QUEM SÃO OS FILHOS DE DEUS E AS FI-LHAS DOS HOMENS (GÊNESIS 6.1-8)?

Resposta.


Esta passagem de Gênesis tem sido objeto de intenso debate entre os teólogos, e ainda hoje há uma extensa controvérsia em torno dela.

Um aspecto central desse problema está relacionado ao significado da frase "os filhos de Deus".

Existem três interpretações principais desses textos. Uma delas defende que os "Descendentes de Caim" são representados pelas filhas dos homens, enquanto os "Piedosos Descendentes de Sete" são identificados como os filhos de Deus (versículo 4). Outra interpretação é a dos "Déspotas". E a terceira interpretação é a dos "Anjos Caídos".

PRIMEIRA Anjos caídos.

Anjos caídos são mencionados na Bíblia como filhos de Deus, conforme descrito em Jó 1.6; 2.1; 38.7 e Daniel 3.25. Acredita-se que estes anjos, ao se relacionarem com mulheres, deram origem aos gigantes mencionados no Antigo Testamento. Os descendentes destes anjos incluem os Emins (Gn 14.45), os filhos de Anaque (Nn 13.33), os Zanzumins (Dt 2.20), os Refaim (Dt 3.11) e os Gibor (Js 2.4; Js 12.4; 13.12; 1 Sm 17.45-47. 2 Sm 21.6,18,20,222; 1 Cr 20.4,6,8). No entanto, é importante notar que estes descendentes não devem ser confundidos com os gigantes mencionados em Gênesis 6.4. De acordo com Champlin, a expressão "Filhos de Deus" em Isaías 43.6 não se limita apenas a esses seres na Bíblia. No Novo Testamento, "filhos de Deus" é usado em referência a seres humanos, como visto em João 1.12, Romanos 8.14, Filipenses 2.15, 1 João 3.1 e Apocalipse 21.7.[i]. No NT “filhos de Deus” ocorre em referência a seres humanos, cf., (Jo 1.12; Rm 8.14; Fl 2.15; 1 Jo 3.1 e Ap 21.7). BROADMAN (1987) comentou que os estudiosos consideram como base para os anjos que atuaram nos dias de Noé as referências em 2 Pedro 2.4: "Porque, se Deus não perdoou aos anjos que pecaram, mas, havendo-os lançado no inferno, os entregou às cadeias da escuridão, ficando reservados para o Juízo"; e Judas 1.6: "e aos anjos que não guardaram o seu principado, mas deixaram a sua própria habitação, reservou na escuridão e em prisões eternas até ao Juízo daquele grande Dia". Ryrie (1991) comenta estes textos, enquanto Green (1983) alega que Pedro talvez tenha sido influenciado pelo acréscimo ao relato de Gênesis feito no Livro de Enoque, assim como faz o Evangelho segundo Pedro do século II. Green também sugere que Pedro pode estar aludindo a passagens em Enoque sobre o castigo dos anjos, tais como x.4-6; xviii.ll-xxi.10. (GREEN, 1983, p.94),[ii]  Alguns intérpretes sugerem que o texto se refere a uma lenda. De acordo com Champlin, os anjos não têm sexo, como Jesus mesmo afirmou (Mt 22.30). Mesmo que os anjos fossem capazes de se reproduzir, sendo espíritos imateriais, é difícil imaginar como poderiam produzir espermatozoides para a procriação física (CHAMPLIN, Enciclopédia Vol., 2, p.904). Além disso, é importante destacar que não há harmonia teológica ou linguística na relação entre Judá 6 e Gênesis 6.2,4, pois em nenhum momento Judá 6,7 faz referência aos filhos de Deus mencionados em Gênesis 6.2. Outro ponto a considerar é a necessidade de provar que os anjos de Gênesis são os anjos caídos antes de afirmar que são eles. Se assumirmos que são os anjos caídos, como poderiam ser filhos de Deus? Será que Satanás é filho de Deus? Em nenhum lugar a Bíblia afirma que Satanás é filho de Deus. Em Jó 1.6, os filhos são anjos bons, e em Jó 2.1, não se menciona que Satanás é filho. O capítulo 38.7 também não fala de anjos maus. A expressão "filhos de Deus" em nenhum texto bíblico se refere a anjos maus.    

