orientadas pelas Sagradas Escrituras:

[a] Koinonia - Refere-se à comunhão entre os membros da igreja, expressando a união e o propósito compartilhado. Essa comunhão se baseia na participação em um projeto e um espírito comum, onde os cristãos compartilham da natureza divina, de Cristo e do Espírito Santo. Envolve amor mútuo, fé e salvação comum, e é essencial para a força e coesão da comunidade cristã.

[b] Kerigma - Significa a proclamação do evangelho a todas as pessoas em todo o mundo. É a missão principal da igreja, conforme ordenado por Jesus em Marcos 16:15. A teologia fornece ferramentas para os membros da igreja compartilharem eficazmente as verdades do evangelho, através da interpretação correta das Escrituras e da comunicação clara das boas novas de Cristo.

[c] Diakonia - Refere-se ao serviço generoso em relação ao próximo, incluindo a crítica profética das estruturas injustas e a defesa das condições sociais dignas e justas. Esse serviço não está limitado ao ministério pastoral, mas é uma responsabilidade de toda a igreja. A compreensão da diaconia vincula o serviço da igreja à sua missão de proclamar o evangelho e advogar por justiça social.

[d] Marturia - Trata-se do testemunho compartilhado pela igreja, conforme ordenado por Jesus em Atos 1:8. Isso inclui testemunhar sobre Cristo, proclamar o evangelho e defender a verdade revelada nas Escrituras. A palavra "testemunho" tem uma variedade de significados na Escritura, incluindo evidência, as tábuas da lei, a Arca, toda a lei de Deus, a Palavra de Deus dada a um profeta e o evangelho. O testemunho da igreja é essencial para transmitir a verdade de Cristo ao mundo.

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Bibliografia

CHEUNG, Vincent. Teologia Sistemática. Disponível em: https://monergismo.com/teologia-sistematica/ . Acesso: 29.02.2024.