De acordo com a teoria de serem anjos, estaremos apoiando a crença de que a mitologia grega descreve os titãs como seres híbridos nascidos da união entre Urano, representando o Céu, e Gaia, representando a Terra, dando origem a semideuses como Hércules e outros. Beacon comentou que em nenhuma parte das Escrituras há descrição de seres divinos corrompendo a humanidade, pois sempre agem de forma benéfica em suas relações com os humanos. Jesus foi claro ao afirmar que os ressuscitados "nem casam, nem são dados em casamento; mas serão como os anjos no céu" (Mt 22.30). (BEACON, p45)[iii]. Clarke afirma que os filhos de Deus, (Gn 6) e não anjos, como alguns têm interpretado. (CLARKE, vol. 1, p.58). Gostaria de partilhar um comentário citado por Clarke. "O Dr. Wall sugere que os primeiros versos deste capítulo devem ser parafraseados da seguinte forma: "Quando os homens começaram a multiplicar-se sobre a terra, os líderes tomaram esposas de todas as belas mulheres pobres que escolheram. Houve tiranos na terra naqueles dias, e também, depois dos dias antediluvianos, homens poderosos tiveram relações ilegais com mulheres inferiores, e as crianças que surgiram desse comércio ilícito foram os famosos heróis da antiguidade, dos quais os pagãos fizeram seus deuses." (CLARKE, vol. 1, p.58)[iv].

SEGUNDA –  Política.

Alguns estudiosos tentaram definir a expressão "os filhos de Deus" comparando-a com as línguas do antigo Oriente Próximo. É curioso saber que alguns líderes eram identificados como filhos de um deus em particular. No Egito, por exemplo, o rei era chamado de filho de Rá[1].

No Antigo Testamento, a palavra hebraica para Deus, Elohim, é usada para se referir a homens em posição de autoridade. Por exemplo, em Êxodo 21.6, é dito: "Então, o seu senhor o levará aos juízes que agirão em nome de Deus", conforme o comentário à margem da NASV.

Além disso, encontramos no Salmo 82.1 a afirmação de que "Deus assiste em Sua própria congregação; Ele julga em meio aos governantes", sendo que a palavra hebraica traduzida como "Deus" aqui pode se referir também a governantes ou autoridades. Essa interpretação, assim como a interpretação dos anjos caídos, remonta à antiguidade.

Segundo essa proposta, os "filhos de Deus" mencionados em Gênesis seriam nobres, aristocratas e reis. Esses líderes ambiciosos almejavam poder e riqueza, desejando alcançar fama e renome, como vemos em Gênesis 11.4. Seu pecado não seria uma questão de casamento misto entre diferentes grupos ou mundos, mas sim o desejo de poligamia e a formação de haréns, uma prática comum entre os déspotas orientais da antiguidade. Dessa forma, os "filhos de Deus" teriam transgredido seu papel como guardiães das ordenanças de Deus ao praticarem a poligamia e desrespeitarem as leis divinas para a conduta humana.[2]

No âmbito de Génesis 4 e 5, encontramos algumas evidências que podem ser interpretadas como apoio à perspetiva sobre os déspotas.. Por exemplo, Caim edificou uma cidade e deu a ela o nome de seu filho Enoque (Gênesis 4.17), sugerindo um ambiente urbano propício para o estabelecimento de dinastias. Além disso, Lameque é mencionado como tendo duas mulheres (Gênesis 4.19), o que, embora não constitua necessariamente um harém, pode ser visto como um passo nessa direção. Essa interpretação também define "as filhas dos homens" como mulheres em geral, e não apenas as filhas da linhagem de Caim.

No entanto, essa interpretação provavelmente não teria sido concebida sem os "problemas" criados pela posição sobre os anjos caídos. Embora os reis pagãos fossem frequentemente considerados como filhos de alguma divindade, nenhum rei israelita foi designado dessa forma. Embora nobres e algumas autoridades tenham sido ocasionalmente chamados de "deuses", não foram referidos como "filhos de Deus". Essa interpretação parece ignorar a definição precisa fornecida pelas Escrituras.

Para além disso, a noção de homens ávidos de poder, que procuram estabelecer uma dinastia através da formação de um harém, parece ser forçada nesta passagem. É questionável quem teria tirado essa ideia do próprio texto, a menos que a impusesse a ele. Além disso, a definição dos nefilins como meros homens violentos e tirânicos também parece inadequada, especialmente considerando a forma como são mencionados com deferência em outros versículos (cf. Gênesis 6.11, 12). Apesar de a interpretação dos déspotas ser menos violenta em relação ao texto do que a dos descendentes de Sete e Caim, ainda assim parece não ser apropriada. (Bob, 2020).[v]

TERCEIRA Espiritual

Os "filhos de Deus" referem-se aos descendentes de Sete, assim como às mulheres e homens em geral, sem estabelecer uma distinção entre a linhagem de Caim (cuja genealogia começa em Gênesis 4.17) e a linhagem de Sete (genealogia a partir de Gênesis 5.3), que se uniram em casamento com as filhas ou filhos de ambos os lados, como tem sido o caso desde Noé até hoje. Um exemplo disso é Esaú (Gênesis 26.34; 36.2; Juízes 14.7-16; Esdras 10.17; Malaquias 2.11). Embora alguns afirmem que em nenhum lugar os descendentes de Sete são chamados de "os filhos de Deus", também em nenhum lugar os anjos maus são mencionados como filhos de Deus.

Embora existam passagens que descrevam anjos comendo (Gênesis 18.1-8), aparecendo na forma de homens "de guerra" (Josué 5.13-15), e lutando (Gênesis 32.22-32), não há menção deles tendo relações. Mesmo que alguém argumente que em Gênesis 6.2 eles tiveram relações, o texto e o contexto não afirmam isso claramente. O texto indica que os homens "tomaram para si mulheres, as que, entre todas, mais lhes agradaram" (ARA) ou "escolheram as que eles quiseram e casaram com elas" (NTLH). Além disso, esses homens conviviam com as mulheres, enquanto todos os anjos mencionados na Bíblia passam pouco tempo com os seres humanos.

Outro ponto a ser considerado em Gênesis 6.4 é que "havia gigantes na terra naquele tempo" (ou seja, antes dos filhos de Deus terem relações com as filhas dos homens), e também depois, quando os filhos de Deus tiveram relações com as filhas dos homens e estas lhes deram filhos. Esses gigantes foram os heróis dos tempos antigos, homens famosos. Em todo o contexto de Gênesis, não há menção de anjos, apenas de homens.

V. 3 “O meu Espírito não agirá para sempre no homem

V. 5 “Viu o SENHOR que a maldade do homem

V. 6 “então, se arrependeu o SENHOR de ter feito o homem

V. 7 “Farei desaparecer da face da terra o homem que criei, o homem e o animal, os répteis e as aves dos céus; porque me arrependo de os haver feito” Aqui menciona toda a criação excerto o anjo.

V. 13 “Resolvi dar cabo de toda carne, porque a terra está cheia da violência dos homens... ”.

V. 17 “dilúvio sobre a terra para consumir toda carne

Cap. 7.21 “Pereceu toda carne que se movia sobre a terra, tanto de ave como de animais domésticos e animais selváticos, e de todos os enxames de criaturas que povoam a terra, e todo homem”. Aqui menciona toda a criação excerto o anjo.

V.22 “Tudo o que tinha fôlego de vida em suas narinas, tudo o que havia em terra seca, morreu”.

Vamos considerar o seguinte: se afirmarmos que os gigantes surgiram devido à relação entre anjos e mulheres, então não deveríamos ter visto gigantes na história humana (após o dilúvio). como os Emims (Gênesis 14.5), os filhos de Anaque (Números 13.33), os Zanzumins (Deuteronômio 2.20), os Refains (Deuteronômio 3.11), e os Gibborins (Josué 2.4; 12.4; 13.12; 1 Samuel 17.45-47; 2 Samuel 21.6, 18, 20, 22; 1 Crônicas 20.4, 6, 8). Além disso, o texto de Gênesis 7.22 confirma que ninguém escapou do dilúvio, o que sugere que os gigantes não poderiam ter sobrevivido.

Outro ponto a ser observado é que só é mencionada uma queda de anjos. Se os "filhos de Deus" em Gênesis 6 fossem anjos, então estaríamos afirmando que houve duas quedas de anjos.

Uma outra interpretação é que os "filhos de Deus" eram seres espirituais influenciando os descendentes de Sete a se unirem com os descendentes de Caim, como vemos ao longo da história humana, onde os demônios têm tentado influenciar os crentes a se unirem de forma desigual na família. Neste caso, não seriam anjos propriamente ditos, mas sim seres espirituais influenciando os seres humanos.

No entanto, é reconfortante saber que o texto de Judas 1.6,7 e 2 Pedro 2.4 está a referir-se a Génesis 6.2,4, pois os anjos caídos nunca foram chamados de filhos de Deus na Bíblia. Se olharmos para os textos que falam de anjos como filhos de Deus, referem-se aos anjos bons. 

Vamos analisar. 1) Anjo não tem sexos, Mateus 22.29,30, ao analisarmos este texto entendemos que as paixões e os apetites sexuais são especificamente manifestações do corpo e não dos anjos celestiais. E precisa de esperma; até hoje a ciência não consegue gerar filho se não for com esperma do homem.  2) Não foi da união entre os "filhos de Deus” e as “filhas dos homens” que nasceram os gigantes. Pelo contrário. Eles já existiam antes desse acontecimento. Vejamos. “Havia, naqueles dias, gigantes na terra; e também depois, quando os filhos de Deus entraram às filhas dos homens e delas geraram filhos; estes eram os valentes que houve na antiguidade, os varões de fama” (6.4). 3) os descendentes de Sete “invocavam o nome do Senhor", tal como o próprio Sete (4.26). Ou seja, possuíam comunhão com Deus. Andavam com Deus, como Enoque (5.22-24). 'Acharam graça diante do Senhor", como Noé (5.29; 6.8). E obtiveram “testemunho de que agradaram a Deus e se tomaram herdeiros da justiça que é segundo a fé" (Hb 11.5,7). 4) nenhum anjo do sexo feminino é mencionado nas Escrituras”. Comentado pela Bíblia apologética 2018[vi].



[1] “No antigo Egito, o rei era conhecido como o filho de Ra (o deus-sol). O rei Sumério-Acadiano era considerado descendente da deusa e de um dos deuses, e essa ligação com a divindade remonta aos primórdios, de acordo com Engell. Uma inscrição refere-se a ele como "o rei, o filho do seu deus". O rei Hitita era chamado de "filho do deus-tempo", e o título de sua mãe era Tawan-nannas (mãe do deus). Na região semítica noroeste, o rei era diretamente chamado de filho de deus, e o deus era chamado de pai do rei. O texto Ras Shamra (Ugarítico) Krt refere-se a deus como pai do rei e o rei Krt como Krt bn il, o filho de el ou o filho de deus. Assim, com base no uso semítico, o termo "filhos de deus" ou "filhos dos deuses" provavelmente refere-se aos governantes da dinastia de Gênesis 6. Fonte: An Exegetical Study of Genesis 6:1-4, Journal of the Evangelical Theological Society, XIII, inverno 1970, pp. 47-48, como citado por Kober, p. 19.

[2] Kober, p. 16, citando Birney, p. 49 e Kline, p. 196.



[i] CHAMPLIN, p.58.

[ii] Green, Michael. M. A., B. D. Introdução e Comentário 2Pedro e Judas. Ed. Mundo Cristã, 1983.

[iii] LIVINGSTON, George Herbert, B.D., Ph.D. Comentario de Beacon.Vol.1 – Pentateuco. CPAD. 4a Impressão/2012.

[iv] CLARKE, AT,  vol. 1. p 58.

[v] BOB, Robert L. Disponível em: < https://bible.org/seriespage/os-filhos-de-deus-e-filhas-dos-homens-g%C3%AAnesis-61-8> acessado em: 08 Fev. 2020.

[vi] Bíblia Apologética. Instituto Cristão de Pesquisas. 2º Ed. 2005. 

A CURA DOS DOIS CEGOS Mt 20.29-34

Era dois ou um?

Ele estava saído ou entrando em Jericó?

Pois, de acordo com Mateus 20.29-34, havia dois cegos, e Jesus estava a sair de Jericó. No entanto, Marcos 10.46-52 e Lucas 18.35-43 mencionam apenas um cego. Marcos afirma que Jesus estava a sair, e Lucas que Jesus estava a entrar.

O comentarista KRETZMANN, em seu livro "Comentário Bíblico Lucas", afirma que Jesus já havia cruzado o Jordão, passando da Peréia para a Judéia, e se aproximava da cidade de Jericó. Perto desta cidade, Jesus curou dois cegos, como relata Mateus, um antes de entrar na cidade, do qual Lucas fala, e um após deixar a cidade, cuja cura Marcos relata.

Já em Marco ele nos da melhor explicação

Marcos conta a cura do homem cego no caminho para fora de Jericó.

Lucas relata a cura de um homem cego antes de entrarem na cidade (Lc 18.35). E Mateus combina os dois milagres num único relato (Mt 20.29).

Outro comentarista - CHARLES CALDWELL R.

Mateus 20.29-34, as diferenças. Entre este relato (que menciona dois cegos e o milagre que aconteceu enquanto Jesus saía de Jericó) e os relatos de Lucas 18.35-43 e Marcos 10.46-52 (o qual é mencionam um cego e o milagre acontecendo enquanto Jesus chegava a Jericó) são assim explicadas. (1) havia de fato dois cegos, sendo que Bartimeu, por ser mais enérgico, teve proeminência; e, 2) os cegos começaram a pedir a cura quando Jesus entrou na cidade, mas só foram curados quando ele deixou a cidade. Também é possível que a cura se tenha realizado quando Jesus saía da velha Jericó. A que Josué derrubou e entrado na nova Jericó. (Bíblia, 1994).

Exatamente o que aconteceu, vamos reunir estes três relatos de três autores, e descobriremos que não há controvérsia. Vamos analisar os textos de forma cuidadosa. Como fazer? É simples. Comece com uma oração pedindo a orientação do Espírito Santo (Jo 14.26). Encontre um local tranquilo, onde não haja distrações, pegue um caderno e uma caneta, ou um computador.

    Leia a história nos três livros. Em Mateus 20.29-34, descobrimos que havia dois cegos sentados à beira do caminho (v. 30), ambos clamavam por Jesus (v. 30). Jesus não estava sozinho, havia uma multidão com Ele (v. 31). Ao ouvir os cegos clamarem, Jesus parou e os mandou chamar (v. 32). Quando chegaram, Ele perguntou o que desejavam (v. 32), e os dois pediram para recuperar a visão (v. 33). Jesus os tocou, e eles foram curados (v. 34).

Agora, ao ler Marcos 10.46-52, descobrimos que Jesus estava saindo de Jericó com os discípulos e uma grande multidão (v. 46). O nome de um dos cegos era Bartimeu, filho de Timeu, que mendigava à beira do caminho (v. 46). A multidão tentou silenciá-lo, mas Bartimeu clamava mais alto (v. 48). Ele tinha uma capa (v. 50), e ao ser curado, seguiu Jesus (v. 52).

    Por fim, em Lucas 18.35-43, vemos Jesus chegando à cidade de Jericó (v. 35). Houve uma altercação, e Marcos relata que Jesus estava saindo (v. 46). Aparentemente, Jesus não viu os cegos, mas apenas ouviu falar deles, perguntando aos que passavam (v. 37). Provavelmente, Bartimeu fez a pergunta. Os cegos não foram atendidos imediatamente; eles tiveram que acompanhar a multidão (v. 39). Antes da cura, Bartimeu tinha visão perfeita (v. 41, 43), confirmando o que Marcos relatou no versículo 51. Após a cura, o povo louvou a Deus (v. 43).

Essa análise nos ajuda a entender melhor a harmonia entre os relatos dos evangelhos, mesmo que haja algumas diferenças de detalhes.

    Ao reunir e analisar as passagens, podemos chegar a uma conclusão mais clara sobre o evento. Jesus partia de Jericó com uma multidão numerosa juntamente com os seus discípulos. Nas proximidades do caminho, havia dois cegos pedindo esmola, e ao perceberem a passagem de Jesus, eles perguntaram à multidão quem era aquele que passava. A multidão respondeu que era Jesus de Nazaré.

     Os dois cegos começaram a clamar por Jesus, e mesmo sendo repreendidos por alguns, continuaram insistindo. Jesus, próximo de entrar na cidade de Jericó, sentou-se e enviou um de seus discípulos para chamá-los. O discípulo os chamou, dizendo que o Mestre os convocava. Bartimeu soltou sua capa, levantou-se e foi com o outro cego até Jesus.

     Quando chegaram, Jesus perguntou o que eles queriam que Ele fizesse por eles. Eles responderam que queriam recuperar a visão. Então, Jesus os tocou nos olhos, e foram curados. A multidão ficou maravilhada e começou a louvar a Deus, e os dois cegos também louvaram e seguiram a Jesus.

Um ponto importante a se observar é que Bartimeu, antes de receber a cura, tinha a visão saudável, mas depois ficou cego. No entanto, Jesus restaurou sua visão completamente. Essa análise nos ajuda a entender melhor o contexto e os detalhes do milagre realizado por Jesus naquele momento.

 

Bibliografia

Bíblia. (1994). CharlesCaldwell Ryrie. SP: MC.
Kretzmann, P. E. (1916). Comentário Bíblico Kretzmann (Vol. 4).

A QUEM JOSÉ FOI VENDIDO?

 Resposta.

Muitos leitores sentem-se confusos com o facto de que, no versículo 36, é mencionado o nome midianitas, enquanto no versículo 25 e na parte final do versículo 28 é mencionado o nome ismaelitas.

 Alguns estudiosos presumem que existam duas histórias do incidente entrelaçadas aqui. No entanto, trata-se apenas de dois nomes para se referir aos mesmos homens - descendentes de Abraão e com hábitos nómadas e comerciantes. Os midianitas são novamente identificados como ismaelitas em Juízes 8.22-24, como comentado em Beacon. (MULDER, 2012, p. 108)[i] 

Segundo Souza (2007, p. 239), [ii] os ismaelitas são os descendentes de Ismael, filho de Abraão com Agar (16.15), enquanto os midianitas são os descendentes de Midiã, filho de Abraão com Quetura (25.2). Portanto, tanto os ismaelitas quanto os midianitas eram descendentes de Abraão, embora não pertencessem à linhagem da promessa. É possível que o grupo fosse composto por ambos, como sugerido por Moody (p. 92). [iii]

Thomas Coke sugere que se tratava de "Uma companhia de ismaelitas — Eles são chamados de ismaelitas e midianitas. Veja Gênesis 37.28 e Juízes 8.1. É muito provável que eles fossem uma caravana de comerciantes de especiarias árabes, composta por midianitas e ismaelitas" (THOMAS, 2019).[iv]

De acordo com Wenham (p. 109), [v] os ismaelitas, também conhecidos como midianitas (Gênesis 28.36; 39.1), parecem ter sido usados alternadamente aqui (Gênesis 37.28; 39.1; 8.24). "Ismaili" significa comerciante nômade, e "Midian" é a tribo envolvida; os midianitas eram uma sub-tribo ou um grupo de tribos chamado ismaelitas.

Este capítulo apresenta uma oportunidade para analisar fontes, especialmente nos versículos 25 a 36. O problema central surge com o aparecimento repentino dos midianitas no versículo 28, quando, com base nos versículos 25 a 27, esperava-se que fossem ismaelitas. Embora Juízes 8.24 mencione que os midianitas também eram conhecidos como ismaelitas, neste caso, esperava-se que fosse usado um artigo para identificar claramente os midianitas (ALIEN, 1987, p. 311).[vi] 

Pode-se presumir naturalmente que esta era uma caravana composta por diferentes tribos que, para sua segurança, viajavam juntas, e os ismaelitas e midianitas formavam a liderança. No caldeu, eles são referidos como árabes, que, derivando da palavra árabe para misturar, provavelmente foi usada pelo Targumista da mesma forma que usamos a palavra árabes, que abrange uma grande variedade de clãs ou tribos. O Targum Jerusalém os chama de Sarkin, o que chamamos de sarracenos. No persa, a cláusula é traduzida como "Uma caravana de ismaelitas árabes veio". Isso parece transmitir o verdadeiro significado (CLARKE, p.167).[vii] 

A análise crítica, que divide esse relato em duas narrativas discordantes, criando dificuldades, é altamente improvável. Midianitas... ismaelitas (v. 28). Esses comerciantes são chamados de midianitas e ismaelitas em nossa versão. Contudo, a palavra utilizada para descrever os "midianitas" no versículo 36 é distinta daquela empregue no versículo 28. Todos esses três grupos, portanto, descendiam de Abraão e pareciam ter a mesma ocupação. É possível que homens de todas as três famílias estivessem naquela caravana comercial. Alguns estudiosos interpretam esses versículos como indicando que os irmãos venderam José aos ismaelitas, e os ismaelitas o venderam aos midianitas, que por sua vez o venderam a Potifar (Davidson, 1997, p. 167).[viii] 

Os ismaelitas e midianitas são mencionados de forma intercambiável nos versículos 25 a 36. No versículo 36, eles são chamados de "Midianitas", enquanto os Targuns e a versão siríaca os denominam "árabes". Midiã era filho de Abraão com Quetura, enquanto Ismael era filho de Abraão com Hagar. Tanto os estudiosos antigos quanto os modernos têm debatido essas variantes, e alguns até sugeriram que José foi vendido mais de uma vez - de seus irmãos para os ismaelitas e, em seguida, dos ismaelitas para os midianitas - antes de chegar ao Egito. Por outro lado, pode-se considerar que havia uma mistura de povos, apesar de suas origens distintas, e é possível que o autor sagrado não tenha sido meticuloso no uso de adjetivos pátrios (Champlin, 2001, p. 238).[ix] 

De acordo com esses comentaristas, os ismaelitas que estavam com os midianitas compraram José, mas agora surge a questão: ele foi vendido aos midianitas?



[i] MULDER, O. Chester; R. Clyde Ridall; W. T. Purkiser; Harvey E. Finley; C. E. Domaray. Comentário Bíblico Beacon: Josué a Ester. O livro de Juizez Vol. 2. Ed. Rio de Janeiro. 4a Impressão 2012.

[ii] SOUZA, Itamir Neves de “COMENTÁRIO BÍBLICO ATRAVÉS DA BÍBLIA GÊNESIS”: Rádio Trans Mundial, SP, 2007.

[iii] MOODY, Gênesis, p 92.

[iv] THOMAS, Disponível em: <https://bibliacomentada.com.br/biblia/genesis-capitulo-37-versiculo-25-comentado-por-versiculo.html> acessado em: 02 Jun. 2019.

[v] WENHAM. J. A. MOTYER | G. J D. A. | CARSON R. T. FRANCE “Comentário Bíblico. Editora: Vida Nova.

[vi] ALIEN, Clifton J. “Comentário Bíblico Broadman: Velho Testamento”, Tradução de Adiei Almeida de Oliveira. vol. 1. JUERP 1987.

[vii] CLARKE, Adam “Comentário PENTATEUCO - vol. 1.

[viii] DAVIDSON, Francis. O novo comentário da Bíblia. 3. ed. São Paulo: Vida Nova, 1997.

[ix] CHAMPLIN, R. N. O Antigo Testamento interpretado: versículo por versículo: vol. 1. São Paulo: Hagnos, 2001.

JUDAS MORREU ENFORCADO OU FOI MORTO POR DEUS?

JUDAS MORREU ENFORCADO?

Então ele, atirando para o templo as moedas de prata, retirou-se e foi-se enforcar” (Mt 27.5).

OU FOI MORTO POR DEUS?

Ora, este [Judas Escariotes] adquiriu um campo com a recompensa da iniquidade; e, precipitando. Se, rompeu-se pelo meio, e todas as suas entranhas se derramaram” (At 1.18).

Resposta.

Mateus afirma que Judas se enforcou, enquanto Lucas diz que ele caiu e se rompeu. Os detalhes vividos em Atos podem ser a narrativa do que aconteceu algum tempo após a morte de Judas por enforcamento, quando seu corpo já decomposto foi derrubado da forca ou se desintegrou devido à decomposição.

Alguns comentaristas acreditam que Judas se enforcou, mas a corda ou o ramo da árvore onde estava amarrada teria quebrado. Existem dois relatos sobre a sua morte. (WIKIPÉDIA, 2014).[i]

Norman Geisler e Thomas Howe, no "Manual Popular de Dúvidas, Enigmas e Contradições da Bíblia", esclarecem que os relatos sobre a morte de Judas não são contraditórios, mas sim mutuamente complementares. De acordo com Mateus, Judas se enforcou, o que é confirmado pelo relato em Atos, que acrescenta detalhes sobre a forma como sua morte ocorreu. Em Atos, é mencionado que Judas caiu, e seu corpo se rompeu pelo meio, com suas entranhas se derramando. Geisler e Howe explicam que esse resultado é exatamente o que seria esperado de alguém que se enforcasse em uma árvore sobre um penhasco de rochas pontiagudas, como descrito no relato bíblico. Portanto, esses relatos não contradizem um ao outro, mas se complementam, fornecendo uma imagem mais completa dos eventos que levaram à morte de Judas. (GEISLER 1999, p. 228).[ii]

Gleason Archer enfatiza de forma mais incisiva o relato sobre Judas nos textos de Mateus 27.3-10 e Atos 1.18. Ele destaca o remorso de Judas por trair Jesus, expressando sua tentativa de devolver as trinta moedas de prata aos sacerdotes no templo. No entanto, ao serem recusadas, Judas atira as moedas no chão e se enforca, conforme o relato de Mateus. Em Atos, Pedro recorda o fim vergonhoso de Judas e sua subsequente morte em um campo, descrevendo como seu corpo foi partido ao meio e suas entranhas se derramaram.

Archer explora a possibilidade de ironia na declaração de Pedro sobre Judas ter "comprado um campo", sugerindo que poderia ser um cemitério onde Judas encontrou sua morte. Ele também aponta para a condição perigosa da árvore onde Judas se enforcou, à beira de um precipício, destacando que o impacto da queda poderia ter levado ao desprendimento do galho e ao subsequente despedaçamento do corpo de Judas.

Além disso, Archer sugere que condições climáticas adversas, como ventos fortes e um possível terremoto, contribuíram para o desfecho trágico do suicídio de Judas. Esses eventos naturais teriam criado o ambiente propício para o galho se romper e o corpo de Judas cair no abismo, resultando em seu terrível fim.

Dessa forma, Archer oferece uma análise detalhada do relato bíblico, considerando os aspectos históricos e geográficos envolvidos na morte de Judas, proporcionando uma compreensão mais profunda desse evento trágico. (WOODY, 2013).[iii] 



[i] WIKIPÉDIA. Disponível em: <Wikipédia, a enciclopédia livre. http://pt.wikipedia.org/wiki/Judas_Iscariotes> acessado em: Mar. 2014.

[ii] GEISLER, Norman Geisler e Thomas Howe - Manual Popular de Dúvidas, Enigmas e Contradições da Bíblia. Editora. Mundo Cristão. SP. 1999.

[iii] WOODY, Tiago. Disponível em: <http://ovrbo.blogspot.com.br/2013/06/como-foi-morte-de-judas-iscariotes.html> acessado em. Mar.2014.

SANSÃO SE-SUICIDOU?

A bíblia diz que os homicidas, não faz parte do reino de Deus.  Como ficou a situação de sansão, ele vai ser salvo? Vai habita com os salvos?

Resposta.

 Existem vários exemplos de suicídio na Bíblia, como o caso de Saul em 1 Samuel 31.4, Judas (Mt 27.5; At 1.18) e Abimeleque (Jz 9,54), mas nenhum deles foi aprovado por Deus. No entanto, Sansão cometeu suicídio aparentemente com o consentimento do Senhor.

Sansão não pôs fim à sua própria vida; ele sacrificou-se pelo seu povo. Existe uma grande diferença.

Saul escolheu a morte, dizendo: "para que porventura estes incircuncisos não venham e me traspassar e escarnecer de mim" (1Sm 31.4).

Abimeleque buscou a morte e disse ao seu escudeiro: "mata-me, para que não se diga que uma mulher me matou" (Jz 9.54).

Judas tirou a sua própria vida em Mateus 27:5, "foi-se enforcar", e em Atos 1.18 diz que ele "precipitou-se".

O suicídio é um ato de "autoeliminação". O que Sansão fez foi sacrificar a sua vida pelos outros - pelo seu povo. O ato de Sansão foi uma forma de auto sacrifício, assim como o ato de Cristo, quando ele disse: "o bom pastor dá a vida pelas ovelhas" (Jo 10.11), ele sabia que se fosse para Jerusalém seria morto. De fato, "ninguém tem maior amor do que este, de dar alguém a própria vida em favor dos seus amigos" (Jo 15.13). Sansão pediu permissão a Deus para morrer e orou: "Morra eu com os filisteus" (Jz 16.30).

O soldado que se atira sobre uma granada para salvar a vida de seus companheiros não está cometendo suicídio; ele está sacrificando a sua vida pelos outros. Certa vez, um pai saiu para pescar com seu filho, e quando o barco começou a pegar fogo, ele percebeu que seu filho estava no porão do barco. Ele pensou: "Se eu pular do barco, vou me salvar, mas meu filho morrerá". Então ele desceu até o porão e conseguiu salvar seu filho, mas acabou gravemente ferido e não resistiu aos ferimentos, vindo a falecer; ele deu a sua vida pelo seu filho, portanto não foi um suicídio. Quem ama dá a sua vida: "dou a minha vida" (Jo 10.15).

Paulo deixou isso evidente no seu grande capítulo acerca do amor. "e ainda que entregue o meu próprio corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada disso me aproveitará" (1Co 13.3).

Cristo não cometeu suicídio, tendo ele vindo para "dar a sua vida em resgate por muitos" (Mc 10.45).

Embora a Bíblia não contenha um texto específico que declare explicitamente que Sansão foi salvo, sua história pode ser interpretada de maneira a sugerir que ele será incluído entre os salvos na mesa com Abraão, Isaque e Jacó, como mencionado em Mateus 8:11(GEISLER 1999).[i]



[i] GEISLER, Norman e Thomas Howe. Manual Popular de Dúvidas, Enigmas e Contradições da Bíblia. Tradução: Milton Azevedo Andrade. Editora: Mundo cristão, SP. 1999.


DESVENDANDO ATOS 9.7 e 22.9

Os soldados que estavam com Paulo ouviram o som da voz, mas não entenderam as palavras que Jesus falou com ele. Isso é mencionado em Atos 9.7: "Os homens que viajavam com ele pararam em silêncio, ouvindo a voz, mas sem ver ninguém." Mais tarde, em Atos 22.9, Paulo relembra o evento, afirmando que os homens que estavam com ele viram a luz, mas não ouviram a voz daquele que falava com ele. 

Os soldados que estavam com Paulo ouviram ou não ouviram o que Jesus falou com PAULO? Atos 9.7 e 22.9.

No primeiro caso, os soldados (acompanhantes) de Paulo "ouviram a voz", enquanto no segundo caso, referindo-se ao mesmo acontecimento, está registado que eles "não ouviram a voz".

Resposta:

No momento em que Jesus apareceu a Saulo no caminho de Damasco, rodeando-o de uma luz e dizendo-lhe: "Saulo, Saulo, por que me persegues?", os soldados ouviram a voz, mas não viram a pessoa (At 9.7.)  Texto de Atos 22.9, segundo algumas traduções como, por exemplo, a Versão da Imprensa Bíblica Brasileira e a edição em espanhol de Casiodoro de Reina, 1569 (revisada em 1602, 1909 e 1960, pela SBB), registram: "...mas não entenderam a voz..."; em vez de "...não ouviram a voz..."; na versão do Pont. Inst. Bíbl. "de quem falava comigo". A tradução alemã de Leander van Ess: "Pois ouviram deveras o som, mas não viram ninguém" (versão de Huberto Rohden). A Versão brasileira traduz isso de modo a mostrar que os homens ouviram a voz, mas não ouviram "as palavras de quem" falava com Paulo. A Tradução do Novo Mundo diz que os homens ouviram "o som duma voz", mas "não ouviram (ouviram com entendimento, margem da ed. ingl. Revisão 1986) a voz daquele que falava" com Paulo.

Em Atos 26.13,14, são fornecidas mais informações, como o fato de que a luz também envolveu os companheiros de Saulo. Paulo afirma que uma voz falava em hebraico. Os soldados que estavam com Paulo eram romanos e o idioma deles era o grego, que era a língua comum daquela época. Em resumo, a primeira declaração é que eles ouviram um som; a segunda é que não entendiam o que estava sendo dito, exatamente porque a língua que Cristo falou com Paulo foi hebraica. Como se pode ver, os textos não se contradizem.